quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Dentro de um livro



(Francisco Luís Fontinha – Agosto/2015)
 
 
Conheci-te numa noite de aniversário,
Percebi que havia uma janela no teu sorriso
E uma clarabóia no teu olhar,
Depois… depois perdi-me nesta cidade apaixonada,
Vesti copos de uísque,
Bebi vestidos de chita,
Fumei poemas junto aos teus seios,
Mergulhava na plataforma irracional dos teus braços,
Escrevia nos teu beijos as palavras que nunca consegui escrever no papel amarrotado,
Desenhava no meu espelho as gotículas ínfimas do teu suor,
Afagante desejo,
Descerrava a porta dos teus cabelos,
 
Lapidava as tuas coxas no meu silêncio…
E acordava junto aos teus lábios,
 
Tão feliz… tão feliz meu amor,
 
Este poema sem nome,
Ouvindo a tua voz esquecida dentro de um livro,
Agachada na madrugada,
Este poema pobre,
Mendigo…
É a réstia das carícias fabricadas dentro de um rio,
Esquecia-me de ti, meu amor,
Sonhava com melódicos sons que apenas a morte sabe descrever,
O último grito,
Gemido…
A dor
Do teu prazer.
 
 
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quarta-feira, 26 de Agosto de 2015
 


terça-feira, 25 de agosto de 2015


Francisco Luís Fontinha - Agosto/2015

Fotografia das palavras


Desenho o sono na almofada do sofrimento,

Pego nos sonhos…

E espalho-os sobre a areia límpida da terra queimada,

Que saudade do cheiro da infância

Correndo no Mussulo,

Que saudade da chuva e do cacimbo…

As mangueiras voavam sobre mim,

Inventava palhaços de pano e triciclos de papel,

O vento embrulhava-se neles,

Eu acorrentava-me às mãos do silêncio,

Desenho,

Desenho o sono na almofada do sofrimento,

Pego nos sonhos…

E escrevo-te estas palavras que roubei às tuas fotografias,

Depois veio a tempestade,

O sono que era apenas um desenho, hoje, hoje é um amontoado de destroços baloiçando no mar,

O barco que nos trouxe morreu,

Os marinheiros, alguns, alimentam-se da sombra num qualquer engate na cidade das gaivotas,

Os cigarros do Tejo… esperam o meu regresso,

E um dia, e um dia regressarei aos teus braços, meu amor.

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Terça-feira, 25 de Agosto de 2015

segunda-feira, 24 de agosto de 2015


Francisco Luís Fontinha - Agosto/2015


Francisco Luís Fontinha - Agosto/2015

A esfera da saudade


Palavras para o amor

Que ama as palavras,

Os beijos incendiados nos lábios das estátuas,

Os cabelos dançando no jardim coberto de espuma,

Os bancos em madeira sentados sobre os meus joelhos,

E ao longe, o silêncio do desejo construindo lágrimas de algodão…

Sinto nas minhas veias a esfera da saudade

Caminhando sobre uma lâmina de cartão,

É tão triste esta cidade,

É tão triste a solidão,

Palavras para o amor

Que ama as palavras,

As belas, as belas e todas as outras… belas,

São palavras,

São elas que me alimentam e iluminam quando regressa a noite do teu olhar,

São elas que me abraçam quando o vento bate no meu peito…

Alicerçam-se a mim,

E eu, e eu fico sem jeito,

Só, só neste jardim,

Eu, os bancos em madeira e as estátuas de alecrim…

E no final da tarde tudo é embrulhado no mar,

Zarpamos em direcção ao infinito,

Bebemos copos de sofrimento

Para não enjoarmos…

E esta ondulação enlouquece-me,

E faz deste barco uma jangada de tédio…

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Segunda-feira, 24 de Agosto de 2015

Francisco Luís Fontinha - Agosto/2015