quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

todos os dias

foto de: A&M ART and Photos

todos os dias acordo imaginando viver nas minhas mãos a tempestade nocturna dos perfumes invisíveis,
todos os dias vejo a escuridão das manhãs envergonhadas,
sós, fingindo sofrimento e geadas,
todos os dias as palavras inaudíveis,
os néones vestidos de cansaço sobre a ponte de aço,
todos os dias acordo imaginando...
a saudade, a morte à janela sonhando,
todos os dias a louca cidade,
quando procuramos um simples abraço,
e da maré vem a mim o disfarce da melódica canção de adormecer...
todos os dias não consigo rezar,
não o sei,
e não o faço...
por não acreditar,
porque sou um esqueleto filho do mar,
todos os dias viajo na tua simples calçada,
desço a rua,
sinto-te descalça, vaiada...
todos os dias sei que crescem os pássaros sobre os teus cabelos de maré...
eu sem fé,
tu... tu perguntas-me todos os dias,
e não o faço,
por não acreditar,
porque desejas o céu quando a lua tem luar?
porque desejas as sílabas encarnadas?
se o amanhecer tem cor, tem fome... tem... todos os dias o teu nome,
todos os dias as janelas cerradas.


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quarta-feira, 19 de Fevereiro de 2014

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

teu beijo... meu amor

foto de: A&M ART and Photos

tenho medo das pedras sem coração
dos pássaros invisíveis
tenho medo da insónia adormecida em esqueleto de solidão,
tenho medo do cansaço
dos seios escritos no tronco de uma árvore envelhecida
dos rios com boca de abraço,
sim tenho medo da madrugada
da saudade louca do livro por escrever
medo medo medo... medo da tempestade com pálpebras de menina mimada,
tenho medo às tuas mãos de porcelana
do corredor em labaredas começadas por dor
e terminadas na cama,
tenho medo das pedras sem coração
dos corpos infinitos vestidos de desejo
medo do medo... sim tenho medo das palavras da canção,
tenho medo das límpidas vozes irresistíveis
dos lençóis envergonhados quando os teus lábios são madeira ressequida
tenho medo de envelhecer
medo de transformar-me em flor...
… e medo medo e medo do medo do medo teu beijo
teu beijo... meu amor.


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Terça-feira, 18 de Fevereiro de 2014

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Pétalas de beijos

foto de: A&M ART and Photos

A vida não cessa
o corpo masturba-se num folheado metálico de beijos e pétalas de beijos
as mãos invadem a noite rompendo os cortinados do medo
as lágrimas do teu rosto caem sobre o soalho da insónia
gritas o meu nome
escreves-me nas sombras infelizes das estrelas sem liberdade
e eu sem o saber... adormeço sobre os rochedos da tempestade
a mesma que habita no teu peito,

A vida não cessa
corre
chora
brinca... brinca sobre uma corda de nylon com sabor a solidão
a vida acorrenta-se ao corpo
aprisiona-o como se aprisionam os lábios do teu silêncio
e quando me abraças
sinto o teu corpo como uma folha em papel branca insípida distante das palavras que escrevo.


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Segunda-feira, 17 de Fevereiro de 2014