Talvez fosse meia-noite
em mim, e os teus olhos diziam-me
- eles já chegaram, e
juro que não percebia o que eles me queriam dizer, Quem chegou meus
queridos olhos?, os óculos chegaram, os escuros ou os de ver ao
perto?, ambos, lá fora desejavam-se círculos de luz com bolas de
sabão, e ela continuava Eles já chegaram, e talvez meia-noite,
em mim,
acreditava que das
pequenas árvores guardiãs da montanha um par de mãos sobrevivesse
à tímida geada das noites passadas ao leme de lareira acesa,
francamente juro que não percebia o que eles me queriam dizer, em
mim, o livro adormecido em sonhos inconstantes ressonavam nas minhas
mãos de Inverno rigoroso, frio, lá fora, cá dentro, em mim, os
sonhos dela desenhados nos telhados zincados dos musseques, quando no
final da tarde, vagueavam as sombras dos mortos, das plantas mortas,
restos de árvore sem perceber
- o que eles me queriam
dizer, Quem chegou meus queridos olhos?,
e poucas, às vezes
nenhumas, palavras, Não vais almoçar rapaz?, não ter fome patrão,
e eu tinha sempre fome, hoje, ontem, amanhã, sempre a mesma fome,
sempre o mesmo silêncio nas paredes ressequidas das nádegas
embrionárias dos desenhos, sem perceber
- eles chegaram e vão
comer-te, e eu, eu todo contente, eu feliz, finalmente vou ser
engolido por um bicho enorme, feroz, malvado, talvez seja o mar
desabafava contra o candeeiro suspenso no Hall de entrada depois de
muito esforço atravessar o corredor da solidão,
às vezes, e poucas,
quase nada dentro de mim, um ténue fio de aço que me prendia ao
cais de madeira e não me deixava voar, eu queria voar, eles nunca mo
permitiram, covardes, montes de merda com olhos de prata, as sombras
dos mortos, das plantas mortas, restos de árvore sem perceber que o
medo mata as pessoas, e que os homens como eu não morrem de medo,
não têm medo, os homens como eu emagrecem com o medo, e desaparecem
- eles chegaram,
e desabafava com as
jangadas tristes das tardes miseras onde se ouviam, ali, além,
poucas vezes, aqui, as cobras de sete cabeças com pernas de gesso
que aos poucos subiam a montanha, em mim, acreditava que das pequenas
árvores guardiãs da montanha um par de mãos sobrevivesse à tímida
geada das noites passadas ao leme de lareira acesa, francamente
- menino Francisco,
nunca tive medo do medo.
(texto de ficção não
revisto)
@Francisco Luís Fontinha
Alijó