(a factura: é em seu nome ou em nome
do burro?)
Não esqueço
sábado à noite vou entrar em ti
escrever nas tuas entranhas vísceras
de primavera
o silêncio
com pingos de chuva
não esqueço
escrever
e as gajas de incenso
mergulhadas no papiro húmido da manhã
sem acordarem
vivendo viver o sofrimento amor
não amando
amar
escrever
nas gajas de incenso
as palavras de encantar
que os barcos de sábado à noite
encalham na areia fina dos testículos
que dos tectos descem
os minguados tropeços de saliva
há na boca dele
ela entre parêntesis
abraçada ao ponto final
travessão
vírgula repetição paragem cardíaca
ao pequeno-almoço
vírgula
ponto
paragrafo ordinário na tua mão não
esquecendo
o calendário
vírgula
ponto final obrigado pela vossa
presença
amanhã será outro dia
não esqueço sábado à noite vou
entrar em ti
repartir-te em pedacinhos
palavra por palavra
letra por letra
sílaba por sílaba
não esqueço
sábado
quando as fotografias acordarem e
dentro de ti eu
absorto
voando nas tuas vísceras entranhas
cavidades
de primavera
a primeira classe das florestas virgens
absoluto em zero complexo tu eu nós os
três pássaros da miséria
absorto
a primeira música no primeiro poema do
primeiro desgosto de amor
não vieste desististe partiste dentro
do oceano tua solidão
sábado
esperarei por ti
debaixo da ponte
trago os cigarros a corda de nylon e
uma gaivota de esperma
e sei que nas tuas coxas
sábado
os cigarros
míseros sofrimentos que a noite
constrói em folhas de papel...
(poema não revisto)
@Francisco Luís Fontinha
Alijó