domingo, 25 de março de 2018

O silêncio amanhecer


Podia ser o mar,

Suspenso no teu corpo amanhecer,

Na palavra escrita, o silêncio amar,

Que grita,

Após a partida da alvorada.

O poeta embrulhado no escrever,

Como uma amante,

Que das lágrimas de chorar…

Não consegue ver,

Nem sente,

O silêncio escurecer.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 25 de Março de 2018

sábado, 24 de março de 2018

Sonâmbulo das cavernas


Esta melancolia, aprisionada na tua mão, meu amor,

Esta triste despedida,

Na calçada sofrida,

Quando o beijo esvoaça na fogueira prometida.

O sangue frio do massacre, lá longe, na sanzala, os perdidos cabelos de Primavera,

Quando a fala,

Quando o silêncio do teu sorriso,

Perde o juízo,

Sonâmbulo das cavernas, no limiar da pobreza,

A bela,

A bala na cabeça de um canhão,

E tu, meu amor,

E tu meu amor procurando a sombra do coração,

Desisto.

Insisto,

Desisto da tua fotografia esbranquiçada,

Na sala malvada,

Insisto no pôr-do-sol ao final da tarde,

Saio de casa,

Procuro-te no arrozal,

E finjo ser um poeta, e finjo ser a fogueira que arde…

Sobre ti, meu amor, sobre ti.

O miúdo com a fralda de fora,

Da praia regressa o secreto amor,

Aqui mora,

Habita a mais bela flor,

Que o meu quintal acolhe,

A sede,

O molhe,

As rochas envenenadas pela madrugada,

Sofre, descansa, abraço-te minha amada,

Que toda a vida teve.

Eu vi, quando acordei,

A esplanada do amanhecer,

Sabes, meu amor,

Chorei,

Cansei da vida sem prazer,

Respirar,

E morrer.

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 24 de Março de 2018

quarta-feira, 21 de março de 2018

Fotografia


(21 de Março, dia Mundial da Poesia)

 

 

 

Tão singela a porcelana do teu rosto,

Boneca de trapos, entre livros e plátanos,

Entre farrapos e palavras adormecidas,

Que só o vento sabe esquecer.

Tão magras as tuas mãos sapientes,

Quando tocam a minha face de xisto,

Grito, grito…

Existo!

Tão melódica a tua voz de cantadeira,

Quando o mar sobe a calçada,

E traz no ventre a despedida,

Triste, amargurada.

Dentro do parêntesis da madrugada,

A simplicidade do teu sorriso,

Tão simples o teu desejo,

Quando o beijo, enraivecido, se abraça à noite,

Tão simples o teu cansaço,

Nesta terra de ninguém,

Alguém,

Quase nada,

Perdido no espaço.

Tão singela a porcelana do teu rosto,

Quando a alegria parte, morre…

E poisas eternamente numa fotografia.

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 21 de Março de 2018