Das raízes dos teus olhos, há o vento campestre,
triste, e ausente, há as campânulas de silêncio embainhadas nos
sabres lentos da insónia, há, havia ontem palavras por escrever,
escritas depois da montanha em sonolência começar a descer, a
descer, a descer como descem os corpos embalsamados que poisam nos
jardins sem secretismos lábios em beijos, ou
Os nossos delírios anseios,
Os bolos de chocolate sobre a mesa na sala, deixamos
de ter iluminação artificial, por opção própria, a mesa espera
pacientemente pelo regresso dos convidados ossos com chapéus de
pólen, uma criança, a filha da Alice, insignificante sorriso com
espinhas e restos de morango, ela dança, ela está alegre, e porquê?
Apenas
Talvez
Ainda não percebi se o faz por ser louca,
indesejada, ou, ou porque amanhã vai receber das mãos do tio
Augusto um livro de COLETTE “GIGI”, está lindíssima a mulher da
capa a olhar para as janelas? Da cidade em desalinho, a elegância
das palavras, dos sons, dos automóveis camuflados de ervas daninhas,
(não sei se conseguirei sorrir depois de ler o
jornal)
Uma tristeza em desenhos alicerça-se no meu peito,
uma mulher com cabelo preto e lábios elegantes, lança-me um corda
com inúmeros nós, muitos, infinitos, como os anzóis que o rio come
e depois acordam debaixo das pedras pintadas de fresco
“CUIDADO – PINTADO DE FRESCO”
Distraidamente, sempre eu distraidamente, sento-me
no alegre banco de jardim acabo de nascer, as ripas de madeira como
se existisse entre eu e elas um pedaço papel-químico,
transportam-se para as minhas agastadas calças de ganga,
velhíssimas, e robustas, como os petroleiros que atravessam o Tejo e
depois acabam por se esconder num qualquer bar de uma ruela
inconsciente da Lisboa perdida numa simplificada folha de papel,
queixavas-te dos sons nocturnos das asas em voos rasantes das
gaivotas embrulhadas em fome, sede, e falta de dinheiro,
Ouviam-se os sucessivos suicídios dos cigarros de
enrolar contra os rochedos,
Como as árvores quando desistem de viver,
“CUIDADO – PINTADO DE FRESCO”, (NÃO SEI SE
CONSEGUIREI SORRIR DEPOIS DE LER O JORNAL), e ela acredita na
ressurreição,
GIGI olha-nos, GIGI grita-nos, GIGI deita a cabeça
no teu colo construído de verdes e iluminados pensamentos como uma
candeia a petróleo que encontramos dentro da parede da cozinha,
quando, alguns meses antes da nossa partida, no interior da espessa
parede de xisto ela esperava pelo teu sorriso, e pergunto-me
Porque todos e todos necessitam do teu sorriso
apenas meu? (saberá uma rosa o que é o amor e o quanto ele é
fodido?), e
E,
(Das raízes dos teus olhos, há o vento campestre,
triste, e ausente, há as campânulas de silêncio embainhadas nos
sabres lentos da insónia, há, havia ontem palavras por escrever,
escritas depois da montanha em sonolência começar a descer, a
descer, a descer como descem os corpos embalsamados que poisam nos
jardins sem secretismos lábios em beijos, ou), ou GIGI
transformar-se-á em estrela de luz com olhos de papel de muitas
cores, ou, eu, com mandíbulas de aço inoxidável roubo a lua
Ofereço-te-a,
Ou
E,
Peço aos trapezistas das noites ausente de ti, e
procuro-me dentro do teu corpo liquefeito, que a fórmula da paixão
escreve-se nos muros finos e altos entre os edifícios da cidade
velha, há ruas com reumatismo e ensonadas com pingos de asma, há
ruas com dores diversas nos diversos ossos em diversas noites, de
diversos dias, quando as semanas se escoam como líquidos
termodinâmicamente estáveis, e sinceros na esbelteza das asas de
cartolina de uma mulher escondida numa das ruas anteriormente
descritas, como as ratazanas, e há ruas como há pássaros, há
crianças como há cadáveres, na minha nossa velha cidade com
telhado de areia,
E procuro-me no interior de um círculo de coxas com
cubos de púbis, geometricamente a manhã acorda só para nós, mas
ambos sabemos que a falsidade habita no exterior de uma janela de
vidro, sobre um telhado de zinco, no quinta juntamente com pedaços
de capim, húmidas pedras em húmidos orgasmos entre as palavras e os
desenhos pintados nos teus seios de amêndoa,
Ou
E,
“CUIDADO – PINTADO DE FRESCO”,
(E procuro-me dentro do teu corpo liquefeito, que a
fórmula da paixão escreve-se nos muros finos e altos entre os
edifícios da cidade velha, há ruas com reumatismo e ensonadas com
pingos de asma, há ruas com dores diversas nos diversos ossos em
diversas noites, de diversos dias)
Como o amor das rosas em papel.
(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha