sábado, 13 de maio de 2023

O dia de viver

 Nasce o dia,

E em todos os dias,

Há um dia,

Do outro dia,

Do dia que nasce…

Ao dia que morre,

Morre em poesia.

 

E em cada dia,

Um pequeno dia,

Um dia

Que se abraça a outro dia,

Que nascerá dia,

E que morrerá dia…

Do dia que foi dia.

 

E todos temos um dia,

Um novo dia…

Nasce o dia,

Morre o dia,

E quem diria…

Que em todos os dias,

Há um dia…

 

E do filho do dia,

Nasce um novo dia,

O seu dia,

O dia que abraça a noite,

Enquanto não há noite que mate o dia,

Porque um dia sem dia…

Não é dia.

 

 

 

Alijó, 13/05/2023

Francisco Luís Fontinha

sexta-feira, 12 de maio de 2023

Abraço-te

 

(desenho de Francisco Luís Fontinha)

 

 

Abraço-te, minha sombra nocturna das abelhas em flor,

Abraço-te, abraço-te enquanto o vento matinal

Desce da alvorada e poisa no teu silêncio cabelo,

Abraço-te, minha pequena sílaba de sono,

Poema desenhado no meu corpo pelos teus doces lábios de mel…

 

Abraço-te rio ribeira teu corpo,

Meu amor, do doce abraço,

Abraço-te, janela envenenada com fotografia para o mar…

Abraço-te, madrugada em flor,

Quando o luar dorme nos teus olhos de geada,

 

Abraço-te, meu amor, nas palavras que voam em direcção à tua boca…

E me assassinam durante o sono,

Abraço-te, pequena légua de mar…

Pôr-do-sol dos dias em poesia,

Quando o abraço… foge do dia,

 

E eu, abraço-te…

Abraço-te, manhã submersa em tua mão,

Piano das noites infinitas…

Abraço-te, palavra dos jardins assílabos…

Em tristes pedaços de mar,

 

Abraço-te sanzala da minha infância,

Meu amor em abraço,

Abraço-te, menina do mar

E do além-mar…

Abraço-te charrua que labuta montanha abaixo… e eu, eu abraço-te.

 

 

 

Alijó, 12/05/2023

Francisco Luís Fontinha



 Acrílico s/tela – (60cmx 80cm) – Francisco Luís Fontinha - Alijó.

quarta-feira, 10 de maio de 2023

Estrelas do teu olhar

 Nos teus olhos,

Meu amor,

Dançam todas as estrelas do Universo,

Nas tuas mãos,

Nas tuas mãos, meu amor,

Nas tuas mãos brincam todas as crianças do planeta Terra…

E nos teus lábios…

Nos teus lábios navegam os mais lindos barcos do Oceano.

 

Cada palavra, um beijo,

Encantada maçã do Éden,

Pequeno silêncio,

E mesmo assim, meu amor,

E mesmo assim as árvores tombam com a solidão,

 

Nos teus olhos,

Meu amor,

Dançam todas as estrelas do Universo,

Dos teus olhos,

Meu amor,

Recebo todas as palavras que te escrevo…

E com elas,

Construo poemas,

Poemas, meu amor…

 

 

 

Alijó, 10/05/2023

Francisco Luís Fontinha

terça-feira, 9 de maio de 2023

A montanha

 

(pintura em curso: 60cm x 80cm. Acrílico s/tela – Francisco Luís Fontinha – Alijó)


O que é o amor,

Meu amor!

Como é meu amor,

O amor,

Do nosso amor.

 

O amor,

Meu amor,

É uma coisa estranha,

Que se gosta,

Que se ama…

O amor nasce,

O amor cresce,

Mas,

Meu amor,

Mas será que o amor, morre?

 

Não, claro que não.

O amor,

Meu amor,

O amor,

Do nosso amor,

Umas vezes com vento,

Outras vezes em flor…

 

Mas, meu amor,

O amor também é tempestade,

Também é saudade,

Dos que partiram,

Ou daqueles que não regressarão mais…

Como o poeta dos ventos,

Que sobe à montanha mais alta,

Grita…

Amo-te meu amor!

 

 

 

Alijó, 09/05/2023

Francisco Luís Fontinha

O livro da insónia

 O que resta de mim,

Um amontoado de ossos,

Sem nome,

Pedaços de nada,

O que resta de mim,

Depois de tantas tempestades,

Silêncios…

E mares;

Alguns, navegados.

 

O que resta de mim,

Depois que o silêncio se travestiu de mendigo,

Quando neste pequeno papel,

Escrevo-te aquilo que poderia ser uma carta de despedida…

 

Mas não me despeço

E vou andar por aí…

O que resta deste corpo em constante baloiço,

O que resta de mim,

Depois de o vento levar o meu cabelo,

As mãos com que afago o teu cabelo,

E os meus lábios…

Com que desenho nos teus lábios,

O beijo.

 

O que resta deste miúdo,

Que transportava uns simples calções

E umas sandálias em couro…

 

O que resta de mim,

O que resta de mim…

Um amontoado de ossos,

Sem nome,

Pedaços de nada,

E algumas palavras…

 

O que resta de mim

E da minha terra,

Onde o sangue jorra por entre o capim,

O que resta de mim

E da minha terra,

Quando a chuva cai…

E aquele cheiro inconfundível se ergue até ao céu,

 

O que resta de mim,

Poema do meu peito,

Palavra que respiro…

E em cada final de dia,

Vomito a solidão das noites aprisionado,

O que resta deste louco poeta,

O que resta de mim,

Deste pobre pintor…

O que resta de mim,

Quando Deus…

Não quer que reste nada.

 

 

 

Alijó, 09/05/2023

Francisco Luís Fontinha