terça-feira, 9 de setembro de 2014

Escuridão


Esta escuridão que não cessa de gritar,
esta montanha que não se cansa de chorar,
as tuas mãos, meu querido, suspensas no amanhecer,
este mar que te leva para o infinito,
quando do silêncio acordam as ninfas coloridas da dor...
este porto sem correntes,
esta cidade endiabrada que foge do teu olhar,
as árvores que tombam... e... e tu não sentes,
esta escuridão,
nas tuas pálpebras de cartão,
submersas em palavras com odor a tristeza,
esta vida, meu querido... esta vida que teima em destruir-te como se fosses pequeníssimas bolas de sabão...


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Terça-feira, 9 de Setembro de 2014

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Melancólica saudade


Este poço impávido com janelas para a morte,
um telhado de vidro que lhe esconde as feridas em falsas palavras,
o poema morto, o poeta de braços cruzados...
sem conseguir cessar a tempestade,
este poço amargo, este poço invisível,
escondido nos algerozes da solidão,
de palha o esqueleto do homem arde...
e oiço levemente sobre o a mar as cinzas da indefinida melancólica saudade!


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Segunda-feira, 8 de Setembro de 2014

domingo, 7 de setembro de 2014

Anónimo duplicado


O homem das sete cabeças dentro do teu corpo,
prisioneiro nas tuas veias,
enrolado em fios de seda...

Um anónimo duplicado,
sem voz,
sem medo...
em pecado,

O homem que se veste de sofrimento,
e se olha no espelho da dor,
caem-lhe as folhas caducas dos cinzentos cabelos,
e espera pelo vento...
na ponta dos dedos,
sem voz,
sem medo...
em pecado,

E o anónimo duplicado... não sente a cor do mar que brinca nos seus braços!


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 7 de Setembro de 2014

sábado, 6 de setembro de 2014

Acordar


Hoje acordei e nada tinha para te dizer,
dizer-te bom dia... quando hoje está um dia triste, ausente, como tu...
olhar-te sabendo que não queres que te olhe, sentes medo, sentes... cansaço,
hoje acordei,
e também não queria ouvir palavras,
apenas... apenas contemplar-te sem que o percebesses,

Hoje acordei e vi no meu espelho o teu rosto,
confundi-te com uma gaivota,
por alguns instantes... acreditava estar dentro de um sonho,
que ao longe serpenteava o mar no teu olhar,
mas não,
não existe sonho, não existe mar...

Porque acordar... é como se o espelho da verdade ficasse em pequeníssimos grãos de areia...

Hoje acordei...

Sem saber que acordar é fingir que não te vejo!


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 6 de Setembro de 2014

sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Cidades de papel


Vai nascer uma rua com o teu nome,
que permanentemente habitará dentro de mim,
como habitam outras ruas, outras cidades... cidades de papel,
palavras,
gritos,
lágrimas...

e saudades...!


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sexta-feira, 5 de Setembro de 2014

quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Cidade clandestina


Não há peixes no rio que corre nas minhas veias,
não existem pássaros nas árvores que habitam os meus cabelos,
não,
não há andorinhas nos meus lábios,
nem... nem gaivotas que poisem no meu peito...
há rochedos em mim,
clarabóias com sabor a desejo,
não há mãos que escrevam palavras...
nas páginas cansadas do amanhecer,
não... não há madrugadas pinceladas de beijos,
não há silêncio dentro do meu esconderijo,
estrelas suspensas no tecto da saudade,
não há montanhas de verdade,
nem uma cidade clandestina...
onde possa caminhar sem medo do mar.


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quinta-feira, 4 de Setembro de 2014

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Esta viagem


Esta viagem não terá fim,
a terra que procuro não existe mais,
parecem livros velhos... parecem jornais,
semeados na lareira do sofrimento,
esta viagem é uma guilhotina de insónia,
esperando a noite,
esta viagem é uma rua sem saída...
onde habitam telhados de incenso,
essa terra... essa terra envelheceu,
e esta viagem embrulha-se no vento,
grita às encostas graníticas sílabas com doença,
sílabas dentro de um saco de napa vestido de Céu...
esta viagem desassossegada,
quando se confunde com a madrugada,
essa terra magoada...
no olhar das serpentes em silêncio,
esta viagem desterrada,
sem porto para aportar,
e aquele mar... e aquela terra íngreme que ficou encaixotada,
esta viagem marginal correndo em direcção ao nada,
rochedos, auroras boreais, e outros medos,
e tantos mais...
essa terra,
esta viagem,
este corpo sem correntes,
este corpo sem misericórdia...
que não cessa de ranger,
e tantos mais... esta viagem que parece aos poucos morrer!



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quarta-feira, 3 de Setembro de 2014