domingo, 28 de abril de 2019

O poema


Hei-de escrever-te um poema,

Numa tarde de Domingo,
enviá-lo pelo melro amigo,

Deste meu jardim recheado de palavras,

Hei-de escrever-te um poema,

Guardá-lo na algibeira,

Enquanto não regressa o melro amigo.

Hei-de semear uma bandeira,

Na tua mão de alecrim,

A bandeira do meu País…

Que vive a morte assim;

Uns são presos,

Outros, corruptos,

Outros nada são,

Só no meu País…

País do meu coração.

Hei-de escrever-te um poema,

Lindo de morrer,

Poema que vai aquecer,

O teu corpo de menina.

Hei-de escrever-te um poema,

Que um dia vai pertencer,

Ao livro da saudade,

Antes de eu morrer…

Hei-de escrever-te um poema,

Levar a espingarda,

E com o meu amigo melro,

Descer a escada,

Que dá acesso ao mar.

Levo a bandeira,

Levo a espingarda de papel…

Um dia vou,

Vou escrever-te um poema,

E assinar,

Ofereço-te a bandeira,

Ofereço-te o meu amigo melro…

Mas eu fico com o poema.

 

 

 

 

Francisco Luís Fontinha

28/04/2019

sábado, 27 de abril de 2019

Noite


Um fio de luz,

Desce o teu corpo,

Tens na algibeira o livro da nova poesia,

Que um dia, vai aportar na tua mão.

Trazes nos lábios o sabor da cereja bravia,

Cansada de correr,

E um dia,

Junto ao mar,

Vai morrer.

Trazes nos cabelos a luz da madrugada,

Negra,

Sem perceber,

Que a paixão,

Um dia, que a paixão um dia vai adormecer.

Trazes na boca a loucura,

As tâmaras apaixonadas da Primavera,

Toco-te, e acaricio-te…

E da minha mão,

Brotam toneladas de palavras.

São rosas,

São gladíolos…

São jardins em construção…

Como vampiros.

 

Um fio de luz, no teu olhar.

 

Serve-me.

 

Inspira-me.

 

Enquanto desce a noite nos teus seios…

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

27-04-2019

sexta-feira, 26 de abril de 2019

O circo


Sou filho da noite.

Sempre adorei a noite, onde vivem as palavras e os amores proibidos,

Ou impossíveis,

Ou amores inanimados.

 

Quando criança, brincava com aviões em papel,

Papagaios em papel,

Barcos de esferovite,

Com motor.

 

Sempre me lembro desalinhado com os momentos passados,

Tristes, alguns,

Alegres, outros,

E adorava, adoro, o circo.

 

Hoje, temos cá o circo,

Sempre foi o meu sonho fugir com um circo,

Viver de noite,

Andar de terra em terra.

 

Apaixonado pelas árvores.

Pelos palhaços,

Trapezistas

E outros malabaristas.

 

Os últimos já existem na política,

Temos malabaristas a mais,

Todos formavam uma grande companhia de circo…

O circo da merda.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

26/04/2019