Quem sou?
Faltam-me as
palavras para definir este cansaço sem pernas, este cansaço sem
boca, este cansaço sem poemas,
As tuas mãos ardem,
tracejando o meu corpo em lâminas de suor,
há um desejo
escondido nos teus lábios de cerâmica adormecida,
há uma tempestade
no teu cabelo, um rio vagabundo correndo nas tuas veias,
as tuas mãos
alicerçam-se ao papel solitário, aquele... aquele que espera pela
minha caligrafia,
um papel amarrotado,
com odor a cidade, com... com alergia,
Que vida é esta,
quando em mim facas de granito brincam como andorinhas,
quando em mim
papagaios com olhos verdes se entrelaçam nos meus pulsos sangrentos,
e há um círculo no
teu peito, um círculo cinzento, um círculo de espuma...
onde vive o prazer,
de onde se alimenta a minha dor,
a dor... a dor de
escrever,
Quem sou?
Faltam-me as
palavras para definir este cansaço sem pernas, este cansaço sem
boca, este cansaço sem poemas,
Serei um poema que
vagueia nos teus seios?
Uma cama,
um espelho de uma
velha cómoda encostada à lareira...
Faltam-me as
palavras,
as minhas, as tuas
palavras doiradas,
faltam-me os
cinzeiros de estanho, onde deixo durante a noite os meus sonhos...
tu, tu embrulhada no
luar,
faltam-me...
faltam-me as palavras de amar.
Francisco Luís
Fontinha – Alijó
Sexta-feira, 20 de
Junho de 2014
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