sábado, 19 de maio de 2012
entre as torradas e o chá
Em pausa
entre as torradas
e o chá,
em pausa
suspensa nas páginas de um livro
na mão de um cigarro,
em pausa
o meu olhar no imaginário da tarde,
a literatura sufocada
nos teus verdes olhos,
em pausa
entre as torradas,
e o chá
em pausa,
à espera da madrugada.
O amor em desejo
O amor
em desejo
um simples olhar
num beijo
o amor
em flor
semeado nos sorrisos do mar
o amor
em desejo
o amor
que eu vejo
quando desce até mim o luar.
sexta-feira, 18 de maio de 2012
E tu não vens
E tu não vens
ao encontro dos meus braços
à luz dos meus olhos
cansados de esperar
junto à paragem do bus...
e tu não vens
ao encontro dos meus braços
agarrados à saudade
nos lábios do mar
ao longe a cidade
ao longe... o feitiço de amar
mergulhado na paisagem.
quarta-feira, 16 de maio de 2012
desesperadamente só
Desesperadamente
só
entre navalhas de xisto
e sonhos de açúcar
desesperadamente
só
entre a noite que não acorda
e a madrugada que teima em acordar
desesperadamente
só
à beirinha de um rio
sem te encontrar
só
entre navalhas de xisto
e sonhos de açúcar
desesperadamente
só
entre a noite que não acorda
e a madrugada que teima em acordar
desesperadamente
só
à beirinha de um rio
sem te encontrar
terça-feira, 15 de maio de 2012
imagens de néon
havia no teu corpo
uma finíssima sombra de palavras
um uivo de rimas
caminhava desesperadamente sobre a tua pele macia de amanhecer
ainda não tinha acordado o dia
ainda dormias dentro dos poemas de inverno
e na janela da sala
o meu rosto imaginava o longínquo mar de Luanda
havia barcos enferrujados pela solidão
das palmeiras
havia gaivotas poisadas sobre os barcos
enferrujados pela solidão das palmeiras
havia um miúdo à procura de rimas
e rimas à procura de um miúdo
que rabiscava desenhos cansados
no pavimento do porto de mar
onde adormeciam rebocadores
e velhos abraçados a bengalas de pergaminho
(havia no teu corpo
uma finíssima sombra de palavras)
havia vento
e palavras na sombra das palmeiras
havia a solidão
que caminhava na tua pele de desejo
(havia no teu corpo
uma finíssima sombra de palavras)
havia um rio que me conhecia
e me amava
e me abraçava
havia um porto de mar sem número de polícia
havia barcos
e livros deitados nos olhos dos barcos
meu deus – Tanta coisa que havia...
e hoje são apenas imagens de néon
uma finíssima sombra de palavras
um uivo de rimas
caminhava desesperadamente sobre a tua pele macia de amanhecer
ainda não tinha acordado o dia
ainda dormias dentro dos poemas de inverno
e na janela da sala
o meu rosto imaginava o longínquo mar de Luanda
havia barcos enferrujados pela solidão
das palmeiras
havia gaivotas poisadas sobre os barcos
enferrujados pela solidão das palmeiras
havia um miúdo à procura de rimas
e rimas à procura de um miúdo
que rabiscava desenhos cansados
no pavimento do porto de mar
onde adormeciam rebocadores
e velhos abraçados a bengalas de pergaminho
(havia no teu corpo
uma finíssima sombra de palavras)
havia vento
e palavras na sombra das palmeiras
havia a solidão
que caminhava na tua pele de desejo
(havia no teu corpo
uma finíssima sombra de palavras)
havia um rio que me conhecia
e me amava
e me abraçava
havia um porto de mar sem número de polícia
havia barcos
e livros deitados nos olhos dos barcos
meu deus – Tanta coisa que havia...
e hoje são apenas imagens de néon
segunda-feira, 14 de maio de 2012
viagem à lua
a viagem à lua
o rio encharcado de suor
a manhã toda nua
de joelhos no altar-mor,
o terço abraçado
a uma pétala em flor
deus ao teu lado
a escrever versos de amor,
ave maria cheia de graça
que voa sobre o mar
desce uma pomba à praça
levanta-se a manhã do altar.
o rio encharcado de suor
a manhã toda nua
de joelhos no altar-mor,
o terço abraçado
a uma pétala em flor
deus ao teu lado
a escrever versos de amor,
ave maria cheia de graça
que voa sobre o mar
desce uma pomba à praça
levanta-se a manhã do altar.
domingo, 13 de maio de 2012
o menino francisquinho
e zás
caiu o tecto da miséria
sobre a horta da saudade
e traz
o sangue na artéria
e vem de longe a felicidade
e zás
e traz
alimentos biológicos
pimentos
ventos
tomates analógicos
TV digital
e zás
e traz
um bebé prematuro
e traz
e zás
o menino francisquinho
coitadinho
poisado no quintal
barrigudo
pançudo
vem de longe a felicidade
e zás
e traz
a côdea na algibeira
o sangue na artéria
vai para longe a ribeira
e leva a miséria
freguês...
e zás
e traz
vai uma voltinha?
Duas por uma
não custa nada
burguês
dá cá uma notinha
(de cinco, de dez ou de vinte)
ai freguês...
e zás
e traz
o som na espingarda e PUMBA
o sémen de aço
no peito do pedinte
o coração estilhaçado
e o palhaço sem braço
sem pernas nem cansaço
caiu o tecto da miséria
o sangue na artéria
sobre a horta da saudade
um tomate ficou danificado
e um pimento
coitado
como o menino francisquinho
deitado
no ninho
ao vento
sem alimento
sem pensamento
em sofrimento
à espera que cesse a tempestade
caiu o tecto da miséria
sobre a horta da saudade
e traz
o sangue na artéria
e vem de longe a felicidade
e zás
e traz
alimentos biológicos
pimentos
ventos
tomates analógicos
TV digital
e zás
e traz
um bebé prematuro
e traz
e zás
o menino francisquinho
coitadinho
poisado no quintal
barrigudo
pançudo
vem de longe a felicidade
e zás
e traz
a côdea na algibeira
o sangue na artéria
vai para longe a ribeira
e leva a miséria
freguês...
e zás
e traz
vai uma voltinha?
Duas por uma
não custa nada
burguês
dá cá uma notinha
(de cinco, de dez ou de vinte)
ai freguês...
e zás
e traz
o som na espingarda e PUMBA
o sémen de aço
no peito do pedinte
o coração estilhaçado
e o palhaço sem braço
sem pernas nem cansaço
caiu o tecto da miséria
o sangue na artéria
sobre a horta da saudade
um tomate ficou danificado
e um pimento
coitado
como o menino francisquinho
deitado
no ninho
ao vento
sem alimento
sem pensamento
em sofrimento
à espera que cesse a tempestade
prescindir
Podia prescindir
de viver com livros e literatura
de escrever
ler
mas não fumar cigarros
é como fingir
semear orgasmos
no meio da rua
de viver com livros e literatura
de escrever
ler
mas não fumar cigarros
é como fingir
semear orgasmos
no meio da rua
os livros o medo todos os sonhos
travestis
putas
homens honestos
ruas em cidades
aldeias sem ruas
prédios sem janelas
e luas
nuas
sem portas de entrada
jardins floridos
fodidos
a literatura
os livros
o medo
todos os sonhos
na sepultura
putas
homens honestos
ruas em cidades
aldeias sem ruas
prédios sem janelas
e luas
nuas
sem portas de entrada
jardins floridos
fodidos
a literatura
os livros
o medo
todos os sonhos
na sepultura
sábado, 12 de maio de 2012
Vi o vento partir
vi o vento partir
da esplanada na tarde de Agosto
fingi sorrir
sorrir sem gosto,
vi barcos atracados nos muros da insónia
cabeças sem estrelas
línguas afiadas às paredes do inferno,
vi crianças sem pão
sem pátria sem memória
vi o vento partir,
ouvi o silêncio de uma nação
com história
a resistir,
a mentir,
(Vi o vento partir
da esplanada na tarde de Agosto
fingi sorrir
sorrir sem gosto),
a fugir
o povo mastigado
cansado
o povo a fingir
sossegado
a mentir
vi soldados
de punho cerrado
antes de acordar a alvorada
gargantas cortadas em pedaços
sem braços
a madrugada.
da esplanada na tarde de Agosto
fingi sorrir
sorrir sem gosto,
vi barcos atracados nos muros da insónia
cabeças sem estrelas
línguas afiadas às paredes do inferno,
vi crianças sem pão
sem pátria sem memória
vi o vento partir,
ouvi o silêncio de uma nação
com história
a resistir,
a mentir,
(Vi o vento partir
da esplanada na tarde de Agosto
fingi sorrir
sorrir sem gosto),
a fugir
o povo mastigado
cansado
o povo a fingir
sossegado
a mentir
vi soldados
de punho cerrado
antes de acordar a alvorada
gargantas cortadas em pedaços
sem braços
a madrugada.
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