sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

Navegas na morte, habitam em ti as saudades da partida, o regresso sem saída, absorto, infinitesimal adormecido numa lápide de sonho, partimos, chegamos, o frio entranhou-se-nos nos ossos, esquecemos as palavras, e todos os momentos, a loucura imaginária dos vinhedos escrevia nos rochedos... o xisto disfarçado de “Alimento para Cães”, as ruas inúteis, fúteis, onde ”putas e drogados” dormiam para fugirem ao vicio, a emigração dos corações de areia, a sedução, o prazer quando o teu corpo balançava na alegria, o sótão vazio, o telhado encravado nas ombreiras da paixão,
Amo-te, escreve ela todos os dias no espelho embaciado,
Amas-me?
O que é o amor, meu amor...
Palavras, poemas, poetas... & mortos sem cabeça, Amas-me? O que é o amor, meu amor...
Pedra, madeira...ou papel quadriculado,
Oiço
“Foda-se o amor”
E...
Tão belo como as sandálias da infância... sonhadoras,


(ficção)
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sexta-feira, 13 de Fevereiro de 2015

Triangulares sorrisos...

(desenho de Francisco Luís Fontinha)


O teu corpo impregnado de silêncios
camuflados pela gelatinosa alegria das palavras
o teu corpo amortecido nos lençóis da desgraça
e do infortúnio nocturno das clarabóias em delírio
existe uma imagem invisível
passeando sobre o teu peito desnudo
fixo
o crucifixo da solidão
entre quatro paredes verdes
e uma janela em chamas
que só o mar consegue adormecer
em dias de Verão,

Há melancolia
e pedaços de saudade
ruas travestidas de prostitutas sem nome
amorosas
afáveis
de flor na lapela...
o perfume intenso a sexo que só uma carta sem remetente sabe desenhar
nas sombras do rio
o teu corpo majorado pelos ventos da insónia
e do espelho da morte
o majestoso orgasmo
absorvido pela tempestade dos triangulares sorrisos...



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sexta-feira, 13 de Fevereiro de 2015


quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

As sombras, e pensava em ti, meu amor, quando adormeciam as imagens lânguidas do sofrimento, o vulcão das tuas coxas,
O regresso?
Nunca
As sombras, o timbre fixo da foz espetada numa caixa de cartão, tinhas nas mãos a safira paixão das noites em flor,
Nunca, nunca conheci a tua pele, era sempre noite em nós, adormecíamos como dos corvos suspensos na putrefacção da insónia, cintilavam os teus seios nas pálpebras do mal-me-quer adocicado, louco
Apaixonado, eu?
O corpo incha como uma orquestra desafinada, os lençóis de linho misturados com os beijos nocturnos do sémen inventado pelos rochedos da memória, hoje há caracóis, sardinhas... os monstros marinhos da tua língua, os teus seios abraçados a uma tela vazia, branca, triste como as ruas da cidade do abismo,
Hoje?
O velho caixote em madeira embrulhado com as comestíveis sereias de açúcar, a fotografia sempre extinta no meu olhar, não
Existes?
Talvez...
Mas sonhava, desenhava figuras geométricas nos lençóis da tempestade, sacudia as infames equações do orgasmo, e
Silêncio...
Que roupa vou vestir amanhã, mãe?
Silêncio,
E depois dos desejados sonhos do meu candeeiro
Porque nunca rezei,
Mãe...!


(texto de ficção)
Francisco Luís Fontinha – Alijó
quinta-feira, 12 de Fevereiro de 2015

A amargura do desejo...

(desenho de Francisco Luís Fontinha)


O corpo suspenso nas quatro esferas da insónia
o ignóbil silêncio alicerçado aos braços da paixão
e sem o saber
morre na cama do prazer,

Alegre
o feliz moribundo com lábios de papel...
ao longe o mar
e todas as sílabas do poema
o corpo estremece
como se fosse uma fresta invisível no peito do amante
ele ausente
e não sente
as lágrimas da solidão
que invadem a cidade da loucura...
o amor são flores mórbidas
com odor a putrefacção,

O corpo...
que finge a morte sobre uma velha folha de cartão
não sofre
no olhar
as marés salgadas do beijo
ele ausente
e não sente...
a amargura do desejo...



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quinta-feira, 12 de Fevereiro de 2015


quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

(desenho de Francisco Luís Fontinha)


O sangue quando disfarçado de texto, a ficção caminha nas veias quadrangulares da paixão, um finíssimo raio de Sol acorrenta-se ao papel emagrecido que as nocturnas cidades constroem nas arestas do sofrimento, há dor, há pobreza...
O amor?
Uma parábola esquecida no mural de xisto junto ao rio, lá longe os barcos embalsados, aqueles que ninguém ama, quer...
E não quer,
O coração apaixonado estoira, em pedaços de areia grita pelo regresso do mar, o mar aflito, grita pelas palavras enclausuradas da solidão,
Quer, ter de passear-se vestido com um lençol de medo, e as cornijas da insónia descendo até às pálpebras dos candeeiros a petróleo, o medo, a noite que se come e ejacula pequenas gotículas de silêncio, é tarde
Meu amor,
E amanhã o trim trim do triste caixote de madeira...
Hoje não estou,
Mas sonhava, desenhava figuras geométricas nos lençóis da tempestade, sacudia as infames equações do orgasmo, e
Silêncio...
Que roupa vou vestir amanhã, mãe?
Silêncio,
Trapos, restos de ossos, nas mãos o cansaço das sombras da aldeia acabada de se esconder dentro da eira granítica da solidão,
Partíamos...
Sem perceber porquê,

Sete cabeças perdidas, os teus olhos reflectem a inocência da liberdade, tens no corpo a inseminação das pálpebras de verniz, húmidas, lânguidas translações de geometria, na tua boca a solução para todas as equações,
Ô amor,
Amar,
Desenhar no alpendre as verdadeiras palavras, simples, comestíveis nas noites de insónia, o caminho alicerça-se aos seus dedos, ele permanece impávido, incrédulo, com todos os sorrisos das montanha de sémen,
Não pago, não quero saber da paixão, do amor proibido que só os lençóis de porcelana conseguem desfrutar,
O amor,
O peta,
As migalhas de Deus descendo a calçada encarnada das escadas para o sótão, trazias no corpo as flores mais belas dos jardins sem nome
O amor,
As janelas fotocópias de mares e marés ensonadas, a carta envenenada sem remetente nos candeeiros do Luar,
“A ponte,
O fumo vadio galgando as minhas roupas como uma aranha sem nome, fios, pedaços de saliva e gotículas de suor, a luz absorvida pelo teu corpo de naftalina, a gaveta do guarda-fato sem nada guardar, esfomeado, húmido, este triste quarto despido dos vidros e dos cortinados, frestas, sombras que um dia se ergueram durante a noite e fugiram...
Regressar?
Partíamos...
Sem perceber o que era a Saudade...”
Onde moras, menino,
Perdi-me sem saber o significado de saudade, Lisboa crucificava-me,
Abrias os braços...
E pensava em ti...


(ficção)
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quarta-feira, 11 de Fevereiro de 2015