Gostava
de escrever um poema
No
Teu
corpo
Meu
amor
O
demorado segredo
Das
Tuas
Coxas
de xisto
Entranhadas
no Douro mágico
Enigmático
Como
as minhas palavras
O
desassossego
As
palavras envenenadas pelos teus lábios de açúcar
Que
a tempestade absorve
Não
durmo
Meu
amor
Com
a tua ausência
E
não sei quem és
E
se existes
Em
mim
Os
carris da insónia
O
comboio da noite levando-me para os teus braços
Mas…
Mas
tu não existes
Meu
amor
Pelo
menos
Eu
Desconheço
a tua presença
Gostava
de escrever um poema
No
Teu
corpo
Meu
amor
Coma
a caneta da saudade
O
camuflado silêncio
No
teu púbis
E
sei que amanhã
Percebo
a tua não existência
A
vida
A
morte
A
vida e a morte
Entre
parêntesis
Paragrafo
Travessão
Ponto
final
A
tua imagem de sílaba embriagada
Amanhã
Meu
amor
As
janelas da felicidade
Abertas
Entra-nos
a madrugada
E
os filhos da alvorada
Sentimos
no peito
A
tempestade
Do
sorriso
A
loucura
E
a Torre de Belém
Dentro
da minha algibeira
Gostava
de escrever um poema
No
Teu
corpo
Meu
amor
Com
o sémen literário do meu desgosto
A
geometria invade-nos
Como
nos invadiam as integrais triplas do desejo
A
derivada do cosseno
A
integral da cotangente
Sem
ninguém
À
vezes
O
terceiro esquerdo
Drogado
pelas cidades de esponja
E
dos bonecos de palha
A
matemática do teu corpo
Embrulhada
Em
Mim
A
ardósia da incerteza
Tenho
medo
Meu
amor
Que
o teu corpo seja uma jangada
E
me leve
Até
lá
Longe
De
ti
De
mim
De
todos
Sabia
que o dia acordaria limpo
Insignificante
Os
dias
Meus
Meu
amor
Não
percebes que as cidades
As
minhas cidades
São…
São
crateras do poema enferrujado
As
gaivotas em ti
Meu
amor
O
corpo
E
o corpo
Ouvem-me?
A
desilusão de amar
O
não amado
O
marco geodésico da madrugada
Descendo
a Calçada
Sentando-se
no rio
A
desenhar matraquilhos…
No
pavimento cinematográfico das cordas de vinil
Sem
o saber
O
mar dentro de minha casa.
Francisco
Luís Fontinha – Alijó
Segunda-feira,
13 de Abril de 2015
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