sábado, 23 de março de 2013

Negros pontos de Solidão

foto: A&M ART and Photos

Roubaste-me a noite e os espelhos do meu quarto nocturno
transformas-te as luzes em pontos negros de solidão
suspensos em árvores de Primavera
e sempre que uma janela se abre
um cinzento silêncio entranha-se em ti,

Nunca percebi quem eras
e de que material eras constituída
nunca percebi se eras de pedra
ou de água sangrenta
dos rios doentes quando morre o luar,

Havia um cigarro suspenso no teu olhar
quando o comboio para Belém desprendia-se do Cais do Sodré
e navegava entre esplanadas e pasteis
e putas
e chavalhos endiabrados como cavalos de batalha,

Entravas na água salgada pelos ventos em rochedos de insónia
e um imaginário corredor de prata
sombreava-te as nádegas e as coxas e os seios
que a areia desenhava
e o mar engolia como morcegos dentro da gruta húmida da tempestade,

Havia sempre noite
e sabia-te ensanguentada nas mortalhas dos orgasmos infindáveis
que os poemas de AL Berto provocavam em nós
olhávamos o rio e os barcos e a outra cidade
quando se encolhia na neblina dos fins de tarde,

E os cigarros morriam nas flores dos jardins em plantio
às palavras pedíamos perdão
e sílabas de sabor adocicado como as mulheres que dançavam sobre as mesas da noite
desciam em cordas de suor
até encontrarmos os beijos prometidos...

(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha

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