domingo, 20 de outubro de 2013

Bonitas, moças donzelas, meninas e meninos...

foto de: A&M ART and Photos

Preciso dos teus beijos,
Dizes-me tu,
E não percebes, e não entendes, e
Nunca tive beijos para dar, que nunca tive beijos para oferecer, vender... que sou um imbecil desgovernado caminhando sobre os carris da solidão, não percebo, não entendo, como tu
Para que precisamos de beijos?
Tudo à minha volta estremece, a imagem do meu portátil enlouqueceu, treme... treme como varas verdes depois do vento entrar pela janela, treme como tu, quando ouves, ou ouvias, ou sei lá o quê
A minha voz?
A tua voz parece um esconderijo em papel, as vogais mal pronunciadas, as sílabas amedrontadas com os meus olhos escondem-se nas clandestinas palavras que um muro da cidade acolhe como quem acolhe o mendigo do rés-do-chão
Oiço-os
(Nunca tivemos sorte nenhuma)
Oiço-os balançar como esqueletos de vidro pendurados nas árvores com cavernas de granito e as vozes que se entranham nas algibeiras da ganga gasta e desgasta nas Primaveras em construção são-o e talvez não o pareçam
(Orgasmos sonolentos de velhos recheados com artroses e reumático)
Preciso dos teus beijos,
Dizes-me tu,
E não percebes, e não entendes, e desconheces que em mim nada de bom existe, sou uma nuvem pintada com tinta acrílica negra, esponjoso o meu coro absorve todas as lágrimas dos jardins sem capitão, ao leme um vulto que todos apelidam de O Senhor Das Montanhas Do Sol Adormecido, e assim vamos correndo entre o aço paralelo, e assim vamos
Vivendo?
Diz-me tu, se isto é vida? Os veados encurralados nas ardósias da tarde, começam a voar e daqui a nada estão novamente junto dos alegres dias com chuva e uma lareira na sala de estar a derreter livros, palavras e afins...
Vivendo, como?
Diz-me tu como é o outro lado da muralha, se há árvores, pássaros, se há rios e gaivotas e barcos e ilhas e mulheres bonitas
Gajas?
Diz-me tu porque tombaram os versos das crateras de centeio nos campos de Carvalhais? E oiço-os como se eles estivem à minha frente
Quem são eles?
Voilá... POP DEL ARTE... e voláteis pasteis de Belém nas catacumbas da solidão adormecem como cadáveres de silicone,
(o rabo, as mamas, a cabeça... a massa encefálica... tudo é em silicone... e coitadas)
Dançam como ventoinhas na pinta de dança, as meninas não pagam...
Mas... Também não bebem,
Voilá... Le POP DEL ARTE, e La Maisom quiçá, também ela em
Silicone?
Não aguento mais estes carris em aço, sempre paralelos, sempre abraçados, sempre...
Diz-me tu como é o outro lado da muralha, se há árvores, pássaros, se há rios e gaivotas e barcos e ilhas e mulheres bonitas
Gajas?
Bonitas, moças donzelas, meninas e meninos... O CIRCO TERMINOU...

(não revisto – ficção)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 20 de Outubro de 2013

sonolências

foto de: A&M ART and Photos

oiço em ti a sonolência da tarde
ocorre-me desistir de sonhar
olhar-me ao espelho da incerteza
viajar pelos destinos caminhos que vão ter ao mar...
oiço em ti
sonolentos mergulhos das andorinhas repatriadas pela incensa escuridão

oiço em ti a sonolência da tarde
que baloiça nos teus lábios como xisto pregado ao cansaço da noite
oiço
e não entendo os sinais perfumados das sílabas embainhadas que deixamos na cidade dos nus...
pareço um pedestal à espera de uma estátua
e sei que nunca mais haverá madrugadas em flor

(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 20 de Outubro de 2013

Este cigarro pertence aos habitantes carrancudos das aldeias em flor

foto de:A&M ART and Photos

Este cigarro de melancolia nunca me pertenceu, no entanto habita em mim há quarenta e sete anos, fuma-se, desgasta-se, depois fica como novo, pronto a acender-se, pronto a iluminar-me como se em mim existisse uma janela virada para a montanha e da minha cama os lençóis de vidro em gemidos constantes, vibratórios, oscilações melódicas e poéticas nas mãos do Outono, são quase horas de adormecer e percebo que lá fora ainda brincam as neblinas pálpebras da tarde, mesmo assim, oiço-a, olho-a com uma criança pela mão, elas brincam, elas parecem felizes, e
Este cigarro sempre a desprender-se, sempre a extinguir-se como uma sepultura de carvão mergulhada no cimento névoa dos andaimes murmúrios que os lábios exageram quando tu
Eu?
Ela saltita entre mãos e cabelos de vento, soltam-se os primeiros beijos nas asas do anjo solitário, ele é assim,
Assim?
Eu, eu pertenço às neblinas lágrimas de insónia que acompanham a noite,
Pensava que ela era minha filha, poderia sê-lo se não fosse o raio do...
Não o é,
Nunca o será,
Este cigarro pertence aos habitantes carrancudos das aldeias em flor e lá fora oiço-os, em longos gritos de sabão
(ACABOU-SE A DITADURA E A ESCUMALHA PRETORIANA)
Este cigarro e estes gajos, nojentos vermes como línguas de azoto nos cornos da Lua, podia ser o seu filho, podia ser o seu cigarro, e podia ser a sua noite, mas tudo, mesmo tudo, perdeu quando de um velho cortinado apareceu uma rosa sombreada com bolinhas encarnadas, podia ser o seu filho
Meu filho? Impossível...
A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E...
(ACABOU-SE A DITADURA E A ESCUMALHA PRETORIANA)
A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E... A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E... A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E...
Este filho que poderia
Mas não o é,
Poderia ser o teu filho, uma menina que brinca com uma Primavera de olhos castanhos e braços loiros, uma menina que saltita de cadeira em cadeira no café, saboreio-o e lembro-me de quando era como ela, e lembro-me de quando ele poderia ser,
Mas...
Claro que não o é porque se o fosse eu saberia, eu perceberia, eu, eu, eu, eu...
A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E...
Claro que não o é porque se o fosse eu saberia, eu perceberia, eu, eu, eu, eu..., eu teria o prazer de abraçá-la como se fosse minha, e não o é, e este cigarro parece louco, feliz, contente, arde docemente nas tuas mãos e pertence aos tubarões de limalha que deixamos ficar sobre a mesa-de-cabeceira num hotel em Lisboa, parecíamos filhos de Belém, e não o éramos, parecíamos filhos de um rio
E nunca o fomos,
Parecíamos um corpo decadente e nunca o fomos porque estávamos sempre em ebulição, éramos água dentro de uma panela de pressão, ouvíamos o apito do comboio quando da janela apenas sentíamos as vertigens da noite anterior, poderia ser o teu
O meu?
Sim, o dele, e no entanto...
Claro que não o é porque se o fosse eu saberia, eu perceberia, eu, eu, eu, eu...Claro que não o é porque se o fosse eu saberia, eu perceberia, eu, eu, eu, eu...Claro que não o é porque se o fosse eu saberia, eu perceberia, eu, eu, eu, eu...
E no entanto somos apenas duas locomotivas descarriladas, duas vozes... duas vozes quase roucas, quase, quase...
A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E... A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E... A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E...
Quase mas não o é, e sinto-a e vejo-a a brincar com a mãe como se ela fosse a minha mãe e a outra ela, eu
Uma feliz madrugada em flor.
(A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E... A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E... A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E...)

(não revisto – ficção)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 20 de Outubro de 2013