Desce do altar
Santa dos milagres nocturnos
Abraça o teu filho que
habita esta cidade
Pega-lhe na mão
E leva-o
E senta-o
Junto ao mar.
Limpa as lágrimas do teu
filho
Santa milagreira das
palavras em doce néon
Dá-lhe um barco e um
areal
E dá-lhe também o sossego
E a fortuna
E o céu
E perdoa-lhe todos os
pecados
Desde que nasceu
Até ao pôr-do-sol
E todo o mal
Amém.
Dai-lhe senhora
O perfeito juízo
Enquanto ainda temos
estrelas na eira
E luar no estábulo
E sabes
Minha querida santa
milagreira
Desculpa lá aquilo do
abstracto
Que de parede em parede
De olhar em olhar
Ressuscitou
Fez-se homem
E hoje é motorista da
Carris.
Vê lá tu…
Motorista da Carris.
Depois
Minha querida santa
milagreira
Aparecia o quinze
Pegava nos bêbados todos
E despejava-os em Belém
Numa qualquer esquina…
E tu
Minha santinha
Dormias no altar misericordioso
da saudade.
Minha santinha dos
aflitos
Com coração de brasa
E silencio nas mãos
Pega no terço
E reza
Reza muito
Reza para que o quinze
nunca avarie.
Limpa as lágrimas do teu
filho
Santa milagreira das
palavras em doce néon
Dá-lhe um barco e um
areal
E dá-lhe também o sossego
E o céu
E o eterno sossego
Da carne
E do espírito.
Alijó, 20/12/2022
Francisco Luís Fontinha