sábado, 15 de setembro de 2012

amor cinzento

este amor cinzento
afogado na garganta do deserto
este amor
doente
sem vento
que corre magoado dentro dos cortinados da noite
insensato homem de xisto com um coração de vulcão
este amor fino e doente e cinzento
como uma tempestade de granizo
e um ferro de insónia na mão
à procura de um olhar aberto
no ventre doente dos cortinados da noite

há ovos sem juízo
recheados com chocolate e pedaços de mel
este amor
ausente
lentamente
mergulhado em dor
e finíssimos beijos de papel
em suor amor flor...

estes lábios filhos do amor cinzento
este mar ausente
no lamento
das noites mergulhadas no sono do desejo
fio de beijo
na janela sem vidros para a felicidade

(levantava-me silenciosamente
e via os barcos de algibeira em algibeira
de boca em boca
de mesa em mesa
as garrafas da vodka suspensas no tecto que o púbis da dor engolia
os ciúmes
os fósforos silenciosamente
comprometidos com os alpendres do amor cinzento)

e eu era feliz...

hoje
meia dúzia de palavras burburinham nos restos da maré
e nos meus olhos os óculos escuros da morte
perdidos na planície do amor cinzento

e eu era feliz.

(poema não revisto)

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

As montanhas do mendigo viver

Há uma pedra cansada
em cada mão do moribundo amanhecer
há pedaços de aço inoxidável
prontos a derreter

há um ramo de rosas sem amor saudável

há uma manhã em delírio
e dos teus olhos margaridas e um misero gladíolo
perdido nos ponteiros do teu relógio de pulso

há arroz avulso
e cigarros feitos por medida
há caixões em promoção
e há a minha noite
uma noite estupidamente entupida
dentro das árvores do azar
e nos lábios do desprazer
a lua comida pela neblina
há o mar
o mar misturado com o ouro roubado nas ruelas da cidade
o ouro infestado de saudade
que engole o coração

o meu coração
há um coração no meu peito sem dono sem palavras das bocas
loucas
todas as montanhas do mendigo viver.

(poema não revisto)

Os beijos da solidão

Não sabem a nada
são secos
murchos
e dormem no vácuo da noite,

Não sabem a nada
os beijos da solidão
nos lábios da madrugada.

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

À espera que acordem as palavras da tua mão

Tristemente desiludido
com as palavras da tua mão
perdido
eu
sem coração

tristemente suspenso no céu
abraçado à dor em sofrimento
amor
levado pelo vento

as viagens até aos teus sonhos
perco-me quando os meus pés poisam na solidão de um barco
enferrujado
não amado moribundo contribuinte sem nome morada namorada flores no meu jardim
cansado
torturado
na imensidão do espaço opaco das abelhas
da lua as clarabóias do destino inexistente

tristemente
eu
perdido nas planícies da insónia
não sente
ela
os fluidos derramados nas praias invisíveis sem memória

sem coração
levado pelo vento

eu

à espera que acordem as palavras da tua mão.

(poema não revisto)

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