domingo, 20 de novembro de 2016

Incertezas


Não sei o que fazem estes pássaros desajeitados no meu quintal.

A pobreza tomou conta deles,

Adormece-os enquanto não regressa a noite

E a doçura da paixão sobrevive ao luar,

Alimentam-se do meu cansaço que vive desassossegado na minha mão,

Insiste na nobreza do espaço,

Inventa tempestades de açúcar

Como se fossem nuvens em papel.

O sono é um livro de despedidas,

Palavras à solta nos socalcos da solidão,

O prazer construído na cidade invisível

Que imagina horários abstractos e doentes…

Não sei,

Não sei o que fazem estes pássaros desajeitados no meu quintal.

 

 

Francisco Luís Fontinha

20/11/2016

quinta-feira, 17 de novembro de 2016

vozes


vozes

a camuflagem nocturna da paixão

nos meandros do sono anunciado…

os gritos

o subscrito lacrado

que o Doutor recebeu

do dependurado luar

enquanto escrevia

viu

viu o milagre acontecer

desceu as escadas

começou a escrever

sem recordar o espelho que envelheceu

numa tarde de Outono… mais adiante

lembrou-se da corrente

que trazia suspensa no pescoço

morreu

e via

as madrugadas

e a estrela que lhe mente

quando as vozes

vozes

adormecem no caixão

da paixão

vozes…

nas profundezas do poço

que o corpo não sente.

 

 

Francisco Luís Fontinha

17/11/2016

sexta-feira, 11 de novembro de 2016

Amoradas


Viajo entre linhas sombreadas

e nortadas,

corpos falidos,

corpos doentes,

palavras enfeitadas de tristeza

nas profundezas da solidão,

viajo entre linhas afogadas

nas defuntas madrugadas,

quando o silêncio morre…

quando o silêncio parte para outras moradas,

a triste fotografia do teu olhar,

a simples canção fundeada no porto da saudade…

um poema inventa-se

e corre

e morre nas amoradas

das simples palavras,

oiço-as,

oiço-as quando dos livros acordam as personagens da noite quebrada

e elas partem para o infinito amor…

sem perceberem a razão de viver.

 

 

Francisco Luís Fontinha

11-11-2016

sábado, 5 de novembro de 2016

Este medo que me vai matar


Do silêncio do sono

as amoras silvestres do destino,

do silêncio menino

as pálpebras quebradas da solidão

que só o sofrimento alimenta

em noites de traquinice…

a velhice,

enfeitada de clarão,

descendo a calçada cinzenta

que vive na cidade sem tino…

sentindo a voz que alenta

os cigarros da escuridão.

 

 

Francisco Luís Fontinha

sábado, 5 de Novembro de 2016

terça-feira, 1 de novembro de 2016

Alvorada


Odeio a alvorada

em descidas bruscas

quando oiço no longínquo amanhecer

o cantar dos pássaros,

regressa o silêncio,

ergue-se a morte do esconderijo da montanha

sem que tu percebas o significado de envelhecer…

odeio a alvorada

no meu pulso transversal

escrito no quadriculado papel da ausência,

e da loucura do teu olhar

que também odeio

aparecem as imagens prateadas do sono…

odeio a alvorada

em descidas bruscas

no alpendre tua solidão,

a seara arde,

a centeio aconchega-se no teu colo

como uma criança perdida,

desorientada

e triste,

odeio,

odeio a alvorada

que traveste o teu sorriso de grinalda

quando lá fora chove torrencialmente,

a as lágrimas são pedacinhos de sombra

galgando o areal,

odeio a alvorada

em descidas bruscas

quando oiço no longínquo amanhecer

a pobreza de viver,

e não sentindo…

sentir o sofrer.

 

 

Francisco Luís Fontinha

terça-feira, 1 de Novembro de 2016