domingo, 5 de fevereiro de 2012
Rimas imaginárias
Os amigos não se amam
Desejam-se infinitamente na escuridão da noite
Debaixo de uma árvore um banco de jardim
Mergulha na solidão da tarde
Os amigos escrevem poemas num rio inventado
Que corre entre as montanhas e desaparece no mar
Os amigos não se amam
Desejam-se infinitamente na escuridão da noite
Quando o poema cresce num largo de paralelepípedos
E debaixo de uma árvore um banco de jardim
Encostado ao púbis das sílabas e fios de silêncio…
O poema em orgasmos transpira as rimas imaginárias
E os amigos
Deslaçam as mãos e despendem-se na promessa de um novo reencontro
Desejam-se infinitamente na escuridão da noite
Debaixo de uma árvore um banco de jardim
Mergulha na solidão da tarde
Os amigos escrevem poemas num rio inventado
Que corre entre as montanhas e desaparece no mar
Os amigos não se amam
Desejam-se infinitamente na escuridão da noite
Quando o poema cresce num largo de paralelepípedos
E debaixo de uma árvore um banco de jardim
Encostado ao púbis das sílabas e fios de silêncio…
O poema em orgasmos transpira as rimas imaginárias
E os amigos
Deslaçam as mãos e despendem-se na promessa de um novo reencontro
O sonho de uma noite de geada
Desiludo-me com a vida com o amor e todas as ruas da cidade, e todas as árvores e todos os bancos do jardim, desiludo-me quando acorda a manhã e percebo que vou ter um dia perfeitamente parvo igual ao anterior, desiludo-me quando me olho no espelho da noite e vejo um menino deitado no chão, o frio é intenso, a maioria das vidraças estilhaçadas, e a porta de entrada apenas encostada e prisioneira de um cordel,
- Tenho medo de amar-te sabendo que nunca me vais amar E ela descia as escadas sem dizer até amanhã, e ela descia as escadas depois de a minha mãe aquecer água e depois de amaciar os lancis de granito e a geada começava a andar calçada abaixo e desaparecia junto ao chafariz,
Desiludo-me com a vida com o amor e todas as ruas da cidade, e todas as gaivotas e todos os barcos estacionados no Tejo, desiludo-me com a minha vida miserável, e ela descia as escadas e desaparecia em direção ao Tejo,
- Há dias felizes Nunca se cansa de gritar o vendedor de cautelas,
E há dias de merda e há dias embrulhados nas prateleiras do pôr-do-sol, e há os meus dias, quando a fome entra no meu corpo, quando as lágrimas fingem brincar na minha mão, quando me dizes que me amas, e eu, e eu percebo que nunca me amarás porque sou um miserável, porque nem dinheiro tenho para um café ou convidar-te,
- Vamos jantar?
E o jantar sobre uma mesa de mármore na morgue de um velho edifício em ruinas, desiludo-me com a primavera e com o acordar das andorinhas, desces as escadas e tropeças na geada, desces as escadas e eu sem tempo para te abraçar, e eu, todas as árvores e todos os bancos do jardim, desiludo-me quando acorda a manhã e percebo que vou ter um dia perfeitamente parvo igual ao anterior, e eu agachado no pavimento lamacento agarrado a um livro de António Lobo Antunes, a comissão das lágrimas sentada na baía de Luanda ao final da tarde,
- Vamos jantar?
E eu sem dinheiro para lhe oferecer o jantar, e eu sem dinheiro para a presentear com um simples ramo de flores,
- Tenho medo de amar-te sabendo que nunca me vais amar E ela descia as escadas sem dizer até amanhã, e ela descia as
O frio intenso e as vidraças encostadas às sombras da noite, não cama, não cobertores,
- Escadas e desaparecia no Tejo,
E pergunto-me
- Um petroleiro meu amor,
E pergunto-me Porquê pai?
E um dia vais perceber que tudo não passou de um sonho, tudo meu amor, a minha voz impressa na ardósia do fim de tarde junto aos plátanos, as vidraças meu amor, tudo um sonho construído numa noite de geada.
(texto de ficção)
sábado, 4 de fevereiro de 2012
Cacilheiros e gaivotas com cio
Olho a cidade
Enfeitada de mendigos e miseráveis
E vejo-me sentado junto ao rio
A contar cacilheiros e gaivotas com cio
Também eu mendigo
Sem cio
Miserável diplomado
Escondido nos jardins de Belém
Subo a calçada e desapareço entre os paralelepípedos da miséria
E de um livro do António (Lobo Antunes)
As recordações de Luanda entram-me pela janela da infância
E apalmo as mangueiras e apalpo o mar
E as minhas pernas fraquejam dentro da cidade
E os meus braços enfeitados de mendigos e miseráveis…
Desce a noite sobre a Ajuda
E um mangala sorri aos orgasmos das árvores
Enfeitada de mendigos e miseráveis
E vejo-me sentado junto ao rio
A contar cacilheiros e gaivotas com cio
Também eu mendigo
Sem cio
Miserável diplomado
Escondido nos jardins de Belém
Subo a calçada e desapareço entre os paralelepípedos da miséria
E de um livro do António (Lobo Antunes)
As recordações de Luanda entram-me pela janela da infância
E apalmo as mangueiras e apalpo o mar
E as minhas pernas fraquejam dentro da cidade
E os meus braços enfeitados de mendigos e miseráveis…
Desce a noite sobre a Ajuda
E um mangala sorri aos orgasmos das árvores
sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012
Francisco Fontinha PCP
O meu blog é muito inteligente, não só me diz o número de visitantes como também a origem das visitas e as palavras-chave e respetivas fontes de trafego.
Um curioso ou curiosa escreveu no Google “Francisco Fontinha PCP” e quanto a isso nada de especial, porque nunca escondi que fui militante do Partido Comunista Português como também nunca escondi outras coisas, mas preocupo-me qual a razão desta busca; para satisfazer curiosidades alheias fica aqui a reprodução do cartaz de candidato à câmara municipal de Alijó pela CDU.
E agora recordo-me da senhora que quando me viu sorriu e disse,
- Conheço-o de algum lado!
Possivelmente de estar pendurado nalgum poste de iluminação ao que lhe respondeu um amigo meu, e a senhora muito admirada Porquê um poste de iluminação?
- Porque ele foi candidato pela CDU e passaste nalgum local onde estava o cartaz dele suspenso num poste de iluminação ou árvore Respondeu-lhe o meu amigo.
E por falar em postes de iluminação e árvores certamente alguns gostariam de me ver pendurado de corda ao pescoço, mas enganem-se, porque por muito miserável que seja a minha vida percebo enquanto visito o meu primo Augusto que existem pessoas a lutar pela vida, e não estamos em tempos de crises existenciais.
Percebo que por ter sido militante do PCP me tem sido difícil encontrar trabalho, porque há pessoas que não entendem que uma coisa nada tem a ver com a outra, percebo que por escrever e desenhar me tem prejudicado na procura de trabalho, porque há pessoas que devem pensar que sou maluquinho ou atrasado mental, e agora percebo o senhor reformado que se queixa da misera reforma e enquanto dorme devaneia aos gritos,
- Estou Teso Estou Teso Estou Teso…
A esposa acorda, poisa-lhe a mão sobre o coiso… e coiso nenhum, o coiso em banhos no Tejo.
A destinta senhora, Marilú, abana a cabeça e indignada diz-lhe,
- Meu querido marido Até a dormir és mentiroso.
E quase a terminar este texto fico sem perceber a curiosidade de alguém escrever no Google “Francisco Fontinha PCP”, mas uma coisa é certa, ando Todos os dias Teso e não minto enquanto durmo.
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