quinta-feira, 3 de julho de 2014


A caixinha envidraçada, suspensa na madrugada, sentia-se o silêncio no espelho da mágoa, havia entre nós o sentimento de que nunca mais regressávamos, partíamos..., e
Sentia-me escuro, desabafava com o meu pai, e ele, não tenhas medo, não, meu filho,
Dentro da caixinha trazíamos pedacinhos de saudade, poucos tarecos e amanheceres de nada, partíamos para o desconhecido, partíamos sem sabermos o que nos esperava, lá longe, ma Metrópole,
Pai? Sim filho, o que é... essa coisa de..., Metrópole, meu filho? Sim, sim pai, é a nossa terra, responde-me ele secamente, não percebi, pois sempre ouvi (com todas as letras) dizer que a minha terra era Angola, não...
Não essa Metrópole, não essa coisa de..., deixa lá pai, não faz mal, depois explicas-me, e cresci, e vivi, ou melhor, fui vivendo sem perceber o significado de Metrópole, esta angústia, este desassossego, sentia-me enforcado numa sombra de uma das mangueiras do meu quintal,
Sentia-me escuro, desabafava com o meu pai, e ele, não tenhas medo, não, meu filho, e eu perguntava-me por era tão grande aquele paquete de papel..., pai? Sim, filho, não tenhas medo, meu filho, não tenhas...

(…)


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quinta-feira, 3 de Julho de 2014

quarta-feira, 2 de julho de 2014

Poemas molhados


Este Oceano que me alimenta,
este cansaço que me habita, e se afugenta,
este corpo que desenha um abraço na janela que levita,
estes lábios secos, trémulos... e desorientados,
estes poemas molhados,
que a tua mão aquece,
e merece,
a minha mão sentida, a minha mão sofrida,
este Oceano que me engole,
e come como se eu fosse uma bandeira,
ai, ai este corpo que não dorme,
este corpo esquecido nos cabelos de uma ribeira...


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quarta-feira, 2 de Julho de 2014

terça-feira, 1 de julho de 2014

A estrada


Observo num espelho curvo a implosão do meu desejo,
há uma estrada que circula nas minhas veias,
sentamos-nos,
e tu, tu ignoras a palavra mágica retirada de uma nuvem sombreada pelo amor,
pergunto-me o significado de...
amor?
não, não... pergunto-me o significado de pecado,
quando a implosão do meu desejo se desvanece,
adormece sobre ti...
e o espelho acompanha-nos até à morte,
há uma estrada que és tu quando me abraças,
ou... abraçavas,

Há uma estrada salpicada de mar,
e palavras indefesas que procuram a noite,
uma noite tranquila, uma noite transatlântica...
parva,
romântica...
e pergunto-me o significado de...
amor?
não, não... pergunto-me o significado de voar,
quando os teus lábios se masturbam na claridade do luar,
há flores,
há... essa maldita estrada,
tão longínqua... e... e cansada.


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Terça-feira, 1 de Julho de 2014