Jazem
na minha mão as palavras da saudade.
O
mar alicerça-se no quadriculado caderno da madrugada,
Sílabas
loucas,
Corações
abandonados, numa esplanada de areia,
Esqueletos
vadios,
Cansados
de viver,
A
luz traz as amoreiras em flor,
Mártir
silêncio dos poemas adormecidos,
A
paixão dos mortos,
Quando
um barco se perde no Oceano,
O
marinheiro afoga-se no poema,
Lê
em voz alta, para todos ouvirem, os mandamentos das gaivotas,
E,
sem regressar, procura o sexo na escuridão.
Salta
da maré um pequeno veleiro adormecido,
De
lágrimas nos olhos, grita pelas almas que partiram,
Ninguém
o ouve; a luz.
Todas
as manhãs, antes de acordar, o marinheiro chora pelos que partiram,
Ao
longe, uma bandeira em demanda,
Sofre,
grita,
Mas…
não adianta.
Pelos
vistos, os mortos não regressam nunca ao local de partida.
O
corpo escurece,
Derrete
nas pálidas madrugadas, quando do silêncio, uma criança brinca no convés do
navio,
Todos
os barcos, loucos,
Internados
em Psiquiatria,
Enfermaria
azul, cama vinte e cinco,
Drageias
para todos os navios,
Não
dormem,
Mas…
sofrem.
Sofrem
de quê?
Do
silêncio,
Da
solidão que provoca o silêncio.
O
amor nasce entre os cortinados do camarote,
Na
enfermaria, um dos barcos internado, grita pelo enfermeiro;
SOCORRO!
E,
ninguém. Ninguém o ouve.
Apenas
o comandante está autorizado nas visitas, poucos minutos, servem para
acariciar-lhe as âncoras da tristeza,
QUERO
SAIR DAQUI.
Todos
o queremos.
Uns,
mais, outros, menos.
Mas
os barcos são teimosos, e, firmemente, alegremente, fogem…
E,
só a paixão dos mortos consegue sobreviver ao destino.
Sofre.
Grita.
Zurra
nas amêndoas em flor, descendo socalcos,
Subindo
rochedos,
E
outros demais silêncios.
A
loucura pertence aos pássaros,
E,
aos barcos.
Torna-se
na viagem mais inclinada do Universo,
Quando
todos sabemos, que o mar, os pássaros e, os barcos,
Morrem.
Morrem
nas clandestinas sanzalas do silêncio.
Francisco
Luís Fontinha – Alijó
24/01/2020