quarta-feira, 22 de fevereiro de 2023

Universo

 Podia extinguir-se o Universo…

Podia,

Podia morrer o sol

E todas as estrelas,

Morrer o dia,

Podia,

 

Tudo podia acontecer,

Porque eu,

Não me erguia desta cadeira em frente ao mar,

 

Podia chover,

Podia nevar,

Podiam levar-me este mar…

 

Que eu continuava sentado nesta cadeira,

Nesta cadeira em frente ao mar,

 

(Podia extinguir-se o Universo…

Podia,

Podia morrer o sol

E todas as estrelas,

Morrer o dia,

Podia)

 

E o que eu fazia se tudo isso acontecesse?

 

Nada.

Absolutamente nada.

 

 

 

Alijó, 22/02/2023

Francisco Luís Fontinha

terça-feira, 21 de fevereiro de 2023

Cidade embalsamada

 Há-de nascer uma estrela pincelada de saudade

Em teus olhos de amanhecer,

Cidade embalsamada

Nas sombras amordaçadas,

 

Pássaro em papel,

Cor devastada do sombreado silêncio,

Sol dos pequenos cubos em vidro…

Há-de nascer o rio em teus braços,

 

Teus braços que transportam o meu esqueleto,

Este pobre esqueleto dos loucos luares,

Há-de nascer, em ti, uma estrela pincelada de saudade

Em teus olhos de amanhecer,

 

Em teus olhos de beijar…

Há-de nascer nos teus lábios

A primeira madrugada,

Cidade… cidade embalsamada.

 

 

Alijó, 21/02/2023

Francisco Luís Fontinha

Oceano em fuga

 Em teus lábios,

Exoplaneta em flor,

Ao cansaço em pedacinhos de mel,

Dos corredores onde me perco,

E me escondo do teu olhar,

Em teus lábios,

Onde poisa o sonolento mar

E as primeiras lágrimas da manhã,

Trazem a ti a ausência,

 

Uma máscara de sono,

Lentamente,

Em solidão,

Acorda a areia fina dos tristes luares que a noite assassina,

E do teu corpo,

Ergue-se o poema.

Escrevo-te, escrevo-te na lentidão do silêncio,

Quando colocas sobre mim,

As tristes imagens de um Oceano em fuga,

Onde se afoga o sonho,

Onde se esconde o sonho,

 

Em teus lábios,

Meu amor pedaço de mel…

Habita o lugar perdido

Que apenas as tempestades conhecem…

E do medo,

Vem a mim o teu corpo desejado.

 

 

 

Alijó, 21/02/2023

Francisco Luís Fontinha

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2023

Prisão solar

 Se sonhas,

Não sonhes,

Atira pedras às árvores e aos pássaros,

Aprisiona o sol na tua mão…

 

Se sonhas,

Não o faças,

 

Dorme dentro do quadrado,

Entre o silêncio do luar

E a pasmaceira das tardes junto ao mar,

 

O mar é uma merda,

Água,

Barcos em aflitas gargalhadas,

Depois…

Depois trazem a noite,

E com a noite,

A porcaria das estrelas,

Poeira cósmica,

Lágrimas de néon,

Pó,

 

Se sonhas,

Não sonhes,

Atira pedras às árvores e aos pássaros,

Aprisiona o sol na tua mão…

Cruza os braços,

Cerra os olhos;

Depois…

Desliga o interruptor que tens dentro de ti...

 

 

 

Alijó, 20/02/2023

Francisco Luís Fontinha

domingo, 19 de fevereiro de 2023

Azul-mar em paixão

 Falhei,

Falhei quando mandei cortar as oliveiras do canteiro,

E em seu lugar,

Plantarem amendoeiras; são tão lindas na Primavera…

Depois,

Ficam tristes,

Magras, muito magras,

Esqueléticas no esquecimento do orvalho.

 

Falhei,

Falhei quando mandei pincelar o céu de azul,

Azul-mar em paixão,

Quando deveriam ter pintado o céu de negro,

Nero escuro como a noite.

 

Falhei,

Falhei quando trouxe durante a noite todas as estrelas do céu,

Hoje, hoje tenho-as dentro de uma pequena caixa em cartão…

Tenho-as aprisionadas,

Como se todo o mal que me acontece,

A culpa,

Fosse das pobres estrelas.

 

Falhei,

Falhei quando mandei cortar as oliveiras do canteiro,

E em seu lugar,

Plantarem amendoeiras; são tão lindas na Primavera…

São tão lindas, na Primavera.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 19/02/2023

sábado, 18 de fevereiro de 2023

Estrelas

 Não me procures dentro deste buraco frio e escuro,

Onde habitam todas as estrelas em papel…

Estrelas que a minha mãe fazia,

Estrelas…

Que me oferecia,

 

Estrelas que arderam,

Labaredas de sono

No olhar de todos os Planetas,

 

Estrelas azuis,

Amarelas,

Estrelas encarnadas…

Da cor

Da dor,

Estrelas que deixaram de ser estrelas,

Nas mãos de uma flor,

 

Não me procures dentro deste buraco,

Frio,

Escuro,

Onde habitam estrelas;

As estrelas que odeio.

 

 

 

Alijó, 18/02/2023

Francisco Luís Fontinha

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2023

Noite ternurenta entre estrelas

 (ao meu filho Addendum Díodo de Zener)

 

 

Cai sobre o silêncio

O dente recto das primeiras chuvas da manhã,

Cai na tua mão, menino Addendum Díodo de Zener,

As palavras envenenadas que o teu pai semeia no vento,

 

Vêm a ti, meu pobre menino,

As estrelas em papel que o destino lançou sobre o mar,

Do teu mar tímido,

Do pequeno desenho tridimensional…

Onde dormem as Princesas,

 

E do Castelo com vista para a planície,

Onde brincam amendoeiras e abelhas,

Um pedaço de luar,

Muito sonolento…

Acaba de acordar,

 

E cai em ti,

Meu menino,

A primeira estrela em papel,

Onde o teu pai,

Escreve cartas ao silêncio.

 

 

 

Alijó, 15/02/2023

Francisco Luís Fontinha