quinta-feira, 26 de setembro de 2013

coisas sem nome

foto de: A&M ART and Photos

as coisas sem nome
que absorvem o meu cansaço
as coisas longínquas entre pedaços de esperma
e insignificantes abraços

as coisas sem nome
que vivem tristemente no silêncio da neblina
à coisa pouca que o meu olhar ilumina...
as coisas que tu escondes
os nomes que inventas nas páginas de um livro
as letras doentes
às letras dormentes
sofredoras no peito da paixão
as coisas mortas e mornas
quando a lareira dos teus lábios
desce às profundezas da demência...
e um corpo amorfo flutua no tecto da noite embriagada

as coisas sem nome
as coisas disfarçadas de fome
que vivem e sobrevivem às tempestades dos abraços
em laços
sem nome
as coisas
as coisas imperfeitas dos muros da cidade dos queijos...
as coisas das coisas em planícies agrestes

os beijos
das coisas
em coisas...
caminhos pedestres
bocas magoadas
inchadas
dos fumos cinzentos das plantas sem nome
as coisas das coisas em coisas às coisas com fome


(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quinta-feira, 26 de Setembro de 2013

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

tão poucos

foto de: A&M ART and Photos

somos tão poucos
quando entram em nós os alfinetes da tristeza
somos tão loucos...
e moucos
nas mãos da fada beleza

somos as palavras embriagadas
que dormem no planalto da estória
somos as pobres geadas
cansadas
nos esconderijos sem memória

somos tão poucos e de poucos morremos num veleiro apaixonado
somos o povo revoltado coração
pulsando como um feroz cansaço embalsamado...
gritando uivos de um vidro estilhaçado
na insónia de uma mão

somos tão poucos
quando dormem nos nossos lábios as gaivotas em cio
somos tão loucos
e loucos
de poucos e moucos nas queixas de um rio

(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quarta-feira, 25 de Setembro de 2013

terça-feira, 24 de setembro de 2013

os mabecos na insónia do amanhecer

foto de: A&M ART and Photos

ouvíamos os mabecos embrulhados na insónia do amanhecer
e tínhamos sobre o imaginário silêncio
as palavras pergaminho de sons invisíveis que as árvores desenhavam nos teus lábios de gaivota apaixonada
tombavam como enxadas derramando suor e lágrimas nos socalcos do desejo
descendo o teu corpo
e mergulhando no rio como pequenos delírios de luz

ouvíamos os cubos de gelo gorgolando na tua garganta de caverna madrugada
e ao longe
o vento trazia-nos a flor embalsamada com pequenos colarinhos em prata
e uma mão desalmada
entranhava-se nas tuas coxas de xisto
o muro da solidão tombava
a árvore tombou
e as tuas mãos de porcelana
partiram-se enquanto a noite sorria à janela do cinzento cobertor da dor
como um longínquo fôlego caminhando nos carris da tristeza
ouvíamos
e ao longe a andorinha desassossego morria em pedaços de saudade e melancolia

ouvíamos...
chovia
a cansada abelha dos triângulos de chocolate
e ouvíamos
e chorávamos
as palavras sem palavras dos cigarros adormecidos em palavras semeadas

(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Terça-feira, 24 de Setembro de 2013