terça-feira, 15 de outubro de 2013

O mar inventa-te e escreve-te como se tu fosses a mulher mais bela das marés de Outono

foto de: A&M ART and Photos

Do amor cansaço dizem-me as persianas do amanhecer, uma gaivota gira como um pião na mão de uma criança, do amor, dizem-me, da madrugada até ao desaparecer do sol que existem árvores com perfume de sonho, que vivem castelos de orvalho na ponta dos dedos da mão da criança que brinca com o pião, do amor, sinto-a mover-se como uma enxada mergulhada na crosta sincera do infinito luar, uma nuvem diz-me que todas as ruas da tua cidade extinguiram-se como pássaros em madeira estrangeira, há uma névoa de soalho esquecido no teu peito... e
Do amor,
O mar crescido nas planícies juntamente com a névoa de soalho
Na lareira?
O amor, o corpo incendeia-se, arde, evaporam-se as cinzas húmidas dos candeeiros de halogéneo quando as despedidas acordam, dois corpos se abraçaram, três corpos fingem olhar o rio, as lágrimas de três esqueletos são cortadas com a tesoura de costura da mãe Arminda, desenhava, recortava modelos em papel, depois, depois pegava num pedaço de pano e com a ajuda das sombras esquinas dos compartimentos exíguos... construía vestidos em chita para um palhaço de areia, e a morte ficava à entrada da porta, não entrava, tinha medo do boneco em palha que funcionava como espantalho, o milho ficava a salvo das garras dos melros e restante família e das tempestades embriagadas das noites intermináveis,
Na lareira? O mar crescido inventava lábios rosados na tua boca de livro apaixonado, havia entre nós uma ponte em esparguete, calculada por mim... não resistiu aos diversos ferimentos e partiu, e nunca mais regressou, as migalhas de ti, na minha algibeira, sinto-as quando puxo o lenço, sinto-as quando ainda acredito que tenho cigarros no bolso...
Meto a mão e em vez de cigarros
Tu?
O mar inventa-te e escreve-te como se tu fosses a mulher mais bela das marés de Outono, o mar parece um espelho repartido por vários inquilinos, grita o presidente do condomínio
Quem é a favor da expulsão da inquilina do sexto esquerdo levante a mão,
Ninguém,
O presidente do condomínio triste como abelhas em dia de feriado,
E tu, tu meu menino que brincas com o pião na tua mão mão, és a favor ou és contra?
O miúdo...
Quero lá saber... nem de cá sou,
O mar não é meu, o mar é apenas um quinto das migalhas de ti que trago na algibeira, o amor, o corpo incendeia-se, arde, evaporam-se as cinzas húmidas dos candeeiros de halogéneo quando as despedidas acordam, dois corpos se abraçaram, três corpos fingem olhar o rio, as lágrimas de três esqueletos são cortadas com a tesoura de costura da mãe Arminda, desenhava, recortava modelos em papel, depois, depois pegava num pedaço de pano e com a ajuda das sombras esquinas dos compartimentos exíguos...
Vestia o mar com insónias de chita, o pião sentia-o... como hei-de dizer... o pião esconde-se nas cordas e
O amor, o corpo incendeia-se, arde, evaporam-se as cinzas húmidas dos candeeiros de halogéneo quando as despedidas acordam, dois corpos se abraçaram, três corpos fingem olhar o rio, as lágrimas de três esqueletos são cortadas com a tesoura de costura da mãe Arminda, desenhava, recortava modelos em papel, depois, depois pegava num pedaço de pano e com a ajuda das sombras esquinas dos compartimentos exíguos...
(Na lareira? O mar crescido inventava lábios rosados na tua boca de livro apaixonado, havia entre nós uma ponte em esparguete, calculada por mim... não resistiu aos diversos ferimentos e partiu, e nunca mais regressou, as migalhas de ti, na minha algibeira, sinto-as quando puxo o lenço, sinto-as quando ainda acredito que tenho cigarros no bolso...
Meto a mão e em vez de cigarros)
Engraçadinha,
Que mais fará plopque...
O portátil pifou,
Engraçadinha,
Meto a mão e em vez de cigarros
Tu?
Adormecias nos meus braços...


(não revisto – ficção)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Terça-feira, 15 de Outubro de 2013

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Mágico espelho das palavras teus lábios


Um espelho perfumado olha-te e absorve-te, um espelho magoado puxa-te, e mergulhas no silêncio da penumbra lareira do desejo, olhas-te, e finges viver na solidão dos pássaros, perguntas-te
Quem sou?
E um emaranhado de palavras são pinceladas nos teus lábios de cetim, adormeces e vives, e sonhas
Quem sou eu, perguntas-te...
Um espelho suspende-se nas tuas costas e entranha-se na tua coluna vertebral... há sons melódicos na tua boca, há poéticas sílabas nas tuas mãos..., e

Quem sou eu?
E percebes que o espelho perfumado olha-te e absorve-te, e percebes que és filha das palavras, e percebes que és filha das imagens... e percebes
Que sou a noite?
Quem sou?
Um espelho, perfumado, um espelho perfumado com coração de cacimbo... perdido na areia.

@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Segunda-feira, 14 de Outubro de 2013

poéticas madrugadas de ninguém

foto de: A&M ART and Photos

poéticas madrugadas de ninguém
mergulhadas no mar parecendo um veleiro embriagado
coitado...
poéticas manhãs sem sentido que da vida absorvem as tristes palavras de viver
as tristes caligrafias embainhadas no sofrimento alheio...
pensava-te dentro do meu corpo de estanho
montanha arrefecida depois da explosão de insónias labaredas em lábios de incenso
as tristes
poéticas madrugadas de ninguém
porque o são adormecem sem o saber
comendo magoados corações de areia
e bebendo as tempestades das sanzalas com telhados de vidro
poéticas tuas mãos
que poisam sobre o meu ombro curvado na sombra nocturna dos corredores sem portas
há fotografias perdidas que acordam de vez em quando
hoje umas
amanhã...
… as outras
todas elas poéticas madrugadas de ninguém
que ardem
e se extinguem no sonho de uma criança
esquecida
perdida...
perdida dentro do curvilíneo livro da infância


(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Segunda-feira, 14 de Outubro de 2013