(desenho
de Francisco Luís Fontinha)
O
sangue quando disfarçado de texto, a ficção caminha nas veias
quadrangulares da paixão, um finíssimo raio de Sol acorrenta-se ao
papel emagrecido que as nocturnas cidades constroem nas arestas do
sofrimento, há dor, há pobreza...
O
amor?
Uma
parábola esquecida no mural de xisto junto ao rio, lá longe os
barcos embalsados, aqueles que ninguém ama, quer...
E
não quer,
O
coração apaixonado estoira, em pedaços de areia grita pelo
regresso do mar, o mar aflito, grita pelas palavras enclausuradas da
solidão,
Quer,
ter de passear-se vestido com um lençol de medo, e as cornijas da
insónia descendo até às pálpebras dos candeeiros a petróleo, o
medo, a noite que se come e ejacula pequenas gotículas de silêncio,
é tarde
Meu
amor,
E
amanhã o trim trim do triste caixote de madeira...
Hoje
não estou,
Mas
sonhava, desenhava figuras geométricas nos lençóis da tempestade,
sacudia as infames equações do orgasmo, e
Silêncio...
Que
roupa vou vestir amanhã, mãe?
Silêncio,
Trapos,
restos de ossos, nas mãos o cansaço das sombras da aldeia acabada
de se esconder dentro da eira granítica da solidão,
Partíamos...
Sem
perceber porquê,
Sete
cabeças perdidas, os teus olhos reflectem a inocência da liberdade,
tens no corpo a inseminação das pálpebras de verniz, húmidas,
lânguidas translações de geometria, na tua boca a solução para
todas as equações,
Ô
amor,
Amar,
Desenhar
no alpendre as verdadeiras palavras, simples, comestíveis nas noites
de insónia, o caminho alicerça-se aos seus dedos, ele permanece
impávido, incrédulo, com todos os sorrisos das montanha de sémen,
Não
pago, não quero saber da paixão, do amor proibido que só os
lençóis de porcelana conseguem desfrutar,
O
amor,
O
peta,
As
migalhas de Deus descendo a calçada encarnada das escadas para o
sótão, trazias no corpo as flores mais belas dos jardins sem nome
O
amor,
As
janelas fotocópias de mares e marés ensonadas, a carta envenenada
sem remetente nos candeeiros do Luar,
“A
ponte,
O
fumo vadio galgando as minhas roupas como uma aranha sem nome, fios,
pedaços de saliva e gotículas de suor, a luz absorvida pelo teu
corpo de naftalina, a gaveta do guarda-fato sem nada guardar,
esfomeado, húmido, este triste quarto despido dos vidros e dos
cortinados, frestas, sombras que um dia se ergueram durante a noite e
fugiram...
Regressar?
Partíamos...
Sem
perceber o que era a Saudade...”
Onde
moras, menino,
Perdi-me
sem saber o significado de saudade, Lisboa crucificava-me,
Abrias
os braços...
E
pensava em ti...
(ficção)
Francisco
Luís Fontinha – Alijó
Quarta-feira,
11 de Fevereiro de 2015