segunda-feira, 13 de abril de 2015

Não vejo televisão; apenas por opção.
Li hoje, á noite, alguns comentários sobre uma reportagem emitida na TVI, o Serviço Nacional de Saúde (caos nas urgências), não a vi, não posso comentar, mas pelos lidos por mim, concluí que o SNS é uma porcaria, um matadouro onde se desembocam cadáveres, sem dó nem piedade.
Sendo verdade, a dita reportagem devia abordar do que existe de espectacular no SNS. Por experiência, devido a doença Oncológica do meu pai (melanoma no couro cabeludo), infelizmente dos mais mortíferos, e já num estado avançado, tenho passado o último ano e meio no IPO-Porto, cirurgia inovadora, radioterapia, diversos exames (PET) sem nunca ninguém lhe perguntar ou dizer que
- desculpe, é caro não o vamos fazer.
Não.
Sempre fizeram os possíveis e impossíveis para lhe salvar a vida, sem nada em troca, e mesmo que o meu pai tivesse uma vida contributiva até aos 100 anos, nunca, nunca pagaria um décimo daquilo que o SNS já gastou com ele…
E nunca se esqueçam, e falo por conhecimento próprio, temos o IPO-Porto a nível mundial.
Obrigado a todos os profissionais dessa casa.
 
Francisco Luís Fontinha


Matraquilhos…


Gostava de escrever um poema

No

Teu corpo

Meu amor

O demorado segredo

Das

Tuas

Coxas de xisto

Entranhadas no Douro mágico

Enigmático

Como as minhas palavras

O desassossego

 

As palavras envenenadas pelos teus lábios de açúcar

Que a tempestade absorve

Não durmo

Meu amor

Com a tua ausência

E não sei quem és

E se existes

Em mim

Os carris da insónia

O comboio da noite levando-me para os teus braços

Mas…

Mas tu não existes

 

Meu amor

Pelo menos

Eu

Desconheço a tua presença

Gostava de escrever um poema

No

Teu corpo

Meu amor

Coma a caneta da saudade

O camuflado silêncio

No teu púbis

E sei que amanhã

 

Percebo a tua não existência

A vida

A morte

A vida e a morte

Entre parêntesis

Paragrafo

Travessão

Ponto final

A tua imagem de sílaba embriagada

Amanhã

Meu amor

As janelas da felicidade

 

Abertas

Entra-nos a madrugada

E os filhos da alvorada

Sentimos no peito

A tempestade

Do sorriso

A loucura

E a Torre de Belém

Dentro da minha algibeira

Gostava de escrever um poema

No

Teu corpo

 

Meu amor

Com o sémen literário do meu desgosto

A geometria invade-nos

Como nos invadiam as integrais triplas do desejo

A derivada do cosseno

A integral da cotangente

Sem ninguém

À vezes

O terceiro esquerdo

Drogado pelas cidades de esponja

E dos bonecos de palha

A matemática do teu corpo

 

Embrulhada

Em

Mim

A ardósia da incerteza

Tenho medo

Meu amor

Que o teu corpo seja uma jangada

E me leve

Até lá

Longe

De ti

De mim

 

De todos

Sabia que o dia acordaria limpo

Insignificante

Os dias

Meus

Meu amor

Não percebes que as cidades

As minhas cidades

São…

São crateras do poema enferrujado

As gaivotas em ti

Meu amor

 

O corpo

E o corpo

Ouvem-me?

A desilusão de amar

O não amado

O marco geodésico da madrugada

Descendo a Calçada

Sentando-se no rio

A desenhar matraquilhos…

No pavimento cinematográfico das cordas de vinil

Sem o saber

O mar dentro de minha casa.

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Segunda-feira, 13 de Abril de 2015

domingo, 12 de abril de 2015

As lagartas da insónia


Sinto-te

Nesta jangada invisível

Do sofrimento

O cansaço

À palavra

Na tua mão

Entre cidades

Rios

Pontes

Os olhos

Fundeados nos rochedos da solidão

O prateado silêncio


Nas paredes do sono

O poema inventado

Pela árvore adormecida da tristeza

Sinto-te misturada nas ardósias tardes de Primavera

Não chove

Há nos teus lábios

O sorriso do luar

E os sonhos

Do mar

Lá longe

Perdido

Nos sofridos barcos de esferovite

Os peixes e as gaivotas

Poisadas no teu corpo

Alimentado pelo meu olhar

Voas

Foges

Levantas-te de madrugada

E regressas ao endereço desconhecido

Devolvida por endereço insuficiente

A noite

E

As estrelas de papel

Sinto-te

Nas arcadas manhãs em liberdade

Sinto-te nas sanzalas esquecidas

Sobrevoando o capim da memória

A casa distante dos teus braços

As janelas do teu cabelo

Sós

Nós

Entre socalcos

E

E marfim

Ao pequeno-almoço

Sinto-te

Nos horários ensanguentados do pêndulo amortecido

Uma lagarta de aço

Em curvilíneas convulsões

O medo

O amor aprisionado ao medo

De partir

Regressar

Sem bagagem

Sós

Numa eira sem asas

Esperando o acordar das estátuas

As lagartas da insónia

Os muros amarelos de um triste Calçada

O estuário dos teus seios contra as marés de prata

Sinto-te

E sinto-te nas páginas em branco

Do ciúme

Teu

Amanhã

Sinto-te

Sentir-te

Nos lençóis da paixão

Como sentia em criança os palhaços nas mangueiras do meu quintal…

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Domingo, 12 de Abril de 2015

Ouves-me Meu amor?


Ouves-me

Meu amor?

Os pássaros e as flores

Têm sonhos…

Amam

São amados

Brincam nas calçadas de luz

Recheadas de flores

E promessas

A vida parece-me um cadáver

Ensanguentado

Tão frio

Meu amor

Tão frio…

O teu corpo imaginado

Que só o espelho do meu quarto

Consegue projectar

No teu olhar

Flácidas manhãs

Meu amor

Canções de cansaço

Descendo a Calçada da Ajuda

Tropeçava em ti

Meu amor

E caia junto ao rio

Completamente

Meu amor

Embriagado pelas palavras do teu silêncio

Adormecido

Tristes

Ausências

Sem

O destino

O menino

Dos calções

Galgando marés de inferno

Ao pequeno-almoço

Torradas

Leite

Café

O barco

Cambaleando na solidão do vazio

Demoradas veias de argamassa

As construções erguiam-se até a Céu

Sentia todas as manhãs

O cheiro das palavras

Tão frias

Como o teu corpo

Meu amor

Do mármore cancerígeno

O teu sorriso vestido de esperança

O dia estava tórrido

E

Tombava no pavimento das lágrimas

A parada

Uma velha espingarda

Meu amor

Os pássaros e as flores

Sonham?

Amam?

Se apaixonam

Como

Nós

Meu amor?

Como sei se me amas

Se ouves todos os dias os meus poemas

Embalsamados nas ruelas da Ajuda

O frio

Teu

Corpo

Em viagem

Em gravitação

Os lençóis impregnados de desejos

Rodas dentadas

E parafusos

Os moldes

E as equações

Embrulhadas no cemitério da vaidade

Meu amor

A vida

Depois

Da morte

A vida depois da morte?

Acreditas?

Meu amor…

Os guindastes das dores de cabeça

As guitarras brincando numa eira

Longe

De ti

Que

Não

Sei

Se

Existes

Existes

Meu amor?

Como será a alvorada em Marte

Meu amor!

Descia

Descia

E

Tu

Subias

Subias

Descia

Acordava em Cais do Sodré

Trazia uma lápide de sono

Na testa

Amo-te

Ouvia-se dos paralelepípedos da razão

Os uivos do cão

Havia sempre um gajo pronto a engatar

E outro

Meu amor

E outro sempre pronto para ser engatado

Os beijos

Meu amor

Subíamos a Calçada até às cinco da madrugada

Descíamos até ao Tejo

Tu

Suicidavas-te

Depois

Eu

A olhar-te

Como hoje

Sem ninguém…

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Domingo, 12 de Abril de 2015

sábado, 11 de abril de 2015

Os pecados


Não sei

Meu amor

Porque poisam em mim as estória de luz

Às vezes amo-te

Não desconheço se tu

És

Um livro, um poema, uma imagem ou um triciclo em madeira

Poderias ser o regressar ao ponto de partida

Luanda

Mil novecentos e sessenta e seis

Número três

Vila Alice

 

Os berros e os espirros dos automóveis pôr-do-sol

A naftalina do olhar

Na gaveta do sexo

Imagino o teu corpo

Meu amor

Um odor de palavras

Inseminadas por uma caneta de tinta permanente

Permanente

Eu

Aqui

Nesta

Vida de “merda”

 

Nunca

Meu amor

Quis

Nunca meu amor

Quis ser poeta

Sei que não o sou

Nem serei

E nem quero

A paixão da alma

Na fala desenhada

Pela mão do murmúrio

A aldeia em chamas

 

E os transeuntes

Entre estradas de gelo

E bermas de cansaço

Não

Meu amor

Não existem noites coloridas

Em sapatos em verniz

Bicudos

As calças embrulhadas nos tornozelos

E os ossos embalsamados

Alimentava-me dos teus lábios

Meu amor

 

Perdi

Tudo

A imagem da tridimensional alegria

Hoje

Sou

Um

Gajo

Triste

E tímido

Como as andorinhas da tua casa

Os torrões de açúcar dos melancólicos teus seios

Sou

 

Um

Gajo

Triste

E tímido

Hoje

As equações dormindo debaixo da cama

(o gajo está apaixonado)

Os palermas acreditando que

Amanhã

Um

Gajo

Tímido

 

Tão cinzento

Como a própria noite

Sem vaidade

Número de polícia

Ou

Ou cidade

As máquinas assassinam

O dormitório do prazer

A cama

Meu amor

Desfeita

Em aventuras de algodão

 

E

Não

Não pertenço aos teus símbolos de sombra

Deixei de ter janelas

E portas

A minha casa

Sem

Telhado

Sem

Meu amor

Não

Não esta triste cidade

 

Sem shots de tristeza

Ou

Sexo

Barato

Sabes

Meu amor?

A inveja é uma chávena de café-com-leite

E torradas

A neblina invade

Os

Teus olhos

A neblina invade os teus olhos

 

Entre cartas e telegramas

Mãe?

Sim

Meu amor

Fui

Assaltado

Stop

Envia

Dinheiro

Ok

Beijo

Não meu amor

 

Não sei a cor dos teus olhos

Nem da tua pele

Não

Não meu amor

Amanhã é sábado

E não sei se te amo…

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sábado, 11 de Abril de 2015