domingo, 7 de julho de 2013

Se partires, partirás como sempre o desejaste, simples, simples demais...

foto: A&M ART and Photos

Percebia pela forma do teu corpo que eras construída de uma massa esponjosa, preenchidas as cavidades onde começaram a habitar borboletas, abelhas e flores anónimas, vieram os plátanos, o criador trouxe a luz e a noite, fez com que os plátanos se sentassem em frente ao mar, havia suspiros de vento aqui e além, pouca coisa, percebia pelos teus medos que pouco tempo permanecerias perto do meu jardim, porque da eira chegavam as abrasadoras palavras como brasas em insónia na lareira da casa de Favarrel, olhava-te nas poucas palavras que te escrevi
E
Pouca coisa, em três ou quatro linhas,
E depois vesti-me, saí de casa pensando que te encontraria sentada no colo dos plátanos, não era verdade, o meu sonho tinha-se destruído como acontece com as teias de aranha, quando alguém lhes toca, e desiludem-se os corpos mergulhados em fenol,
E,
E pouca coisa, em três ou quatro linhas, curtas e magras, despedi-me de ti...
Olhavas-me nas poucas palavras que me escreveste, percebia pela forma do teu corpo que seria o fim, uma anunciada despedida, e das esponjosas cavidades, inutilmente desejadas pelos desconhecidos novos habitas de ti, partiste sem dizer até amanhã,
Parti sem dizer nada, lançando-me do cimo do Inverno... até encontrar uma Primavera de claridade, até perceber pela forma do teu corpo..., que havia uma outra estrada paralela à que deixamos adormecer,
Hoje
E pouca coisa,
Hoje olho-te nas poucas palavras que pensava ter-te escrito e que dou-me conta, nunca o fiz
Porquê?
Coisa, pouca, quase nada, porque a morte se apressa, e a vida se esgota como pequenos silêncios nas mãos de uma flor, a morte vai levar-te, tal como a mim, e depois, encontrar-nos-emos entre o Jardim Doutor Matos Cordeiro e o infinito, fumaremos cigarros inventados e conversaremos de coisas banais, o relembrar de memórias, pequenas longas histórias, palavras deixadas cair nas minhas confidências que me ouvias... e falávamos, e fumávamos, e bebíamos..., se partires, partirás como sempre o desejaste, simples, simples demais,
Hoje,
Percebia pela forma do teu corpo que eras construída de uma massa esponjosa, preenchidas as cavidades onde começaram a habitar borboletas, abelhas e flores anónimas, vieram os plátanos, o criador trouxe a luz e a noite, fez com que os plátanos se sentassem em frente ao mar, havia suspiros de vento aqui e além, pouca coisa, percebia pelos teus medos que pouco tempo permanecerias perto do meu jardim, porque da eira chegavam as abrasadoras palavras como brasas em insónia na lareira da casa de Favarrel, olhava-te nas poucas palavras que te escrevi, e que ele sabia da tua existência,
Meu Deus, quantas noites ele passou a ouvir os meus lamentos, quantas noites vimos nascer o sol, e esperávamos o regresso do mar, que ainda hoje,
Porquê?
Porque a vida é assim, uns partem e regressam, outros partem sem nunca mais regressar..., e tu, e eu, um dia, viveremos entre um banco de jardim e o infinito amanhecer..., se partires, não deixes que te encerrem as janelas viradas para o mar, e nunca, nunca deixes de olhar as rochas... e os barcos de papel como gaivotas a virem comer nas tuas mãos.

(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha

E uma mão escreve na parede dos teus lábios as canções desesperadas

foto: A&M ART and Photos

Submergem de ti os pequenos silêncios da alvorada
abres as pálpebras embebidas nas lágrimas da insónia
mergulhas em mim como um arbusto suicidado no rio do desassossego
sinto-te fervilhar como uma gaivota em cio
sobrevoando os socalcos imaginários da encosta montanha
e da tua boca
os pequenos gemidos
latidos contra o muro em betão que separa o cais do amor da sulfurosa água da fonte velha,

Oiço-o como se vivessem em ti os braços espetados no dorso magoado da árvore do desejo
e depois da janela partida os vidros esperam a chegada do vento
e uma mão escreve na parede dos teus lábios as canções desesperadas
dores inventadas no teu coração,

Submergem de ti os pequenos barcos do louco marinheiro...
e as ondas púrpuras que os teus olhos alimentam
descem do corpo cerâmico... como as tempestades de areia
nuvens de chocolate...
ventos desconformes
assim como o divã onde nos deitávamos
depois de poisar o Sol sobre as tuas canelares flores de papel...
assim como um orgasmo supérfluo no esqueleto nocturno do extinto Luar.

(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha

Porque és a noite à procura do desejo

foto: A&M ART and Photos

Porque és a noite
ofereço-te todas as minhas forças
dou-te os meus braços
desenho-me nos teus seios
porque és a noite
invento-me nos teus lábios
e saboreio a tua doce boca de cereja adormecida...
porque és a noite
saio de mim
do meu corpo
e voo... voo como um milhafre à procura do desejo
que se esconde no mar.

(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha