Sentia-me zonzo com os
cheiros
Que brotavam de suas mãos
No Natal.
Hoje, procuro esses
cheiros, em vão,
E apenas as fotografias,
Transformam os cheiros em
lágrimas.
Lágrimas recheadas pela
saudade,
Como sonhos, rabanadas e
bolo-rei,
Hoje, o silêncio poisa
sobre a mesa,
A mesa é outra, mas
faltam algumas fotografias,
Hoje, são poeira,
Canção caminhando no
Universo,
Paralelo, cubo,
triângulo,
Hoje, acorda a ira,
Como se fosse uma nuvem em
papel,
Voando em direcção ao
mar.
Nasci pertinho do mar,
Junto à solidão dos
macacos,
Havia gladíolos
envenenados,
Havia bananeiras em cio,
Como as gaivotas
passeando-se sobre a baía.
Sentia-me zonzo com os
cheiros
Que brotavam de suas mãos
No Natal,
Tínhamos dentro de nós
O pesadelo de um futuro
amaldiçoado,
Não distante,
Mas sempre ausente.
Hoje, olho todas estas
fotografias,
São apenas imagens,
lugares, pó…
Apenas pó…
Francisco Luís Fontinha
Alijó, 24/12/2021