segunda-feira, 25 de março de 2013
domingo, 24 de março de 2013
Fingidas tristezas
A&M ART and Photos
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Fingias tristezas
no planalto imaginário das palavras
incompreendidas
desenhavas as árvores e os arbustos
que a despedida levou
quando regressou a tempestade de areia
e o teu corpo permanecia absorto ou
morto ou simplesmente infinito,
Perdido nas íngremes amargas letras
vermelhas
imagens a preto-e-branco
projectavam-se-lhes como dentes de marfim
em crocodilos de madeira negra
húmida
também ela ausente da Primavera tarde
que o silêncio amanhava,
E hoje
ninguém
coragem
ninguém o apanha do cinzeiro vestido
de abelhas flutuantes
quando me escrevias insignificantes
palavras desconexas,
Velhas
cansadas
mentiras de anda
como as madrugadas de cimento
e a marmelada caseira,
Minhas manhãs de nada
ou nada sabendo que não estás nas
fingidas tristezas
de livros ou papel amarrotado como as
lanternas da solidão
e que sim que simplesmente levitou
às mágoas uivas maçãs do prazer...
(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha
Um carrossel de vinho dentro de um corpo preguiçoso
Deixaste-me uma simples caixa de sapatos com alguns
dos meus segredos, os poucos sonhos que sobejaram da grande viagem
aos montes das pedras mortas, nenhum sobreviveu, nenhum conseguiu
atravessar a ponte espacial, o famoso túnel de vento onde com o meu
corpo, tu, experimentavas as leis aerodinâmicas, e nunca, nunca
conseguiste que eu voasse, e confesso hoje, sem qualquer medo, que te
mentia, porque nunca me imaginei a voar, mesmo quando me ias buscar
ao sono das noites das madrugadas sem movimentos pendulares,
olhavas-me, e eu
Percebia,
Que
Que um carrossel de vinho girava dentro do meu corpo
preguiçoso, e sabia-o, sabia-o nas traições murchas palavras que
as flores deixavam cair quando o vento era muito, regressávamos às
tempestades de suor, e diziam-nos que o barco com asas de íris tinha
mergulhado num buraco espesso, escuro, fundo, cinzento, que
Percebia,
Que este carrossel tinha cadeiras de madeira presas
a correntes, que este carrossel rodava em torno de um veio de aço
com duzentos e seis ossos, trinta e dois dentes de marfim, e um par
de unhas de gel,
Irra? Vinte Euros por isso...
Compravas dois livros,
Mas mamã, com as unhas de gel fico lindona, e com
os livros... quem me vai ver com os livros, e mamã... para que me
servem os livros? O que eu preciso é de um homem rico, como o teu,
que paga todas as nossas contas, Contas?
Sim, um, dois, três, quatro, cinco vezes três,
vinte e cinco a dividir por três, o cosseno de três pi radianos...,
ou que nos revolva a raiz quadrada de três mil quinhentos e quarenta
e cinco, vês? Contas, o que nós precisamos são de contas pagas,
com a respectiva factura, Factura?
Claro, factura,
E Fatura?
(Não, chinês não saber o quê fatura)
Numa simples caixa de sapatos, sonhos, berlindes,
fotografias a preto-e-branco, bonecos, vestidos para os bonecos,
tudo, tinha lá todos os meus pertences, e agora?
Nada, perderam-se as fotografias, agora são a
cores, não gosto, odeio, e detesto,
Berlindes?
Rebuçados de água e açúcar, mangas ao final da
tarde, chovia-nos no quintal porque a lona da tenda com alguns
problemas de sonorização, e pelas ranhuras entram sons externos ao
espectáculo,
Sons? Não era a chuva?
Também, também, e quando era em demasia
transbordava da caixa de sapatos, e hoje, abro-a, e olho-a, e sinto
(o famoso túnel de vento onde com o meu corpo, tu, experimentavas as
leis aerodinâmicas, e nunca, nunca conseguiste que eu voasse, e
confesso hoje, sem qualquer medo, que te mentia, porque nunca me
imaginei a voar, mesmo quando me ias buscar ao sono das noites das
madrugadas sem movimentos pendulares, olhavas-me, e eu), e sinto as
cancelas da noite a encerrarem-se depois de ela me despir e deitar,
Eu sonhava,
Ela desesperava,
Eles,
Cruzavam os braços em direcção ao pôr-do-sol, e
como o correio, só tínhamos pôr-do-sol duas vezes por semana, e
quanto a marés, essas, apenas três ou quatro vezes por mês, e
mesmo assim, éramos tão felizes, e mesmo assim éramos as gaivotas
embalsamadas que, também elas, só apareciam dez vezes por semana,
quando acordava o dia e quando a noite desaprecia
Em ti,
Como ainda hoje desaparecem todos os meus berlindes
de chocolate, como ainda hoje
Em ti,
Barcos de papel perdem-se no oceano teus seios de
amêndoa, flutuam como algas em desespero, levantam voo, abrem as
asas, e caem sobre as madrugadas filhas dos cortinados de Inverno,
barcos, perderam-se, no
Teus,
Oceano,
Seios de papel que as gotinhas da chuva deixam ficar
sobre as pétalas mortas, eu inseria a moeda na ranhura, ele
devagarinho começava a girar, e eu, aos poucos, sentia-me
envergonhado, redopiava, e de vómitos suspiros, girava e girava e
girava..., até que terminadas as voltas, e a duração da moeda,
estonteante, cambaleava, e ela ia buscar-me ao sono das noites das
madrugadas sem movimentos pendulares, olhavas-me, e eu
Percebia,
Que,
O carrossel tinha cessado os seus movimentos dentro
do corpo dela., como o mar, quando desiste de viver e suicida-se
contra os rochedos dos sexos recheados com insónia.
(texto de ficção não revisto;
qualquer coincidência com a realidade é pura ficção)
@Francisco Luís Fontinha
P.S.
(mamã, parti uma unha..., ai minha filha, valha-nos
Deus, valha-nos..., porque se ele descobre, se, amanhã, podes ter a
certeza que estamos sentadas no passeio junto à Marilú, a pedirmos
esmola, e depois, mamã, quem nos vai fazer as contas? Talvez, ai...
valha-nos Deus, talvez nos apareça outro palerma bom em matemática).
sábado, 23 de março de 2013
Negros pontos de Solidão
foto: A&M
ART and Photos
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Roubaste-me a noite e os espelhos do
meu quarto nocturno
transformas-te as luzes em pontos
negros de solidão
suspensos em árvores de Primavera
e sempre que uma janela se abre
um cinzento silêncio entranha-se em
ti,
Nunca percebi quem eras
e de que material eras constituída
nunca percebi se eras de pedra
ou de água sangrenta
dos rios doentes quando morre o luar,
Havia um cigarro suspenso no teu olhar
quando o comboio para Belém
desprendia-se do Cais do Sodré
e navegava entre esplanadas e pasteis
e putas
e chavalhos endiabrados como cavalos de
batalha,
Entravas na água salgada pelos ventos
em rochedos de insónia
e um imaginário corredor de prata
sombreava-te as nádegas e as coxas e
os seios
que a areia desenhava
e o mar engolia como morcegos dentro da
gruta húmida da tempestade,
Havia sempre noite
e sabia-te ensanguentada nas mortalhas
dos orgasmos infindáveis
que os poemas de AL Berto provocavam em
nós
olhávamos o rio e os barcos e a outra
cidade
quando se encolhia na neblina dos fins
de tarde,
E os cigarros morriam nas flores dos
jardins em plantio
às palavras pedíamos perdão
e sílabas de sabor adocicado como as
mulheres que dançavam sobre as mesas da noite
desciam em cordas de suor
até encontrarmos os beijos
prometidos...
(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha
Borboletas Mecânicas
Borboletas mecânicas incendiavam as fictícias
manhãs de Domingo, ainda por descobrir, emagrecidas pelas janelas de
ferro que o ferreiro plantou nas paredes da solidão na cidade dos
esconderijos, ouviam-se-lhes as letras dissimuladas em bocas
revoltadas, havia fome e havia candeeiros sentados em bancos de
madeira, tínhamos descido das árvores onde passámos os últimos
meses, confesso, que das borboletas não tinha medo, acordava a
noite, e aí sim, elas pareciam loucas, voavam em círculos, e
desenhavam quadrados e triângulos no silêncio das horas nocturnas,
mas como eram de chapa zincada, resistiam, e quando batiam de raspão
na parede de um prédio em ruínas, ouviam-se-lhes os ditongos
metálicos da pedra contra o metal, acordávamos, pensávamos que
tinham chegado os soldados com armas de paixão para nos protegerem,
mas afinal
Aram apenas os sons metálicos das borboletas
mecânicas, em flor, acabadas de nascer, e ainda mal percebiam os
princípios da aerodinâmica, algumas, deitavam-se das árvores e
batiam as asas e batiam, até se despenharem em pleno pavimento
granítico das calçadas em frente ao Tejo, um rio que deixou de
existir depois dos homens vestidos de negro terem invadido a cidade,
e com uma pasta de couro, aos poucos, todas as plantas cessaram os
seus movimentos nos jardins públicos e privados, e apenas uma ponte,
também ela metálica, resistiu, e ainda hoje nos ouve, quando
gritamos, quando acordamos, quando
É domingo,
Ainda não sabia o que eram crocodilos de areia,
tinha uma vaga noção do que era o capim que tanto se falava em
casa, mas dizer que tinha tido o prazer de deitar-me no chão, e
descer uma ravina até ir de encontro a uma pedra ou a uma árvore,
não, até então, nunca tinha tido essa estonteante experiência,
mas pensava cá para mim
Um dia vou experimentar,
As borboletas tinham-se tornado inquietas, nervosas,
e pareciam, não, não pareciam, eram, loucas, e os seus voos cada
vez mais simples e em linha recta, como as linhas traçadas nas
paredes pintadas de branco com a ajuda de um esquadro e de uma régua,
simples, tão simples, que
À noite não podíamos sair de casa, elas vagueavam
em desesperos e tínhamos medo dos golpes que as asas metálicas
podiam-nos provocar no corpo desobediente, quente, que tínhamos de
transportar até que chegava a manhã, e com ela, a claridade, e com
esta, elas adormeciam
Acreditas em árvores de pêlo comprido?
Eles não vinham, já o sabíamos, e não era
preciso grande alarido, porque sempre estivemos por nossa conta,
sempre sós, como os furtados cocos dos coqueiros, não
Um dia vou experimentar, e experimentei, e bati com
a cabeça numa tília com nervos em franja, rabugenta como uma
galinha, que em vez dos afamados chás das cinco, não, preferia as
drageias de carvão que o tio Augusto tinha trazido do antigo Congo
Belga, atravessava-se o rio, e do outro lado, suspenso numa vespa,
vagueava como um vadio, moribundo mendigo de quatro patas, como o
outro, de areia, crocodilo desde os tempos do meu aparecimento no
planeta terra, e um dia
De pêlo comprido?
Não,
E estúpidamente acreditava em árvores, e estas
acreditavam em mim, que acreditavam em borboletas mecânicas, em
pontes metálicas, em rios e cidades, e barcos,
E juro,
Nunca vi nenhum, não consigo descrevê-lo,
parecem-me objectos difíceis, distantes, complicados, parecem-me
pinturas de miúdos durante a noite, estes tais de barcos, e a
bailarina parece-me triste, magoada, talvez cansada, talvez
envergonhada, mas
Sim, Domingo,
(Ainda não sabia o que eram crocodilos de areia,
tinha uma vaga noção do que era o capim que tanto se falava em
casa, mas dizer que tinha tido o prazer de deitar-me no chão, e
descer uma ravina até ir de encontro a uma pedra ou a uma árvore,
não, até então, nunca tinha tido essa estonteante experiência,
mas pensava cá para mim)
Um dia vou.
(ficção não revisto)
@Francisco Luís Fontinha
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