Do tudo,
O nada…
Quando o tudo é um
conjunto de pontos coloridos,
Que marcham sobre o
pavimento laminado de uma recta infinita…
E quando o nada,
O nada não é mais do que uma
equação complexa,
Muito mais complexa do
que as equações diferenciais do terceiro grau…
Que o professor Mário
Abrantes nos falava,
Dessas,
Dessas não tinha eu medo…
Agora das outras…!
Querem-me fazer acreditar
Que do nada,
Do perfeito vazio…
Alguma coisa pode acordar…
Não,
Não poderá ser,
Nunca.
Acredito em tudo,
Acredito que toda a
matéria do Universo se expandiu,
Antes explodiu…
Que até provavelmente Adão
tenha dado a sua melhor queca…
Com a adorada Eva…
Mas do nada,
Do nada acordar alguma
coisa?
Não…
Nasci para ser rico e
lindo.
Rico sei sou,
Apesar de ainda não ter
encontrado a fonte monetária em que os meus pais investiram…
Já procurei em algumas,
Em Euros ainda não
procurei,
Não vai adiantar…
Porque quando nasci ainda
não existiam…
Talvez mais logo procure
nos [Matrafoines],
Isto é,
A moeda oficial de Marte…
Quem sabe?
Diziam-me que o meu pai
era pintas…
Quem sabe,
Quem sabe se o sol nasça
sem olhos,
Ou a lua…
Quem sabe se logo a lua
apareça sem lábios…
Ou as estrelas,
Ou as estrelas sem
ninguém,
Quando do perfeito juízo
Acorda uma pequena
borboleta.
O sono eleva-se sobre a
coroa invisível da saudade,
E diga-se que esta…
Que esta também pertence
às equações complexas…
Mas que fazer,
Quando uma fotografia
morre…
Passa a ser o nada,
A ausência…
E depois,
E depois querem-me fazer
acreditar…
Que deste pequeno nada…
Um dia,
Biliões de dias depois…
Acorde alguma coisa…
Que quer ser tudo…
E que nunca foi nada.
Não,
Não posso acreditar.
Mesmo assim, desenho
sobre estes pontos coloridos que marcham sobre uma recta infinita…
Que apelidaram de tudo,
Desenho sobre estes
pontos coloridos o beijo,
Quando a mãe beija o
filho…
E o filho…
Por mais que procure a mãe
para a beijar…
Nunca a encontrará…
Porque também ela,
Também ela pertence ao
nada.
E depois que sim,
Que sou um parvalhão,
Assim-e-assado,
Mais cozido do que
passado,
Abro a janela…
E do nada…
Do nada… aparece na minha
mão o primeiro capitulo da solidão.
Afinal…
Afinal do nada pode
sempre acordar alguma coisa…
Francisco Luís Fontinha
18/06/2023