quinta-feira, 3 de setembro de 2020

Dos olhos, um simples rochedo de carne

 

Dos olhos cansados,

O velhinho poema esquecido na tua boca.

Traz as amargas palavras,

Este poeta dos olhos cansados.

Quando regressa a noite,

Acorda o girassol envenenado pelo desejo

E, o amor floresce na alvorada.

O beijo evapora-se nos teus seios,

As bocas famintas se alicerçam na noite,

Quando o silêncio vai em busca de uma jangada

E, sei que as tuas mãos semeiam as minhas palavras

Na terra bloqueada pela solidão.

Hoje, o poema é a verdadeira razão de te amar,

Acariciar o teu cabelo

Como quem colhe as flores do deserto.

Dos olhos cansados,

A clareira dorme no teu peito,

Ama-a,

Como quem ama a vida.

Peço-lhe que me dê as palavras que sobejaram dos alicerces nocturnos

Que abundam na cidade perdida.

Hoje, não há poema que me valha…

Porque o amor é fodido

E, a paixão,

Um simples rochedo de carne.

 

 

Francisco Luís Fontinha, 03/09/2020

terça-feira, 1 de setembro de 2020

 

Suspenso na enxada da paixão, procuro a matriz transposta da noite, olho cansadamente para a equação diferencial do desejo, elevo ao quadrado o beijo e, fico com o corpo embrulhado no luar; hoje, pareço uma estrutura metálica prestes a ruir no cansaço da escuridão, como acontece aos pássaros, todas as noites, quando vão dormir.

Suspenso na enxada da paixão, sento-me perante este rio triste e sombrio, como eu, enquanto um estúpido relógio caminha para o abismo. Amanhã acordará o dia, faz-se homem e, morre junto à noite tranquila da aldeia.

 

 

Francisco Luís Fontinha, 1/09/2020

domingo, 30 de agosto de 2020

Pedras cansadas

 

Tenho um nome

Suspenso na maré madrugada,

Tenho um sorriso desenhado

No silêncio da espuma cansada.

Ó mar,

Marinheiro acorrentado à tarde,

Barco em papel,

Murmúrios entre esqueletos vazios

E, valentia.

Tenho um nome

Alicerçado ao tempo infinito,

Morte,

Desejo;

Minto.

Perdão, meu senhor,

Este corpo lamenta o nome prometido,

Às portas da cobiça,

Quando a maré,

Mentirosa em mim,

Se deita nos teus seios de cetim.

Esqueço.

Prometo prometer,

Que amanhã, pela tarde,

Vou em ti escrever,

As palavras de nada,

Nas palavras em lata.

Ó mar, água salgada,

Menino de luz,

Na pedra semeada,

Ó mar, mar das cores iluminadas,

Barcaça…

Sílabas espancadas.

Ó mar,

Quão amor; pedras cansadas.

 

 

Francisco Luís Fontinha, 30/08/2020