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segunda-feira, 15 de abril de 2013

Frágeis, tão frágeis que vergam e partem, e morrem...

foto: A&M ART and Photos

Não me toques, meu amor, não toques nas minhas pétalas, não, por favor, não toques nas minhas imagens, invenções minhas quando a noite mergulha no teu corpo desassoreado, desassossegado, embriagado por palavras e palavras, por luzes, e pelas eternas árvores, não amor, por amor, não me toques,
(três pequenas malas separavam-nos da paixão das almas embalsamadas, tínhamos asas, e tínhamos onde esconder os pequenos sobejos de nós, simples coisas, poucas, das tuas mãos, apenas uma máquina fotográfica, com imagens dentro, e de mim, nada, não esperavas absolutamente nada, a não ser, meia dúzia de livros com bolor, e alguns poemas escritos sobre os teus joelhos, e confesso, sabendo que não me estás a ouvir, e a ver, que esses – Queimaste-os? - claro, assim, despedi-me do teu corpo, como alguns corpos, se despedem suspensos dos ramos de árvore, algumas frágeis, tão frágeis que vergam e partem, e morrem...)
Não, não meu amor, por favor, não toques em mim, não, não me toque – Que dia é hoje, meu querido? - não sei, não, deixei de contar os dias, deixei de apontar as horas na parede em gesso do quarto minúsculo e húmido, e com uma também minúscula janela virada para um quintal de areia, desértico, tão pobre, quase, como os móveis que habitam esta tão acorrentada casa de sonhos, grãos de milho sobre uma eira sem nome, sem destino, sem terra, e queimaste-os dizes-me tu, e claro que te mentia, minto-te, porque sou incapaz de queimar palavras, talvez tivesse coragem de queimar
(corpos?)
Mas destruir palavras, nunca, meu amor, não me toques, por favor, deixa-me, deixa-me...
(corpos, o meu, o teu, o dele, corpos, corpos entre imagens a preto-e-branco, janelas intactas, que depois das tempestades, lá, estão sossegadamente lá, como o estavam antes, como o continuaram depois, e o fotografia não é mais do que uma janela, fixa, sem vidros e inquebrável . Queimaste-os? - baixava a cabeça e não respondia, e pensava, como poderia queimar os teus joelhos... - impossível queimar os teu belos joelhos, meu amor! - e no entanto, mentia-te, dizendo-o quando não o tinha feito, e tu, acreditaste, sempre, que todos os poemas escritos sobre os teus joelhos, coitados, foram todos queimados numa sexta-feira, era Verão, talvez uma tarde de Agosto, e depois, semeei as cinzas sobre a lápide encarnada do batom que passaste a usar nos lábios, sabia-me bem, não sei a quê, talvez – A chocolate? - não, não era a chocolate, talvez fosse a saudade)
Deixa-me, que um dia vais perceber que dentro das minhas imagens existem sonhos, os nossos sonhos, um dia vais perceber que da árvore que morreu devido ao peso de um corpo, outro corpo nascerá, - acreditarás em mim? - e outro, e outro, e outro corpo mergulhará nas imagens que escondo dentro das minhas férteis coxas de silêncio, tu um dia, vais
(corpos – Queimaste-os? - sim, meu amor, sim, sim, queimei-os a todos...)
Vais, vais bater a uma porta com um pedaço de vidro, do outro lado, alguém, mulher, homem ou criança, ou todos, perguntar-te-ão pelos poemas escritos sobre os meus poemas, e tu, responderás
(queimaste-os?)
Não, por favor, não me toque, meu querido, e responderás que os tens dentro de uma caixa de cartão, melhor dizendo, três perdidas caixas de cartão, em que numa delas, três, talve... talvez meia dúzia de imagens, guardas, de mim, do meu rosto, da minha pele, e
(teus joelhos)
Não, não, por favor,
E esqueci como era o teu rosto.

(ficção não revisto)
@Francisco Luís Fontinha

sexta-feira, 8 de março de 2013

Mulheres a preto e branco

Ei-lo que se recusará a regressar antes que a ponte velhíssima de madeira se desmorone sobre as pálidas algas das tristes tardes de Inverno, ei-lo, o transeunte mais procurado dos Pinhais de Cima, aldeia pacata e silenciosa que cresceu, aos poucos como um cogumelo de areia, entre as rochas fragmentadas das cabeças ocas dos homens com pernas de cimento, enferrujado o aço, sobejaram algumas paisagens que um fotografo famoso guardou para a posteridade, algumas fotografias a preto e branco, porque ele sempre amou as fotografias a preto e branco e não se cansa de dizer que
São como as mulheres, belas,
Uma fotografia a preto e branco e uma mulher, ambas elas belas, e a diferença está no papel, a fotografia exibe um papel macio, cristalino e cintilante, e a mulher, exibe uma pele de sombras que caminham sobre as ondas cristas que a maré desenha nos desejos depois de partir o pôr-do-sol e antes de regressar a lua,
Ei-lo, o ausente mutante que acreditava nas palavras que lia, ei-lo agachado no pavimento húmido dos quartos reles de pensões miseráveis, e no entanto, ele, preferia as fotografias a preto e branco, e às mulheres, das mulheres recebia uma chave de carícia em formato de três por três e que tinha como objectivo abrir todos os corações mais secretos e encerrados das noites ilimitadas, quando a tangente de (x) tende para uma cama com lençóis de papel e um guarda-fato com um espelho onde se vê o círculo trigonométrico das mulheres de coração claustrofóbico, ele
Sou uma fotografia aparvalhada, vesti-me de palhaço, sem tenda de circo e apenas com uma roulote dei duas voltas à aldeia dos Pinhais de Cima, e desenha no invisível rectas, cubos, círculos, triângulos e meninas de chocolate,
Existem mulheres a preto e branco como fotografias com coxas transeuntes, e têm o coração tão fechado, tão fechado, que nem o amigo Rocha das Chaves consegue abri-los, coisas dos artistas, escritores e poetas, porque se eu tivesse a habilidade que ele tem para abrir fechaduras...
Meu Deus, quantos corações,
(paciência, cada um tem o seu ofício, e eu, não tenho nenhum)
E eu tenho muita, como as árvores, vou esperando que cessem todas as tempestades e que uma nuvem com recheio de amor desça às profundezas das masmorras onde se passeiam correntes e argolas e animais ferozes, a selva desceu à cidade, os rios fugiram para a montanha, e um ditador roubou-nos o mar, mas não nos importamos, já nos roubaram tantas coisas
Que
É mais uma, que diferença faz?
(este bloqueio vai estar activo durante mais 1 dia e 23 horas)
Que nascemos para vivermos sobre tempestades (só alguns) e que também (só alguns) são incapazes de abrir uma simples fechadura, ou
Arrombar a janela de paixão,
Ou levitar sobre os telhados dos Pinhais de Cima, vestido de domador de feras, porque começando por ele, há feras completamente indomáveis como o porteiro do edifício contiguo à repartição onde trabalha o Alfredo, o velho Alfredo que desde que me lembro espera e desespera pelo regresso
E ei-lo que se recusará a regressar antes que a ponte velhíssima de madeira se desmorone sobre as pálidas algas das tristes tardes de Inverno, ei-lo, o transeunte mais procurado dos Pinhais de Cima, aldeia pacata e silenciosa que cresceu, aos poucos como um cogumelo de areia, entre as rochas fragmentadas das cabeças ocas dos homens com pernas de cimento, enferrujado o aço, sobejaram algumas paisagens que um fotografo famoso guardou para a posteridade, algumas fotografias a preto e branco, porque ele sempre amou as fotografias a preto e branco e não se cansa de dizer que são como as mulheres, belas, e como as flores, ainda mais belas que as fotografias, mas
Menos belas que as mulheres a preto e branco.

(ficção não revisto)
Francisco Luís Fontinha

domingo, 10 de fevereiro de 2013

Uma cratera de saliva no vulcão da insónia

Um dia, quem sabe, todos os poemas de Inverno se transformem em rosas, um dia, talvez amanhã, ou, poderá ser mesmo num Sábado qualquer, um dia qualquer, apenas um, de um calendário de papel, ou daqueles virtuais que os nossos portáteis inventam para nós, e tão parvos, eles, que se nós quisermos hoje não é hoje, e se nós quisermos hoje é ontem, Dezembro de 1966, ou, ou se eles quiserem amanhã, amanhã terça-feira de Março de 2015, um dia, quem sabe, todos os poemas
Fiquem como as minhas mãos, pérfidas, com perfume de vulcão estacionado no centro de uma cratera, com nuvem de vapor que fingem ser cortinados, das janelas das palavras, quando chega o murmúrio das imagens a preto e branco do álbum de fotografias do Pai Fernando, Angola está lá, como estão os carris onde ontem passeavam comboios para Mirandela, e hoje, hoje apenas linhas curvas, rectas, círculos de lágrimas das rochas metamórficas com sombras de pedra, ele acompanhava a linha de bicicleta pela mão, chegava ao Tua, e subias as curvas inclinadas com sabor a saudade, apenas, apenas para dar um beijo à mãe, fiquem todas, hoje não, hoje
Os carris e os túneis da saudade dentro de um álbum de fotografias,
Hoje, hoje não, quem sabe amanhã, todos os poemas se transformem em rosas de papel, quem sabe, ontem as flores tenham conspirado contra o homem dos livros de granito, quem sabe, hoje sim, eu, ele, nós os dois, sejamos esqueletos de vidros com mãos de arame, hoje quem sabe, eu, ele, eu e ele, os dois, sejamos pedaços de pedra mármore do túmulo de um dos manuscritos de Gogol que ardeu na fogueira, louco, tu e eu, dentro de um buraco de areia, os nossos corpos parecem raios de sol mergulhados em barcos de esferovite com um motor de um carro de brincar, comprávamos pilhas com sabor a limão, e ele, e eu, e eu e ele e o barco de esferovite, perdidamente apaixonados como as águias nocturnas do chocolate amargo,
Os carris e os túneis, que têm?
Um dia, a escuridão transformar-se-á em lençóis de prata com almofadas de oiro, E os carris? pergunta ele, que têm? Respondo-lhe eu, Nada... Responde-nos os barco de esferovite com o velho motor do carrinho de brincar, as pilhas, sabiam a limão, amargo, o dia quando regressei e descobri que era um esqueleto de vidro com mãos de arame, pergunto-lhe
Lembras-te? Claro que sim, como me lembro do dia quando disfarçada de água da chuva entraste em mim, numa tarde de Agosto, tinhas livros numa das mãos ínfimas, pequenas, como os rochedos das praias imaginárias da nossa infância, e claro que
Não me recordo dos vidros partidos no recreio da escola,
Amanhã, amanhã, amanhã terça-feira de Março de 2015, um dia, quem sabe, todos os poemas vestidos de arame-farpado, em redor de um campo de minas como os seios camuflados dos grandes edifícios que se escondem nas cidades e dão abrigo aos sem-abrigo, todos, amanhã, quem sabe um dia destes, no calendário virtual do meu portátil, eu, eu encontre os restos de saliva que sobejaram das palavras mordidas pela serpente do envenenado homem das luzes de linho, cansei-me, cansei-me dos calendários de papel com números complexos, matrizes, equações diferenciais loucas de amor por integrais triplas, e no entanto, ninguém, ninguém à espera delas na cama nua das quadriculas de insónia,
Calçavas uns sapatos rabugentos, ouvia-os enquanto descias o passeio que aproveitavas para observares distraidamente os manequins nus, esqueléticos, das montras com roupas adormecidas pelos candeeiros da noite embaciada pelo perfume das rosas junto à cabine telefónica, de vidro, alumínio, e palavras que desconhecíamos, e não sabíamos que dias depois
Os carris e os túneis, que têm?
Debaixo do braço transportavas um livro de Érico Veríssimo “Clarissa”, a chave de acesso ao teu cofre, eu, hoje, hoje talvez não, amanhã, amanhã sim, eu já o tinha lido, e confesso que enquanto conversávamos sobre o livro íamos caminhando em direcção ao tempo-espaço de Einstein, e hoje percebo, amanhã, amanhã talvez, terça-feira de Março de 2015, o murmúrio das imagens a preto e branco do álbum de fotografias do Pai Fernando, Angola está lá, como estão os carris onde ontem passeavam comboios para Mirandela, e hoje, hoje apenas linhas curvas, rectas, círculos de lágrimas das rochas metamórficas com sombras de pedra, ele acompanhava a linha de bicicleta pela mão, chegava ao Tua, e subias as curvas inclinadas com sabor a saudade, apenas, apenas para dar um beijo à mãe, fiquem todas, hoje não, hoje
Os carris e os túneis da saudade dentro de um álbum de fotografias,
Como ficaram as tuas palavras dentro de mim, todas, elas, disfarçadas de chuva de Agosto em final de tarde.

(texto de ficção não revisto)
@Francisco Luís Fontinha

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

A preto e branco nas equações do amor...

Uma mulher de vidro poisou nas minhas palavras
sobre a secretária de madeira
invento-lhe história com fotografias a preto e branco
que trouxe de Angola
os barcos ainda vivem
e navegam entre paredes de limão
e o fumo dos cachimbos ensonados junto aos livros desassossegados
uma mulher

no meu álbum de fotografias
uma mulher que hoje é uma menina
e ontem
e ontem galopava no cavalo branco com sílabas de cetim

perdi-lhes o nome
olho-as e quase desconheço os lugares
e os cheiros
e todos os nomes do caderno preto

vejo o mar
e o mar parece um amontado de ruínas de cimento
vejo as árvores
e todas as árvores mortas nas janelas dos pássaros sem cabeça
perdidos no meu álbum de fotografias
vejo o mar
e todos os barcos são pedaços de madeira
dentro dos dias ensanguentados de insónia
e princípios de solidão
os calafrios da morte
a preto e branco
nas equações do amor...

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Completamente só penso eu

Não são reais as fotografias onde habito
e percebi que eu pertenço a um álbum
onde apenas o meu rosto abre-se aos silêncios
dos olhos camuflados do nitrogénio

percebi quando folheio as páginas emagrecidas dos aniversários em tristeza
que aquele miúdo com ar aparvalhado
deitado num carrinho de bebé
não sou eu
(ranhoso sem cabelo e chorão)
não sou eu
que cresci dentro de um álbum completamente só

(Não são reais as fotografias onde habito
e percebi que eu pertenço a um álbum
onde apenas o meu rosto abre-se aos silêncios
dos olhos camuflados do nitrogénio)

completamente só penso eu
porque nunca me lembro de dar a mão a quem quer que seja
ou
ou simplesmente a afagar o cabelo de uma árvore em silêncio

e acorda a noite
e a noite me afaga o cabelo
e a noite me ouve
e a noite me deseja
entre palavras cigarros e garrafas de vodka
e o papel de parede da insónia
nunca me esquece
e antes de eu adormecer
dá-me um beijo simplesmente no rosto que nunca foi meu
e vive
e vive dentro de um álbum de fotografias
com alguns pedacinhos de cola

e percebo que o mar
o mar e percebo
e percebo que nunca existiu o mar
e que eu não sou aquele ranhoso
raquítico
chorão
tinhoso
na fotografia com um crucifixo ao peito...