Há dentro de ti
um fluido hidráulico que
corre como um rio
alimenta os teus braços
as tuas pernas
os teus ossos engomados
pela complexa geada da
noite
tens luzes na tua boca
silenciosa
que esconde madrugadas
flores amassadas
incêndios de esperma
janelas encerradas
que não te deixam ver o
mar
há dentro de ti
um jardim de terra
queimada
capim
mangueiras cobertas de
sonhos
e de papagaios de papel
há em ti a literatura
verdejante que as mãos do diabo despenharam contra os rochedos da
lua
há um homem cego
dentro de ti que habita a
paixão
capim
zinco que rodeia a cidade
há uma canção
à espera da tua voz
poética e que a chuva miudinha mastiga
e sofre
e engole
manhãs de ti dentro do
perfume da maré
caiem docemente as
partículas do sono
sem fé
que os teus lábios
consomem na lareira do ciúme inventado por um louco
e pouco
muito pouco posso
escrever dentro de ti
a não ser
olhar-te como um rio
que corre
e caminha o teu fluido
hidráulico que traz a insónia em pedacinhos de cereja...
(poema não revisto)
@Francisco Luís Fontinha
Alijó
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