A terra fértil
arrebata-se nos meus ossos de vidro,
sou forçado a fugir
deste esconderijo de granito, e vadio,
tratam-me como um
esqueleto de adorno, à mercê dos olhares felinos da montanha
escuridão,
à noite, poucas
vezes, desce a mim o silêncio frio,
encurralado num
velho muro em xisto laminado,
a terra... cobre-me,
ninguém me apanha,
pensava eu, quando ainda havia estrelas no teu olhar...
mas... puro engano,
o amor não se esconde, o amor liberta-se das profundas águas que
tens nos teus lábios, um deserto utópico, infinito...
e cansado de viver
nas imagens a preto-e-branco,
haverá vida nas
tuas mãos?
E à terra o que
pertence à terra,
os teus cíclicos
beijos de amanhecer doentio, invisíveis... travestidos de cidade
iluminada,
(às vezes, poucas,
acredito que és a madrugada)
Um holofote de néon
poisa nos teus seios de menina mimada,
pareces distante,
enferma, pareces... as flores depois de lapidadas,
como os diamantes
que escondem as tuas lágrimas...
(o papel-químico
transforma-se em almoço, lanche e jantar...)
E vives,
e sonhas...
E... e morres nas
almofadas da tempestade,
A terra fértil
arrebata-se nos meus ossos de vidro,
dizem que sou o
mendigo rico, dizem que sou o cadáver apetecido pelos bichos dos
sarcófagos semáforos de aço,
(E vives,
e sonhas...
E... e morres nas
almofadas da tempestade)
não existem
palavras, frases, sons, em ti, em mim... no próximo luar,
e não existe um
ontem que eu te possa recordar...
ninguém à minha
espera quando regresso das tuas coxas,
solitário,
amargurado... perdido... grito; FODA-SE O VERBO AMAR!
Francisco Luís
Fontinha – Alijó
Terça-feira, 17 de
Junho de 2014