segunda-feira, 14 de setembro de 2015

Cúbicas madrugadas


Oiço a madrasta voz da clarabóia em flor,

Sento-me sobre o fio da saudade,

Sinto-te nos meus braços… em cúbicas madrugadas,

Imagino os teus beijos flutuando na cidade,

Sinto nos meus braços o cansaço do amor

E a equação da liberdade,

Amanhã não haverá barcos enforcados,

Amanhã não haverá marés amordaçadas…

Oiço a madrasta voz da clarabóia em flor…

Entranhada nos poemas degolados

Pela caligrafia invisível do silêncio amanhecer,

Apaixonada?

Não… não há paixão neste corpo a arder

Nem fogueira neste peito desolado,

Amanhã haverá um esqueleto prensado,

Amanhã haverá uma mão no teu rosto espelhado…

Com medo de sofrer,

Com medo de partir para a longínqua noite das palavras por escrever.

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Segunda-feira, 14 de Setembro de 2015

domingo, 13 de setembro de 2015


Francisco Luís Fontinha - Setembro/2015

Beijos de pergaminho solar



(desenho de Francisco Luís Fontinha – Setembro/2015)
 
 
Escondo nas tuas pálpebras o meu beijo de pergaminho solar,
Acendo o dia ligando o interruptor do sonho,
Danço sobre ti inventado cubos negros, sem porta de entrada,
Sem janelas…
Sem madrugada,
Escrevo-te sabendo que estás morta,
Que caminhas sobre a areia luminosa da manhã,
Que me abraças sabendo eu que nunca me abraçaste,
Olhaste…
Ou.. ou me hipnotizaste entre quatro cadeiras velhas em madeira,
Estou aqui, eu e eu, dois cadáveres sem rumo,
Apaixonados pelo silêncio,
Escondo nas tuas pálpebras a minha língua que acaricia a tua solidão,
Não tenhas medo, meu beijo de pergaminho solar…
Não tenhas medo da cidade, dos homens da cidade, e das sombras da cidade,
Imagino-te subindo a montanha do desejo,
Trazes em ti o medo de amar,
Transportas as tulipas em papel que nos esperam num quarto de pensão,
Poisa-las sobre a mesa-de-cabeceira,
Olhas-me,
Sentas-te na cama…
E beijas-me como se eu fosse uma sílaba embriagada descendo uma qualquer calçada,
Amanhã, amanhã meu beijo de pergaminho solar,
Amanhã estaremos sentados nos rochedos dos Oceanos prateados,
Tão velhos, meu beijo de pergaminho solar, tão velhos que adormecemos como dois pássaros, sem idade, como dois pássaros entranhados no luar,
Amanhã, amanhã olhas-me,
Dizes que não me conheces,
Que eu sou um desenho louco,
Um palhaço sem Pátria,
Como sem Pátria são todos os beijos de pergaminho solar…
 
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 13 de Setembro de 2015