Ei-lo que se recusará a regressar antes que a ponte
velhíssima de madeira se desmorone sobre as pálidas algas das
tristes tardes de Inverno, ei-lo, o transeunte mais procurado dos
Pinhais de Cima, aldeia pacata e silenciosa que cresceu, aos poucos
como um cogumelo de areia, entre as rochas fragmentadas das cabeças
ocas dos homens com pernas de cimento, enferrujado o aço, sobejaram
algumas paisagens que um fotografo famoso guardou para a posteridade,
algumas fotografias a preto e branco, porque ele sempre amou as
fotografias a preto e branco e não se cansa de dizer que
São como as mulheres, belas,
Uma fotografia a preto e branco e uma mulher, ambas
elas belas, e a diferença está no papel, a fotografia exibe um
papel macio, cristalino e cintilante, e a mulher, exibe uma pele de
sombras que caminham sobre as ondas cristas que a maré desenha nos
desejos depois de partir o pôr-do-sol e antes de regressar a lua,
Ei-lo, o ausente mutante que acreditava nas palavras
que lia, ei-lo agachado no pavimento húmido dos quartos reles de
pensões miseráveis, e no entanto, ele, preferia as fotografias a
preto e branco, e às mulheres, das mulheres recebia uma chave de
carícia em formato de três por três e que tinha como objectivo
abrir todos os corações mais secretos e encerrados das noites
ilimitadas, quando a tangente de (x) tende para uma cama com lençóis
de papel e um guarda-fato com um espelho onde se vê o círculo
trigonométrico das mulheres de coração claustrofóbico, ele
Sou uma fotografia aparvalhada, vesti-me de palhaço,
sem tenda de circo e apenas com uma roulote dei duas voltas à aldeia
dos Pinhais de Cima, e desenha no invisível rectas, cubos, círculos,
triângulos e meninas de chocolate,
Existem mulheres a preto e branco como fotografias
com coxas transeuntes, e têm o coração tão fechado, tão fechado,
que nem o amigo Rocha das Chaves consegue abri-los, coisas dos
artistas, escritores e poetas, porque se eu tivesse a habilidade que
ele tem para abrir fechaduras...
Meu Deus, quantos corações,
(paciência, cada um tem o seu ofício, e eu, não
tenho nenhum)
E eu tenho muita, como as árvores, vou esperando
que cessem todas as tempestades e que uma nuvem com recheio de amor
desça às profundezas das masmorras onde se passeiam correntes e
argolas e animais ferozes, a selva desceu à cidade, os rios fugiram
para a montanha, e um ditador roubou-nos o mar, mas não nos
importamos, já nos roubaram tantas coisas
Que
É mais uma, que diferença faz?
(este bloqueio vai estar activo durante mais 1 dia e
23 horas)
Que nascemos para vivermos sobre tempestades (só
alguns) e que também (só alguns) são incapazes de abrir uma
simples fechadura, ou
Arrombar a janela de paixão,
Ou levitar sobre os telhados dos Pinhais de Cima,
vestido de domador de feras, porque começando por ele, há feras
completamente indomáveis como o porteiro do edifício contiguo à
repartição onde trabalha o Alfredo, o velho Alfredo que desde que
me lembro espera e desespera pelo regresso
E ei-lo que se recusará a regressar antes que a
ponte velhíssima de madeira se desmorone sobre as pálidas algas das
tristes tardes de Inverno, ei-lo, o transeunte mais procurado dos
Pinhais de Cima, aldeia pacata e silenciosa que cresceu, aos poucos
como um cogumelo de areia, entre as rochas fragmentadas das cabeças
ocas dos homens com pernas de cimento, enferrujado o aço, sobejaram
algumas paisagens que um fotografo famoso guardou para a posteridade,
algumas fotografias a preto e branco, porque ele sempre amou as
fotografias a preto e branco e não se cansa de dizer que são como
as mulheres, belas, e como as flores, ainda mais belas que as
fotografias, mas
Menos belas que as mulheres a preto e branco.
(ficção não revisto)
Francisco Luís Fontinha
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