Desce a rua
O ausentado nocturno
Procura na algibeira o
último cigarro do mês
Acende-o
E senta-se junto ao rio
Procura na paisagem
As estrelas de além-mar
E as estrelas de ontem
Algures entre o sono
E a décima quinta noite de
insónia
Desce a rua
O aprumado esticadinho
O ausentado de Domingo
Sem perceber que na mão
Transporta o pecado da
palavra
Desce
Desce a rua
O ausentado senhor
De livro na mão
Cigarro
O último cigarro do mês
E está feliz
Que feliz ele está…
O senhor
O Dom ausentado
Desce
Desce a rua
O ausentado nocturno
Procura um cadáver para
alugar
Com vista para o mar
Um pequeno quartinho
E uma sala enorme…
Onde se senta
Onde se deita
Onde morre
Desce
A rua
Que desce o ausentado
nocturno
Das flores migratórias
E das palavras avulso
Uma estória de morte
E sexo
Durante a noite
Desce
Devagarinho a rua do
ausentado
Do Domingo de ausência
Em pequenas drageias de
silêncio
E o que procura não
encontra
Não sabe o que procurar…
E enquanto desce
Desce a rua
O ausentado senhor…
Uma lágrima de saúde desenha-se
no seu olhar.
Luís
28/05/2023