quarta-feira, 7 de setembro de 2016

A tempestade da saudade


Os cabelos negros

Poisavam na tempestade da saudade,

Uma rocha adormecia na tua mão

Vinda do longínquo oceano…

Insaciável, indiferente à liberdade

Das cidades ardidas,

Os cabelos negros…

Em réstias de silêncio

Camuflados pela madrugada das sonâmbulas palavras,

Um cigarro abandonado,

Triste como eu…

Sentado nos teus lábios de chocolate,

Ele caminha e sente

O perfume da solidão

E os candeeiros da insónia…

Mas a liberdade… nunca morrerá,

Nem desaparece…

Dos finais de tarde junto ao rio,

Os cabelos negros

Poisavam na tempestade da saudade…

E me diziam que amanhã

Nascerá um poema no teu corpo,

Em revolta,

Na lâmina fina e húmida da felicidade…

Ele morrerá,

Ele morrerá acorrentado ao estrado do sono…

E só acordará…

Nas lágrimas dos cabelos negros.

 

Francisco Luís Fontinha

quarta-feira, 7 de Setembro de 2016

sexta-feira, 2 de setembro de 2016

Fotografia


Sobre a poeira adormecida,

Deito o meu corpo putrefacto,

Cansado da escuridão,

Sobre a poeira esquecida,

Caminho inventando ruas…

E solstícios de solidão,

Sobre a poeira da vida…

Os míseros sorrisos do amor,

Que invadem na noite o meu coração,

Sobre a poeira emagrecida,

Sinto o teu corpo em papel…

Ardendo na fogueira minha mão,

Sobre a poeira ardida…

Os meus braços de xisto algemado…

Galgando as planícies do Verão.

 

Francisco Luís Fontinha

sexta-feira, 2 de Setembro de 2016

segunda-feira, 29 de agosto de 2016

Poema em cio


Desesperadamente

as minhas palavras

coladas no vidro da morte

em pedacinhos amargos

a boca do poema

em cio

mergulha ele dentro do silêncio

no desejo dos barcos entre as estrelas de papel

e a noite de fingir

assisto ao fim da noite

quando das vaginais madrugadas

ouvem-se os uivos das acácias em flor

 

desesperadamente

as minhas palavras

nos meus pequenos desejos de silêncio amargo

caminhar dentro do mar

antes de acordar o pôr-do-sol

 

dos vidros da morte

as minhas mãos em crustáceos de glicerina

os cogumelos da vaidade em sombras sibilas

e a laranja do amor

aos poemas loucos

as migalhas do aço inoxidável

nos olhos do deus do cio

desesperadamente

 

(desesperadamente

as minhas palavras

coladas no vidro da morte)

 

e a morte vive no meu corpo

desde o dia que acordei poema em cio

e todas as janelas da poesia não tinham visibilidade para o mar

e todos os barcos

e todos os barcos ouviam-se dentro das estrelas de papel...

 

 

Francisco Luís Fontinha

segunda-feira, 29 de Agosto de 2016