foto: A&M
ART and Photos
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Roubaste-me a noite e os espelhos do
meu quarto nocturno
transformas-te as luzes em pontos
negros de solidão
suspensos em árvores de Primavera
e sempre que uma janela se abre
um cinzento silêncio entranha-se em
ti,
Nunca percebi quem eras
e de que material eras constituída
nunca percebi se eras de pedra
ou de água sangrenta
dos rios doentes quando morre o luar,
Havia um cigarro suspenso no teu olhar
quando o comboio para Belém
desprendia-se do Cais do Sodré
e navegava entre esplanadas e pasteis
e putas
e chavalhos endiabrados como cavalos de
batalha,
Entravas na água salgada pelos ventos
em rochedos de insónia
e um imaginário corredor de prata
sombreava-te as nádegas e as coxas e
os seios
que a areia desenhava
e o mar engolia como morcegos dentro da
gruta húmida da tempestade,
Havia sempre noite
e sabia-te ensanguentada nas mortalhas
dos orgasmos infindáveis
que os poemas de AL Berto provocavam em
nós
olhávamos o rio e os barcos e a outra
cidade
quando se encolhia na neblina dos fins
de tarde,
E os cigarros morriam nas flores dos
jardins em plantio
às palavras pedíamos perdão
e sílabas de sabor adocicado como as
mulheres que dançavam sobre as mesas da noite
desciam em cordas de suor
até encontrarmos os beijos
prometidos...
(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha
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