terça-feira, 26 de março de 2019

Oiço-te


Oiço-te.

Penso nas tuas sílabas quando poisam nos meus lábios,

Oiço-te, a cada madrugada, a cada hora passada,

Quando eu deitado, na esplanada encerrada,

Descanso de pessoal,

E, no final do dia, as palavras embriagadas,

Quebram o teu silêncio,

Como uma fechadura,

Pobre,

Nua,

Oiço-te.

Na vanguarda da noite,

Carregado de cartazes,

Lutando contigo,

Lutando…

Até que um dia, novamente,

Perderemos a guerra,

Já o senti,

Já o vivi,

Mas hoje,

Hoje tenho o prazer de te ouvir.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

26/03/2019

segunda-feira, 25 de março de 2019


Partiram, levaram o miúdo dos calões e o caixote em madeira,

Alguns tarecos, pouca coisa e fotocópias de fotografias envenenadas pelo silêncio, na algibeira, o amor, o desejo do mar, dos barcos e das coisas

Simples?

Os livros,

E das coisas sem nome,

Sombras de mangueira?

E beijos, das coisas travestidas de saudade, dos livros lidos nas entranhas do desejo, caminhávamos entre quatro círculos de luz, abraçavas-me como se abraçam os pássaros, as acácias e os pindéricos cabelos de nata,

Amanhã amo-te...

 

 

 

Francisco Luís Fontinha

In “Amargos lábios do poema”

domingo, 24 de março de 2019

Fim da vida


O ponto final da vida.

A morte prometida,

Sobre uma mesa empobrecida,

Quando os livros revoltados,

Descem a avenida,

Como soldados.

 

Pum. Fim da vida.

 

O silêncio.

Amo o silêncio dos pássaros, poisados nos teus lábios,

Doirados,

Doces,

Dos eternos namorados.

 

Grandes sábios.

 

Descem, sobem,

Sobem e descem,

 

Avenidas, ruas e ruelas,

Coitados,

Dos pássaros enamorados,

 

Entre lágrimas e velas.

 

Morre o poema na minha mão,

Sinto-lhe o esqueleto de dor, junto à noite,

Morrem todas as palavras do poema que morre na minha mão…

E coitadas…

Das janelas empoeiradas,

Velhinhas,

E, cansadas,

Como sexos apaixonados,

Nas sanzalas de prata,

A chuva miudinha,

Dos marinheiros em flor,

O cansaço, a desgraça do cio da madrugada,

Do meu primeiro amor.

 

Como eu quero escrever no teu corpo de sombra,

Na rua, uma montra,

Um par de calças esperando-me…

Sem saber que no final do dia,

Eu sentia,

A fórmula mágica das árvores apaixonadas,

As areias,

Os insectos envenenados pela fúria,

Não o sei, meu amor,

Nunca soube, meu amor,

Que o amor é uma merda,

Uma canção de revolta,

À volta,

Da fogueira.

 

Pum. fim da vida.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

24/03/2019