terça-feira, 25 de agosto de 2015


Francisco Luís Fontinha - Agosto/2015

Fotografia das palavras


Desenho o sono na almofada do sofrimento,

Pego nos sonhos…

E espalho-os sobre a areia límpida da terra queimada,

Que saudade do cheiro da infância

Correndo no Mussulo,

Que saudade da chuva e do cacimbo…

As mangueiras voavam sobre mim,

Inventava palhaços de pano e triciclos de papel,

O vento embrulhava-se neles,

Eu acorrentava-me às mãos do silêncio,

Desenho,

Desenho o sono na almofada do sofrimento,

Pego nos sonhos…

E escrevo-te estas palavras que roubei às tuas fotografias,

Depois veio a tempestade,

O sono que era apenas um desenho, hoje, hoje é um amontoado de destroços baloiçando no mar,

O barco que nos trouxe morreu,

Os marinheiros, alguns, alimentam-se da sombra num qualquer engate na cidade das gaivotas,

Os cigarros do Tejo… esperam o meu regresso,

E um dia, e um dia regressarei aos teus braços, meu amor.

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Terça-feira, 25 de Agosto de 2015

segunda-feira, 24 de agosto de 2015


Francisco Luís Fontinha - Agosto/2015


Francisco Luís Fontinha - Agosto/2015

A esfera da saudade


Palavras para o amor

Que ama as palavras,

Os beijos incendiados nos lábios das estátuas,

Os cabelos dançando no jardim coberto de espuma,

Os bancos em madeira sentados sobre os meus joelhos,

E ao longe, o silêncio do desejo construindo lágrimas de algodão…

Sinto nas minhas veias a esfera da saudade

Caminhando sobre uma lâmina de cartão,

É tão triste esta cidade,

É tão triste a solidão,

Palavras para o amor

Que ama as palavras,

As belas, as belas e todas as outras… belas,

São palavras,

São elas que me alimentam e iluminam quando regressa a noite do teu olhar,

São elas que me abraçam quando o vento bate no meu peito…

Alicerçam-se a mim,

E eu, e eu fico sem jeito,

Só, só neste jardim,

Eu, os bancos em madeira e as estátuas de alecrim…

E no final da tarde tudo é embrulhado no mar,

Zarpamos em direcção ao infinito,

Bebemos copos de sofrimento

Para não enjoarmos…

E esta ondulação enlouquece-me,

E faz deste barco uma jangada de tédio…

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Segunda-feira, 24 de Agosto de 2015