quarta-feira, 21 de maio de 2014
terça-feira, 20 de maio de 2014
Quem és, pergaminho abandonado no meu corpo?
foto de: A&M ART
and Photos
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Quem és, pergaminho
abandonado no meu corpo?
Enrolas-te em mim
disfarçado de cobra, alicerças-te aos meus frágeis braços,
e,
navegas no meu
ventre como uma caravela sem destino...
entranhas-te em mim
e dizes-me que o teu nome é Primavera...
Primavera... finjo
nem perceber,
cerro os olhos e
sinto as tuas mãos de desejo laminado nos meus seios,
pergunto-te
porquê... pergunto-te porquê eu, pergaminho de olhos verdes?
E a cada momento meu
o teu corpo descongela,
ficamos apenas uma
finíssima pedra de amor...
descendo a montanha
da paixão,
Quem és?
Eterno nocturno com
sabor a escuridão,
marinheiro perfumado
que te enfaixas nas minhas coxas de areia,
e sinto... e sinto
os meus gemidos no espelho dos teus olhos,
Ai... meu querido
amor!
A paciência minha
depois dos teus gritos de prazer,
depois de
adormecerem as gaivotas no Tejo,
e tu,
tu sais de mim,
e tu...
e tu desapareces na
neblina que engole a escadaria do prédio onde habitamos,
foges,
sem destino,
e eu, e eu como uma
folha amarrotada nos dedos de um cinzeiro de prata,
Quem és, pergaminho
abandonado no meu corpo?
Que oiço os teus
cabelos no peitoril enquanto saboreias o teu último cigarro,
que oiço o bater do
teu coração enquanto poisas a tua cabeça no meu peito...
e pareces-me uma rua
sem janelas numa cidade sem telhado,
uma casa sem
varanda,
uma casa... uma casa
enfeitada com sombras e pássaros,
uma casa como tu,
uma casa onde me
abraças e me dou conta que apenas te pertenço...
Francisco Luís
Fontinha – Alijó
Terça-feira, 20 de
Maio de 2014
segunda-feira, 19 de maio de 2014
A manhã antes de acordar
Tínhamos dentro de
nós
uma finíssima
película de espuma
éramos dois
espantalhos semeados no centro do trigo
sentados
olhávamos o
espigueiro da preguiça
cansado
ao sol
deitado entre as
ripas da solidão,
Tínhamos um punhado
de desejo
e sentíamos as
faces do vento nas nossas mãos de esmeralda
os diamantes
iluminavam os teus olhos de sereia madrugada,
Tão louca
a noite
quando adormece no
teu ventre,
Colocava os meus
dedos nos teus cabelos
voavam como um
colorido papagaio em papel doirado
ouvíamos as
lágrimas do rio
que depois do
luar... acorrentava barcos e marinheiros famintos
e tínhamos
e sentíamos...
o quê?
beijos transversais
nas vidraças do poema,
Tínhamos...
… e era tão louca
a manhã antes de
acordar.
Francisco Luís
Fontinha – Alijó
Segunda-feira, 19 de
Maio de 2014
domingo, 18 de maio de 2014
A menina das palavras
Das palavras que me
obrigas a escrever
oiço-as em teu
dedos pincelados nos pérfidos desejos
reescrevo-as
e desenho-as no teu
corpo mergulhado na amarrotada pele de seda
das palavras que me
obrigas...
escrevo-as
dito-as
e finjo estar
acordado,
Sei que as tuas
tristes sílabas vagueiam no meu peito
como sementes
esquecidas no vento
sei que nos teus
lábios habitam agulhas de algodão
que servem para
afugentarem as minhas palavras,
Das palavras que me
obrigas a escrever
elas se acorrentam
aos meus braços
fazes de mim um
prisioneiro vadio
ou uma árvore sem
coração
só
correndo sob a
neblina do teu olhar
delas
apenas o perfume do
néon que a cidade engole,
Mulher prisão
mulher inseminada
das minhas tristes palavras
mulher de negro
mulher... mulher
paixão,
Das palavras minhas
que que obrigas a escrever
faço-o apenas
porque os meus dedos deambulam no nocturno Oceano
escrevo-as
apago-as
afogo-as como mágoas
as palavras
as palavras que me
obrigas a escrever
eu as escrevo para
te silenciar...
Há mendigos
palavras
homens enlatados
descendo a avenida
há as minhas
malditas palavras...
delas e elas... as
palavras sem comida,
Uma duas três
tristes palavras
uma duas três
quatro... quatro vogais descendo as tuas coxas de iodo
uma janela
peneirenta
e uma porta de entra
roxa
e há uma varanda
onde tu lês as minhas tristes palavras
aquelas que me
obrigas a escrever
a vomitar sobre as
páginas de um rosto em sofrimento
das palavras que me
obrigas a escrever,
Há palavras
obrigadas a viver
dentro de mim
e por ti...
por ti menina das
palavras...
Há palavras que eu
não quero escrever
há escrever sem
palavras que recuso ler
há a menina das
palavras
com correntes em aço
palavras
prisioneiras
palavras
amaldiçoadas
palavras que o púbis
da caligrafia
semeia no corpo da
menina das palavras.
Francisco Luís
Fontinha – Alijó
Domingo, 18 de Maio
de 2014
Os círculos do desejo
Redefino-te entre os
círculos do desejo
percebo das
pálpebras do Oceano que o teu corpo flui na equação da recta
há nos teus seios
de oiro uma velha parábola
que voa
e dorme
nas tuas mãos
embrulhadas na curva de Agnesi,
És matemática que
o homem acaricia
docemente
e resolve as
equações de ti,
Redefino-te e sinto
na tua boca o regresso do amor
sento-me em frente
ao mar
e espero que cresça
a noite
desenho na areia do
prazer os lençóis onde adormeces
e absorvo-te na
peugada estrelar das camélias em flor
e sei que habitam em
ti todos os esconderijos da montanha...
Francisco Luís
Fontinha – Alijó
Domingo, 18 de Maio
de 2014
sábado, 17 de maio de 2014
beijo feitiço
há um beijo feitiço
nos teus lábios de saudade
há uma flor
adormecida em tuas mãos
a penumbra manhã
quando finge olhar-te
e desiste
há um biombo de
ânfora perdido nas tuas pálpebras
e o beijo feitiço
voa como as palavras
do poeta
nos seios de uma
folha amarrotada,
há um beijo feitiço
numa boca inventada
há uma menina
traquina
há uma menina
apaixonada...
há um beijo feitiço
disfarçado de madrugada
estrelas em papel
aprisionadas na mão da menina traquina...
há uma casa sobre
uma árvore
com o nome de paixão
há um beijo
há um despedaçado
coração
no feitiço
do beijo desejado.
Francisco Luís
Fontinha – Alijó
Sábado, 17 de Maio
de 2014
(ao som do Planeta3)
tentáculos da saudade
sentei-me sob as
lágrimas de ti
e fiz-me marinheiro
do amor
corri
ouvi...
e escrevi
todos os sorrisos da
tua flor,
voei nos teus
cabelos de solidão
desenhei-te poemas
sem sentido
fui um
transatlântico anão
oceano nocturno
dentro do teu coração
sou um homem
esquecido na tua mão
sou um pequeno
cortinado de veludo no vento perdido,
sentei-me sob as
lágrimas de ti
e hoje pareço uma
rua sem saída habitante de uma triste cidade
vivi
e senti
(os cansaços que o
xisto absorve depois das miudinhas gotículas do desejo)
e vi...
o regresso da
saudade.
Francisco Luís
Fontinha – Alijó
Sábado, 17 de Maio
de 2014
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