sábado, 10 de março de 2012

A minha vida é uma tela

Uma tela sem nome sem cor sem pernas
Uma tela sem braços
Sem amor
A minha vida é uma tela
Dentro de um cubo de vidro
E sem janelas
E sem portas
Uma tela sem nome sem cor sem pernas

Quando acorda a madrugada
A minha vida é uma tela
Sem nome sem cor sem pernas
Desgovernada

Uma tela sem braços
Sem beijos
Sem nada…

Quando acorda a madrugada

sexta-feira, 9 de março de 2012

Cansaço das palavras

Há nas palavras cansaço
Pétalas de vogais esvoaçam e caiem no chão
Há nas palavras sílabas em abraço
No rosto de uma mão,

Há nas palavras cansaço
Tristeza quando cai a noite sobre o mar
Palavras infelizes no sargaço
Que passeiam no jardim sonâmbulo de amar,

Há nas palavras cansaço
Dentro de um livro que arde na fogueira
Palavras em soluços nas palavras cansaço
Das palavras que se extinguem na lareira.

quinta-feira, 8 de março de 2012

Gaivota poema

Oiço-te na finíssima noite de inverno
Agachada na solidão transversal do néon doente
Oiço-te da janela invisível do sótão
Entre fendas e gemidos de orvalho
Oiço-te quando puxo de um cigarro
E sinto o meu corpo misturar-se no fumo
As minhas mãos começam a emagrecer
Como o papel de parede
Como o livro mergulhado na insónia
E pergunto-me Que fazer?
Quando as palavras que oiço
São como a água de um rio
Que apressadamente corre para o mar…
Oiço-te no cansaço dos sonhos
E barcos travestidos dançam sobre uma mesa
Em Cais de Sodré
Olé
Pois é
Oiço-te suspensa no teto
E da claraboia do sono
Desces até mim

(Oiço-te na finíssima noite de inverno
Agachada na solidão transversal do néon doente
Oiço-te da janela invisível do sótão
Entre fendas e gemidos de orvalho)

E da claraboia do sono
Adormeces flor selvagem
Abelha que poisa no fumo do meu cigarro
E se alimenta dos meus lábios
Oiço-te… Oiço-te dentro do meu peito
Gaivota poema
Na minha cama
Em chama

Oiço-te na finíssima noite de inverno

42 x 29,7 – Francisco Luís Fontinha

Gaivotas sem sorriso

Vêm até mim
As silabas as vogais e as tristezas da noite
Embrulhadas nas palavras adormecidas
Vêm até mim
As gaivotas sem sorriso
Sem asas
Sem sonhos de caminhar sobre a areia molhada da tarde
Sento-me e finjo-me de morto
Não respiro
Não sonho
E sei que à minha volta gotas de silício se desprendem das árvores
E todas as folhas
E todos os ramos
Vêm até mim
E me abraçam
E me levam para o infinito

29,7 x 42 – Francisco Luís Fontinha

quarta-feira, 7 de março de 2012


29,7 x 42 – Francisco Luís Fontinha

42 x 29,7 – Francisco Luís Fontinha

A solidão das árvores

Os meus olhos
Veem as pedras engasgadas na solidão das árvores

Há barcos prisioneiros em mim
À procura de vento
Há barcos de papel e cetim
Há barcos em sofrimento

E há um corpo
(Os meus olhos
Veem as pedras engasgadas na solidão das árvores)
O meu corpo
Em busca de alimento

59,4 x 84,1 – Francisco Luís Fontinha