quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

Cinzento grito das larvas em silêncio


(desenho de Francisco Luís Fontinha)


Do grito cinzento do silêncio
às amarras vocais dos nocturnos desejos de pedra
ama-se um poema
odeia-se uma flor acabada de nascer
fuma-se o último cigarro
inventam-se esconderijos no corpo de uma mulher...
o relógio não cessa de chorar
o barco que transporta a solidão...
ancorado ao meu corpo desprovido de agasalho
do grito cinzento do silêncio
às amarras vocais dos nocturnos desejos de pedra
uma cova... funda... me espera!


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quarta-feira, 31 de Dezembro de 2014

terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Falsas partidas... (a merda do amor)


Falsas partidas
estas noites enfeitadas de neblina
o composto químico do amor
em construção
o homem desespera pelo regresso das palavras
o falso coração no habitáculo do desejo
esperando que uma das janelas do luar...
se parta
se extinga nas labaredas da tua pele
falsas
partidas
em... em construção.



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Terça-feira, 30 de Dezembro de 2014

Sombras de mármore e ossos...

(desenho de Francisco Luís Fontinha)


Há um beijo inventado
que habita nos meus lábios
há um corpo adormecido
em mim abraçado
há um poema no teu olhar
que transporta o cheiro do mar...
há uma ponte nos teus cabelos
quase a desmaiar,

o desenho no espelho embriagado,

há um livro nos teus seios
que não me canso de ler
e folhear...
há um desejo dentro desse livro que vive nos teus seios...
um desejo invisível
um desejo embrulhado em capim
e pedaços de cacimbo
há um beijo inventado
… nos meus lábios
em silêncio
a escrita cuneiforme
entre sombras de mármore e ossos...



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Terça-feira, 30 de Dezembro de 2014


segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Dentro de ti


Dentro de ti
a noite desventrada
nas palavras por escrever
o medo de dizer... “Amo-te”
quando amar é planar nos sonhos de uma montanha
onde poisa o teu corpo
onde... onde habitam as tuas mãos
dentro de ti
a noite desventrada
nas imagens imaginadas
por um louco que teima em não dizer...
“Amo-te”...



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Segunda-feira, 29 de Dezembro de 2014

Só... esta fogueira sem sentido

(desenho de Francisco Luís Fontinha)


O término do sono em constante sonolência,
a cabana do silêncio quase em ruínas,
violentas tempestades de palavras,
gritos e lágrimas,
em revolta...
como se existisse entre nós uma fogueira,
abandonada,
e... e só!


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Segunda-feira, 29 de Dezembro de 2014


domingo, 28 de dezembro de 2014

Não tempo para amar

(desenho de Francisco Luís Fontinha - Alijó) 



Não tenho tempo para amar...
como se para amar fosse necessário tempo,
ser amado,
pertencer ao vulcão das tempestades,
não sentir
sentindo...
o desejo das palavras,
o significado das cidades de gelo,

não tenho tempo para ser amado...
o amor é um rochedo construído de velhos farrapos e alguns pedaços de aço,
o amor são esqueletos de papel...
no coração de uma mulher,

não tenho tempo para amar...
como se para amar fosse necessário tempo,
ser amado,

os sítios proibidos dos rios do teu ventre,
o medo de amar-te...
quando eu sou apenas uma imagem,
tão velha... tão velha como os candeeiros das ruelas viciadas,
tão velha... como as ruas da minha infância,
o triciclo em queda livre,
a sombra das mangueiras poisadas no meu sexo...
e eu, e eu sem tempo para amar...


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 28 de Dezembro de 2014


Os poemas ao fim da tarde


Os poemas ao fim da tarde
este mesquinho silêncio
quando entra pela janela
e lá fora
um barco em espera
esquelético
cansado
farto do mar...
os poemas ao fim da tarde
com fome de matar
a voz do teu clitóris em tristes soluços na madrugada
os poemas ao fim da tarde... são poemas de nada,
poemas... poemas de amar
o estranho invisível quadrado com sorriso de vidro
há nas palavras a força da revolta
o corpo em lágrimas
que só a cidade...
que só a cidade consegue absorver
os poemas ao fim da tarde
o vento de sémen contra uma árvore
e os pássaros dos teus cabelos
brincando na seara
entre pedras e enxadas
sempre... sempre, sempre que um relógio acorda... e ninguém sabes onde habitam “os poemas ao fim da tarde”.



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 28 de Dezembro de 2014