sexta-feira, 16 de setembro de 2016

Perdido


perdido,

corredor…

não existo neste cansaço,

nem permaneço neste espaço,

sou um pássaro envenenado,

cascata Princesa da madrugada,

desisto,

prometo caminhar sobre a água salgada

onde habitas… minha amada,

sem tempo,

sem espaço,

corredor…

o cansaço,

e a dor,

sinto no corpo as tempestades do Além…

e ninguém,

e nada…

consegue sobrevoar este esqueleto de pedra,

sentado,

me esqueço no silêncio,

me esqueço da alvorada,

perdido,

achado,

querido…

cansado,

no regresso das tuas mãos.

 

Francisco Luís Fontinha

sexta-feira, 16 de Setembro de 2016

domingo, 11 de setembro de 2016

O suicídio da pobreza


O sonho morre nas mãos do luar,

A insónia do meu peito, arde nos teus olhos,

E do sonho, pequenos panfletos de areia… voam em direcção ao abismo,

O papel onde escrevo alicerça-se aos teus lábios,

Fico sem palavras, também morro nas pétalas do sonho…

Fixando no olhar a tristeza do mar,

Assassino os meus dias com as pedras da solidão,

Cravo espadas na sombra da noite, como um pedestal apaixonado,

Louco,

O sonho morre,

Como eu…, aos poucos dentro da tempestade,

Sinto nas tuas mãos o poema em sofrimento,

Rodeado de finas lâminas de desassossego,

Nas mãos do luar,

Arde nos teus olhos,

Como um Deus desvairado…

Suspenso na madrugada,

Galgo as rochas do infinito adeus,

Percorro pirâmides de luz como uma espada queimada no meu peito,

E choro a ausência do esquecimento,

Da vida,

Da vida camuflada pelas marés de Inverno,

Os barcos cercados pelos anzóis da pobreza,

Marinheiros escorregadios…, saltam até ao próximo bar,

Bebem desenfreadamente os copos da alegria,

Sentindo no olhar a Cinderela manhã de inferno,

Escoa-se o tempo nas janelas do sofrimento,

Há nas pálpebras da doença o sentido proibido da morte,

As nuvens vão levar-me,

E a cidade desaparece no caderno onde desenho os teus beijos,

Como desapareceram todos os fantasmas do meu secreto olhar…

 

 

Francisco Luís Fontinha

domingo, 11 de Setembro de 2016

sábado, 10 de setembro de 2016

O medo dos teus olhos


Tenho medo dos teus olhos

Quando a noite inventa tempestades nos teus lábios,

Tenho medo do silêncio,

Medo do luar…

Tenho medo de amar…

Quando próximo do teu rio

Um tubarão espera por ti,

Tenho medo das tuas mãos

Quando os socalcos sobem à aldeia

E o teu corpo se transforma em perfume…

Tenho medo do teu cabelo

Entrelaçado no xisto da manhã

E um fino fio de oiro…

Vive na tua boca,

O beijo acorda do sonâmbulo relógio de prata,

Temos um horário moribundo,

Caquéctico

E sujo…

No pulso da solidão,

Tenho medo da cidade

Que habita nos teus seios

E expulsa todos os corações apaixonados…

Tenho medo dos bichos de papel

Que invadem os teus braços

E lançam sobre o oceano o medo…

O medo de ter medo

Dos teus olhos

Das tuas lágrimas,

Tenho medo da tua sombra

Incandescente

E triste

Nos jardins imaginários…

Tenho medo dos teus olhos

Que me alimentam a insónia…

Tenho medo dos amigos

Que inventam amigos e de amigos nada têm…

Tenho medo das pedras

Dos triciclos em pedra

E das madrugadas sem dormir…

Tenho medo da partida…

E de não regressar mais a mim

O medo dos teus olhos.

 

Francisco Luís Fontinha

sábado, 10 de Setembro de 2016