quinta-feira, 14 de novembro de 2019

Cidade abandonada


As Dálias, meu amor,

Vão partir para o teu sorriso,

Vão voar,

Sobre o mar,

Sem qualquer aviso.

As Dálias, meu amor,

Vão sofrer,

As nocturnas visões da paixão,

Que assombram este coração,

Nas tardes de morrer.

As Dálias, meu amor,

São palavras de escrever,

São livros embalsamados no teu olhar,

São as canções de amar,

São as ruelas de viver.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

14/11/2019

quarta-feira, 13 de novembro de 2019

Em busca da luz


Procuro em ti a noite esquecida,

Perdida,

Amordaçada na tempestade da saudade.

Procuro em ti a cidade,

Na clarabóia da solidão.

Procuro em ti a luz da verdade,

Poisada na tua mão.

Procuro em ti uma canção,

Com palavras sonolentas de tristeza,

Quando ao final da tarde,

Em teu corpo nasce,

A beleza,

Da noite transparente.

Procuro em ti uma estrela,

Um avião,

Um coração…

Recheado de amor,

Neste corpo ausente,

Neste corpo em dor!

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

13/11/2019

segunda-feira, 11 de novembro de 2019

Ausência


Se tu soubesses o quão escuro e frio é o dia,

Não me trazias a noite.

Não me davas as palavras,

Que vagueiam em mim,

Todos os finais de tarde.

As rosas morreram e os plátanos despedem-se do meu corpo,

Como uma jangada de vidro,

Perdida no Oceano.

Se tu soubesses o quão é triste adormecer,

Nesta cama de fantasmas,

Até que o dia acorda,

Nasce,

E em cada nascimento,

Ele me traz o sofrimento.

Se tu soubesses o quão frio são estes livros,

Sem a tua ausência…

Não tinhas partido para o Infinito.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

11/11/2019

sábado, 9 de novembro de 2019

Medo


Tenho medo, mãe,

Do vento que se alicerça nas tuas mãos e traz a saudade.

Tenho medo da cidade,

Dos fantasmas da noite,

Que vivem na cidade.

Tenho medo, mãe,

Das palavras que escrevo,

Das que não escrevo,

E das que devia escrever.

Tenho medo dos pontos de interrogação,

Dos travessões,

E do ponto final, parágrafo.

Tenho medo, mãe,

Do sono,

Da noite,

E dos sonhos!

Tanto medo, minha mãe…!

Medo.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha

09/11/2019

domingo, 3 de novembro de 2019

O autocarro


Simplesmente me ausento

Da leviandade dos dias tristes.

Finalmente regressa a noite,

E com ela,

Todas as palavras da aldeia também regressam.

Uma ruela sem saída,

Uma porta entreaberta desenhada nos pingos da chuva,

Um sombreiro em solidão,

Caminha pela ruela sem saída.

O autocarro não parou hoje na paragem;

Aliás… o autocarro hoje não acordou.

Talvez amanhã me venha buscar para o infinito…

Amor,

Amar.

Simplesmente me ausento

Da leviandade dos dias tristes.

A saudade,

Sempre presente nestas quatro paredes de inferno,

Quase que estamos no Inverno,

E mesmo assim,

Hoje,

O autocarro não apareceu;

Esqueceu-se de mim,

E das minhas palavras.

Penso…

Amanhã o que será de almoço,

Mas não me preocupa que o autocarro, hoje, tenha adormecido.

Simplesmente me ausento das sombras desta casa,

Como se existisse um relógio para o dia e outro para a noite…

A saudade,

Suspensa na claridade dos livros empilhados até ao tecto,

Esperam por mim,

No jardim,

Sentados no banco em marfim.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

03/11/2019

quarta-feira, 30 de outubro de 2019

Neblina cinzenta


Quem és tu, meu amor!

Que me aprisionas todas as madrugadas.

Quem és meu amor!

Das ribeiras cansadas.

Quem és tu, meu amor!

Que me iluminas nas tardes passadas.

Quem és tu, meu amor!

A flor que desenha no meu olhar,

As roseiras,

E o mar.

Quem és…

Menina das palavras,

Dentro dos livros embriagados,

Pelo silêncio,

Que um dia,

Ao acordar,

Poisem as gaivotas na minha mão,

E acordem os corpos camuflados,

Num coração.

Quem és?

Papel onde escrevo,

Corpo que me alimenta,

E sinto,

E vejo,

A neblina cinzenta,

Como uma pedra invisível,

Como a água-benta.

Que és… meu amor!

Meu relógio desgovernado,

Suspenso na claridade das tardes sonolentas,

Gritas,

Vens,

Avanças sobre mim como uma flecha,

Que arde no peito,

E me deito,

E durmo a sesta.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

30/10/2019

terça-feira, 29 de outubro de 2019

O beijo


Como seria hoje sem ti, meu amor!

Uma merda.

Uma canção,

Uma flor,

Irrompe do chão,

De espingarda na mão.

E dispara,

Contra o tédio,

Uma bala de canhão.

Como seria hoje sem ti, meu amor!

Uma revolução,

Um beijo na mão,

Ou um livro em combustão.

Como seria hoje sem ti, meu amor…

Só, nesta escuridão,

Sentado,

Descalço,

Desnudo,

Cansado,

Olhando o mar alicerçado,

Aos ombros do capitão.

A alvorada,

Sempre distante da espingarda,

Como seria hoje?

A trovoada,

Dançando na solidão,

Comendo pipocas,

Junto ao rio da desilusão…

Como, diz-me!

Como seria hoje sem ti, meu amor!

Quando no interior,

Desta confusão,

A mesma flor,

Morre na minha mão.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

29/10/2019