quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

Acreditas nas gaivotas em papel?


Encontramo-nos no infinito,

Só os dois,

Como as velhas espigas de milho em Carvalhais,

Sentávamo-nos na eira

E ouvia as tuas estórias…

Dizias-me que um dia o rio acordaria no meu leito,

Até hoje, ainda não vi esse rio,

Talvez te tenhas enganado,

Talvez esse rio já tenha adormecido no meu leito…

E eu, e eu sem dar por ele,

Acreditas?

Acreditas nas gaivotas em papel?

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

quinta-feira, 17 de Dezembro de 2015

quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

A lareira das estrelas


Esta sinfonia estonteante

Que me obriga a esconder

Dentro do rochedo da solidão…

Não termina nunca,

Parece abstracta,

Silenciosa,

Amarga

E disfuncional,

Sou obrigado a ver as estrelas

Que construíste em papel,

E eu, acredita, apetecia-me colocá-las na lareira

E espalhar as cinzas ravina abaixo…

 

Até ao rio!

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

quarta-feira, 16 de Dezembro de 2015

terça-feira, 15 de dezembro de 2015

O dia recheado de panos brancos (trapos)


Confuso

No cansaço da tristeza

Difuso

Insolente

Confuso e doente

No cansaço da beleza

O dia parte

Sem se despedir de mim

Como sempre

Todos partem…

E ninguém… até amanhã camarada

Ou amigo

Esta cambada…!

Era mais feliz se fosse sem-abrigo

E não tivesse madrugada

E cama para dormir

Para quê?

Para depois de acordar ter de fugir?

Não…

Confuso

No cansaço da mesquinhez alheia

Escondo-me na aldeia

E finjo-me de morto

Assim sou feliz

Assim…

O dia parte

Como sempre

A desilusão de adormecer

Sem perceber

Porque choram as gaivotas à minha porta

E um sem-abrigo tem porta?

Não tenho número de policia

Nome de rua

Sou Ateu

E confuso

Assim…

Um “Cabrão” desqualificado…

Porque estou confuso

E cansado.

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

terça-feira, 15 de Dezembro de 2015

segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

A noite louca de paixão


A noite despe-se sem saber que o dia ainda não terminou

Acendem-se as luzes do sonho

Inventam-se as sombras do amanhecer

Vem o luar

E esta cidade onde habito…

Mais parece uma montanha a arder

O cheiro do carvão

As palavras do homem que corre as ruas em busca de solidão

E a tristeza

E a tristeza sempre alicerçada à mão

Como se trouxesse uma caneta invisível

Escreve nas paredes

Nas árvores

E nos cinzentos beijos da insónia

A noite

Louca

De paixão

Não dorme

Não revindica a alegria

Nem as fogueiras da madrugada

A noite despe-se

Sem saber

Que um dia

Que um dia a tempestade há-de regressar…

E do sonho acordará a morte.

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

segunda-feira, 14 de Dezembro de 2015

domingo, 13 de dezembro de 2015

Como é triste… como é triste amar-te!


A lua com todo o seu esplendor

Poisada sobre o desejo da melancolia

A vida parece uma cidade em ruinas

Sem habitantes

Na penumbra do silêncio

Inventando pedacinhos de alegria

E beijos em papel colorido

O amor sofrido

Querido

Na sombra das árvores sem destino

O menino

Agachado nas pedras da infância

A lua dorme

Tu

Tu dormes nos braços da lua

E não sei quando acordarás…

Ou se algum dia vais acordar

Dos sonhos sem projecto

Nos momentos recheados de insónia

Poisada

Sobre o desejo

A lua com todo o seu esplendor

Nas tristes palavras de amor

Esquecida nas marés do mar

Sentindo o peso da minha mão

Empunhando uma caneta

Torta

Feia

E triste

A corda do enforcado envolvendo o meu pescoço

Tenho um frágil esqueleto

Que mais parede em porcelana

Da fina

Pura

Ínfima

Minerais acesos nos meus lábios incinerados

Sobre a cama

Todo o dia

Toda a semana

Tu enforcas-te

Eu enforco-me…

Ele não se enforcou

Alegre

Feliz

Desiste

Assiste ao desmoronar dos edifícios negros

Em queda livre

Com direcção ao mar

Como é triste amar!

Como é triste ser amado…!

Como é triste ver a lua com todo o seu esplendor poisada nos teus seios sem os acariciar…

Como é triste…

Como é triste amar!

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

domingo, 13 de Dezembro de 2015

sábado, 12 de dezembro de 2015

Nas letras nos números e nos traços


Sinto os lençóis do teu rosto

Na Cárcere dos meus tímidos lábios

Sinto o infinito solitário

Descendo a rua

De cigarro em punho

Uma espingarda para a morte

Morrer

A morte só faz sentido quando o corpo desiste da paixão

E o amor deita-se sobre os rochedos da insónia

Sinto os teus braços no meu cabelo

Sinto a tua mão cegando a minha barba

(pareço um bandido)

Pareço um sem-abrigo abrigado nos teus beijos

Um homem desiludido… desiludido do luar

E das nuvens de algodão

Negoceio em gado

Sou agricultor diplomado

Aprumado

Nas letras nos números e nos traços

Roça-se no seu corpo

Acredita na morte

E tem medo da guerra

A carta não regressa

Um par de cornos

E uma foice… a seara do cansaço

Dorme

E sente

Como eu

Sinto

Na Cárcere dos meus tímidos lábios

Sinto o infinito solitário

Um homem corpulento

Bom amante

Falante

Suicidando-se…

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sábado, 12 de Dezembro de 2015

sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

Da noite na noite só



 
 

Porque sinto o teu corpo na escuridão da noite
Deitado sobre os meus livros
Comendo as palavras dos meus livros
Apagando os desenhos dos meus livros…
Assim acontece
Noite após noite
Semana após semana
Eternamente
Deitado
Como eu queria ser um dos meus livros!
Um qualquer
Para acariciar o teu corpo
E nele escrever a aventura
E a paixão
De viver
Da noite
Na noite
Só.
 
Francisco Luís Fontinha – Alijó
sexta-feira, 11 de Dezembro de 2015