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quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

cinzas ruelas o amor

foto de: A&M ART and Photos

as cinzas em ruelas
misturam-se no teu dúctil corpo de silício castanho
sei que deixaste de me ouvir depois das ferrugentas pontes de solidão dormirem nos teus lençóis de adormecidas nuvens brancas
senti pela primeira vez a dor
o sofrimento...
… o medo de perder as palavras que um dia deixarei para ti sobre a lápide do desejo
as cinzas
vão voar sobre os cortinados de nylon como cordas que aprisionam barcos às cidades de madeira
as cinzas
espalha-se sobre as tuas peugadas
vozes e lábios de cetim nas amoreiras janelas dos habitantes do jardim onde nos sentávamos...
… e dormíamos como sonâmbulos esqueletos apaixonados.


(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quinta-feira, 5 de Dezembro de 2013

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Que fazem os lobos na minha cidade?

foto de:A&M ART and Photos

Sei que me esperam a cada esquina da cidade, existem placas sinaléticas com o meu nome espalhadas pelas imensas ruas da cidade, obedeço e descubro que sou filho da cidade, obedeço e descubro que vivo clandestinamente na cidade, oiço-os, sinto-os galgarem os gradeamentos dos quintais de arame, sei que são eles porque o cheiro que chega a mim diz-me que são ele e pergunto-me
Que fazem os lobos na minha cidade?
Espero impacientemente o eléctrico para Belém, entre o vir e o desistir, eu ganho-lhe e antes que ele venha... desisto, começo trôpegamente e arrefeço e começo a extinguir-me conforme as sombras que a cidade constrói nas janelas envidraçadas dos táxis embriagados quando saem dos bares de Cais do Sodré, sinto-me não sentir as mãos que me acompanham, sinto-me vaguear como um louco nas cânforas lâmpadas dos candeeiros cintilantes da noite sem sucesso, oiço-os e tenho-lhes medo
Pergunto-lhe e ela responde-me que
Os lobos são filhos da cidade...
Eu paro e repentinamente imagino-me também um lobo, pois sou filho da cidade, pois... logo sou um lobo, solitário, vegetariano procurando os velhos quintais que aos poucos vão morrendo nos arredores da cidade, sinto-me voar sobre os meninos e meninas que brincam nos parques infantis, sinto-me voar sobre os lobos que fazem amor nas fina areia da praia, também ela
Filha da cidade,
Mãe dos lobos, minha mãe, sinto-me perdido dentro de um fino buraco que uma dessas crianças que brincava na areia fez, começo a descer, começo a acariciar-lhe as coxas encostas dos socalcos mergulhados no Douro, sinto-me a entranhar-me nos seios do pôr-do-sol quando há muito partiram as crianças que fizeram o buraco onde me encontro aprisionado, grito pelos lábios do desejo, e sinto a minha mão abraçada à cannabis língua dos soluços depois de acordarem os orgasmos do fumo transversal que também como eu, voam sobre a cidade, que tal como eu
Filhos da cidade,
Sinto os lobos vergarem-se quando o vento sussurra ao ouvido do púbis em cio, a cidade embrulha-se no clitóris da saudade, há momentos de silêncio, há solidões disfarçadas de insónia e mesmo assim, eles, dizem, que,
Ele... filho da cidade
Ele... irmão dos lobos e filho da praia,
Desisto do eléctrico, vou dançando pelas pedras das calçadas e eu descalço, e oiço-os, e oiço-os como martelos pneumático salpicando carne em sexo nas ruelas mal iluminadas, finjo-me de morto, finjo-me de sonâmbulo e eles abandonam-me dentro do cobertor dos sonhos, desisto do eléctrico, desisto dos corpos graníticos dos jardins de pedra, e sobrevoo como uma gaivota desnorteada o teu cabelo de papel com bolinhas encarnadas,
Ele... filho da cidade
Ele... irmão dos lobos e filho da praia, e sei que me esperam a cada esquina da cidade...


(não revisto – ficção)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Segunda-feira, 11 de Novembro de 2013