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sábado, 31 de dezembro de 2022

O criador das coisas visíveis e invisíveis

 Se não houvesse Deus

Não tinhas uma casa

Lembra-te que Deus criou as pedras

As pedras que servem de alvenaria à tua casa

Nunca esqueças que Deus criou as árvores

As árvores que dão a madeira para a tua casa

E foi Deus que criou o homem

O homem que é pedreiro

O pedreiro que construiu a tua casa,

 

Se não houvesse Deus

Não havia pássaros

Não existia o mar nem o luar

Não tinhas a noite

O dia

E tão pouco a poesia

Nem as lágrimas de chorar,

 

Se não houvesse Deus

Como poderias durante a noite contar as estrelas

Olhar com os teus olhos a beleza do Universo

Ouvir a música que ouves

Ou até mesmo a rua onde habitas

Porque Deus criou o homem

O homem que construiu a tua casa

O homem que deu vida à cidade onde te perdes

E às vezes tens a sensação de que és apenas uma pequena sombra,

 

Mas nunca serás uma pequena sombra

Porque se Deus criou a sombra

També foi Deus que criou a luz

Também foi Deus que criou as cores

As plantas e todos os animais,

 

E se não houvesse Deus

Acredita que estavas bem fodido…

Porque Deus criou a mulher

E tu

Sem a mulher

Sem uma mulher não serias nada;

Nem cornudo o conseguirias ser

(o que seria desta merda toda sem a mulher).

 

(e agradece a Deus por toda a beleza que existe à tua volta)

 

 

 

 

Alijó, 31/12/2022

Francisco Luís Fontinha

sábado, 17 de dezembro de 2022

Um pouco mais de azul

 Nunca percebi a razão de o meu pai, um dia, em meados dos anos oitenta, oferecer-me um livro de Hubert Reeves, “Um pouco mais de azul”.

Pela capa fiquei fascinado, com uma fotografia do Universo.

Ora “Um pouco mais de azul” é uma viagem sobre Universo e a sua história.

E tantos anos depois, não entendo porque o meu pai, na altura, queria que eu aprendesse um pouco mais sobre a história do Universo e pelas mãos “do poeta do espaço”.

O Universo para mim é infinito, frio e muito escuro. Portanto será difícil ou quase impossível alguém ou algo, que apelidam de Deus, ser o responsável de tamanha beleza.

O Universo e a poesia complementam-se, são infinitos, belos e habita em ambos o fascínio pelo desconhecido.

Depois de o ler, não sei se fiquei com mais dúvidas ou certezas; certamente com mais dúvidas.

De onde viemos. Para onde vamos. Quem somos.

Faz sentido tudo o que nos rodeia?

E não será apenas a função dos seres vivos, nascerem, crescerem e morrerem?

Então para que nascemos?

Nascemos para sofrer?

E se eu pudesse conversar com o primeiro ser vivo que habitou a Terra, será que ele satisfazia todas as minhas dúvidas ou pelo contrário, ainda ficava com mais dúvidas…

Mas o meu pai queria que eu estudasse um pouco mais sobre o Universo, e “Um pouco mais de azul” não me satisfez todas as minhas dúvidas, pelo contrário, aumentou-as.

E hoje percebo que brevemente serei apenas pó.

Um pequeno grão de areia.

 

 

 

 

Alijó, 17/12/2022

Francisco Luís Fontinha

sexta-feira, 16 de dezembro de 2022

O Universo teu cubo invisível

 Se me pedissem para parar a extinção do Universo

Não o fazia

Não me levantava da cadeira

Deslocar-me à cozinha

E carregar no botão…

Egoísmo?

Não

Estou cansado

Extremamente cansado

Cansado para me levantar desta cadeira

Andar uns quantos passos atá à cozinha

Erguer a mão direita em direcção ao botão…

E carregar

Com força

Portanto

Esqueçam

Não o faço

 

Depois

Pergunto-me o quão infinito é o Universo

Que se expande

Que não se expande

Não o sei

Uns dizem que sim

Que não

Que um dia o Universo vai começar a contrair

E tudo voltar a ser apenas um pequeno ponto

Do tamanho da cabeça de um alfinete

E recomeçará tudo novamente

 

Se eu pudesse

Se eu pudesse conversar com a primeira pedra a habitar a Terra

Se eu pudesse

Fazia-o

Fazia-o sem pensar duas

Três

Milhões de vezes

Ao cubo

Dentro do cubo

O vazio

As nuvens que às vezes aparecem nos teus olhos

(sabias que os teus olhos são poemas de amor?)

Pegava-lhe na mão

Sentava-me a seu lado

E perguntava-lhe porquê

Provavelmente

A pedra

A primeira pedra

E depois

Talvez ficasse sem jeito

Que emoção

Conversar com a primeira pedra a habitar a Terra…

Vamos tomar um café?

 

Olho o cubo que dorme todas as noites sobre a minha secretária

Olho-o

E pergunto-me se pelo facto de eu ter um cubo

Um cubo pintado de encarnado

Poisado sobre a secretária

Sou mais ou menos feliz

Se sobre a minha secretária não tivesse esse cubo

Esse cubo pintado de encarnado

Era menos ou mais feliz?

E os milhões de lares

Espalhados por aldeias vilas e cidades

Que não têm um cubo

Um cubo pintado de encarnado

Sobre a secretária

Na casa de banho

Cozinha

No quarto

Qualquer sítio

Em qualquer lugar

São mais felizes então?

 

Claro que não

 

Depois da primeira pedra

Vem o primeiro primata

A primeira borboleta

(a primeira flor)

A primeira mulher

Depois

O primeiro beijo

O primeiro poema

(e pergunto-me qual terá nascido primeiro: o beijo ou o poema?)

Depois

Depois nasce a primeira cadeira

O primeiro livro

A primeira carícia

A primeira lágrima

Depois

O primeiro livro

Nasce o primeiro livro de poemas

A primeira flor em papel

A primeira lua

E o último luar

 

(Claro que não)

 

A primeira troca de olhares

A primeira Primavera

A primeira paixão

 

(até agora ainda ninguém morreu desde o começo do Universo)

 

E para estar aqui hoje

Agora

Foi necessário nascer o segundo primata

O terceiro primata

O quarto primata

E agora sim

Agora já podemos matar algum ou alguns dos primatas

 

(O primeiro cigarro)

 

(neste momento um dos primatas é preso por excesso de velocidade)

 

Depois

Depois nasce a primeira criança primata

Ouvem-se os primeiros gritos

O primeiro choro

A primeira birra

O primeiro cocó

As primeiras palavras

Os primeiros números

As primeiras brincadeiras

As primeiras palavras ditas

E depois

As escritas

A escola

 

A primeira lareira

Do primeiro abraço

Quando se lê o primeiro poema

E agora sim

O beijo

Os cabelos

Os lábios

As tuas cochas

Os teus olhos quando vês a primeira estrela

A primeira dor

O primeiro desejo

A primeira árvore

 

Os meus primeiros pássaros

E os meus primeiros barcos

 

A primeira noite

A primeira noite dentro do cubo

Do cubo pintado de encarnando

 

(e quando me dizem que sou um falhado

Um perfeito idiota

O coitadinho

O maluquinho…

Eu penso

PORRA

Então não foi o meu espermatozóide

Que entre milhões conseguiu sobreviver?

 

E se não tivesse sido o meu espermatozóide o escolhido?

Se fosse outro…

Eu podia ser mulher

Homem

Mais baixo

Mais gordo

Menos parvo

E menos idiota do que eu sou

Mais simpático

E menos anti-social…

 

E continuo a olhar este parvo

Este parvo cubo

O cubo mais parvalhão que conheci

Desde que me lembro de conhecer coisas

 

(Coisas meu amor

Coisas)

 

O primeiro dia

Do primeiro sol

As primeiras chuvas

O primeiro calor

O último frio do Inverno

Antes do primeiro Verão

 

Depois

Depois meu amor

O meu primeiro machimbombo

A minha primeira cidade

A cidade perdida

Na mão do feio comboio em direcção ao mar

 

Ao mar

Meu amor

O meu primeiro mar

 

Meu mar

O meu primeiro mar

 

(Depois

O primeiro cancro

O segundo cancro)

 

 

Se me pedissem para parar a extinção do Universo

Não o fazia

Não me levantava da cadeira

Deslocar-me à cozinha

E carregar no botão…

Egoísmo?

 

(Não)

 

Apenas porque estou muito

Muito

Mesmo

Muito cansado para me erguer desta cadeira.

 

 

 

 

 

 

Alijó, 16/12/2022

Francisco Luís Fontinha

terça-feira, 29 de novembro de 2022

Veludo mar

 Oiço o silêncio do fogo

Que cobre o teu corpo em veludo mar

Oiço-o e toco-lhe

E percebo que te contorces sobre a hipotenusa da paixão

E do triângulo rectângulo do desejo,

 

Todas as estrelas e todos os planetas poisam na minha mão.

A capsula do prazer

Em pequenas órbitas ao teu sorriso

Espera a minha voz para o acoplado beijo

Aquele que dará vida aos teus sonhos.

 

E este fogo que cai em ti

Traz a insónia

E a paixão;

E todos os peixes

E todos os barcos, são os poemas que te escrevo.

 

 

 

 

 

Alijó, 29/11/2022

Francisco Luís Fontinha

domingo, 6 de setembro de 2015

Madrugada lapidada


E se o mar me levasse para o seu imaginário mais secreto…!

O dia transforma-se em noite,

O vento veste-se de chuva,

Fina, miudinha…

Frágil o olhar da serpente envenenada pela paixão,

O luar morre nas mãos de uma andorinha,

Dá-lhe beijos na face mais longínqua do Universo,

Cansa-se e deita-se sobre o meu corpo em travestido xisto,

Não sei se quero,

Ou se existo nos teus lábios de madrugada lapidada,

E se o mar me levasse…

E se o mar me levasse na tua jangada…!

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Domingo, 6 de Setembro de 2015

terça-feira, 12 de maio de 2015

Desenhos no Tejo


Podíamos navegar na tempestade do sonho

Quando todas as nuvens dormiam

Quando todas as palavras

Em uníssono

Sussurravam nas pálpebras laminadas do medo

Eu… eu amo-te

Amar uma pedra

Com sentimentos

E da dor

As ingrimes escadas do cansaço

Não pertenço a este Rio

Não és o espelho do meu sorriso

Narciso escrito

Nas frestas do xisto amargurado

As gaivotas

Regressam

E em uníssono…

Eu amo-te

Pensavas tu

Pensava eu

Não sei

Quem sou

Quem és

Ontem

Ontem

Enquanto borbulhavam as sílabas do prazer

O livro que se lê

E vê

O corpo nu sobre o poema

E dou-me conta que faltam as personagens

O cenário

E o texto

E tu…

 

Eu.. eu amo-te

 

A Astronomia

A Física

E o teu corpo

Nu

Pensava eu

À janela

Podíamos desenhar no Tejo

Todas as crianças do Universo

E não

Nem crianças

Nem palavras

Na despedida.

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Terça-feira, 12 de Maio de 2015

quinta-feira, 7 de maio de 2015

Este Mundo – Este maldito Mundo


Não vêem o meu corpo crucificado

Na sombra invisível do sofrimento

Não caminho

Meu

Querido

Meu

Entre as palavras

E todo o silêncio do Universo

Permaneço

Encerrado

Neste

Exíguo espaço

Em verso

Como um mendigo

Feio e imundo

Perverso

Este mundo…

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Quinta-feira, 7 de Maio de 2015

terça-feira, 3 de abril de 2012

Os homens e as palavras

Gerberas crescem dentro da cabeça do inferno, (e se a vida chegou à terra através de um cometa Pergunto-me E deus? Veio juntamente com o cometa ou algures no infinito a assistir ao nascimento…)
- Como se vê se as flores são frescas? E ao que parece… pela guelra, a vinte e cinco mil quilómetros por hora, a terra bombardeada por cometas e asteroides, e deus, e deus a assistir ao complexo infinito de luzes e cores,
E se deus tivesse proibido os cometas de bombardearem a terra? E se deus se embrulhasse em gerberas e adormecesse eternamente até se cansar,
Gerberas crescem dentro da cabeça do inferno
- E segundo os especialistas da NASA a vida na terra começou após o último grande bombardeamento por cometas e asteroides, há cerca de três mil e oitocentos milhões de anos,
E deus, e deus sentado à esquerda do filho, a olhar as gerberas dentro da cabeça do inferno,
- Como se vê se as flores são frescas?
Abre-se a janela do inferno e as gerberas erguem-se até ao céu, poisam nos lábios das estrelas e adormecem no estômago da insónia, faz-se noite em ti e do teu corpo as sílabas de silêncio abraçadas ao pindérico cortinado da madrugada, e ainda não tinha nascido o mar, e os barcos voavam de montanha em montanha, de penhasco em penhasco, de seio em seio,
- As gerberas
Sem coração e sem paixão e sem amor,
- As gerberas dentro da cabeça do inferno até que o dia finja ser noite em ti, hoje de seio em seio o pindérico cortinado da madrugada balança nas suaves mãos de silício do teu corpo, o mel arrefece o sabor da tua boca quando as algas vindas do universo comem o teu desejo entre três triângulos equiláteros, Pitágoras escreve no extenso lençol de seda e o outro segredava que um ângulo reto ferve a noventa graus,
(o quadrado da hipotenusa é igual à soma dos quadrados dos catetos)
Que têm as gerberas? Dentro da cabeça do inferno todas as palavras, dentro da cabeça do inferno todos os desejos e todos os pindéricos cortinados da madrugada,
- As gerberas em pedacinhos de nuvem antes de alguém encerrar a janela e o mar acaba de nascer, e os barcos deixam de voar e começam em mergulhos silenciosos a galgar as águas do teu oceano púbis,
Acorda o dia, nascem os homens e as palavras
- Inventam o fogo e todos os livros de Gogol ardem na fogueira (maldita inquisição), e as palavras derretem-se no cacimbo da manhã,
E as palavras incomodam muita gente.

(texto de ficção não revisto)