Não são reais as fotografias onde habito
e percebi que eu pertenço a um álbum
onde apenas o meu rosto abre-se aos silêncios
dos olhos camuflados do nitrogénio
percebi quando folheio as páginas emagrecidas dos aniversários em tristeza
que aquele miúdo com ar aparvalhado
deitado num carrinho de bebé
não sou eu
(ranhoso sem cabelo e chorão)
não sou eu
que cresci dentro de um álbum completamente só
(Não são reais as fotografias onde habito
e percebi que eu pertenço a um álbum
onde apenas o meu rosto abre-se aos silêncios
dos olhos camuflados do nitrogénio)
completamente só penso eu
porque nunca me lembro de dar a mão a quem quer que seja
ou
ou simplesmente a afagar o cabelo de uma árvore em silêncio
e acorda a noite
e a noite me afaga o cabelo
e a noite me ouve
e a noite me deseja
entre palavras cigarros e garrafas de vodka
e o papel de parede da insónia
nunca me esquece
e antes de eu adormecer
dá-me um beijo simplesmente no rosto que nunca foi meu
e vive
e vive dentro de um álbum de fotografias
com alguns pedacinhos de cola
e percebo que o mar
o mar e percebo
e percebo que nunca existiu o mar
e que eu não sou aquele ranhoso
raquítico
chorão
tinhoso
na fotografia com um crucifixo ao peito...
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