sábado, 30 de maio de 2015

Sítios & sítios


Este sítio está morto

E mortas se sentem as minhas palavras

Este sítio deserto

Amargo

Incerto

Está morto

Cansado

Este sítio está morto

Este sítio é um rochedo de insónia

Estampado no rosto do amanhecer

Este livro

Este sítio

 

Mortos

Mortas

Incertas

Certas

Certas noites me ignora

Certas noites

Não muitas

Chora…

 

Este sítio em constante sofrer

Quando o corpo range como os gonzos da madrugada

Não há sorrisos

Não há gestos

Certos

Incertos

Sítios

Mortos

Vivos

Homens

Esqueletos

De vidro

 

E se partem

E se partem

Todos os sítios mortos

Não mortos

E vivos…

 

Vivos

Mortos-vivos

 

E sítios… sítios amargurados.

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sábado, 30 de Maio de 2015

sexta-feira, 29 de maio de 2015

Pincelado “adeus”


Do movimento pendular do sono

Oiço as tormentas sombras do teu silêncio olhar,

Perco-me no ondular medo que a equação da dor

Constrói numa velha ardósia,

Na rua sinto os automóveis esfomeados

Descendo calçadas,

Subindo escadas,

E chegando ao sótão…

As migalhas do sonho

Embrulhadas em velhos jornais,

Teias de aranha

E…

 

Nada mais,

 

Nada,

Mais,

 

Como ontem,

 

E lágrimas embalsamadas pelo relógio nocturno da miséria,

Abro a janela

E durante a noite o mar fugiu,

Como fogem as andorinhas

Em cada final da Primavera…

Sem um pincelado “adeus”,

 

Ou o regresso do mar à minha janela.

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sexta-feira, 29 de Maio de 2015

quinta-feira, 28 de maio de 2015

Arcadas em flor


Podíamos falar da vida,

Podíamos recordar aquilo que se perdeu no tempo,

Algures no Oceano,

Podíamos falar…

Podíamos brincar

Nas palavras

Como fazíamos na sombra da seara dos olhos negros,

Podíamos,

Algures,

Hoje,

Amanhã…

Amanhã não o sei,

 

Se o teu álbum de fotografia sorri para mim,

É tão difícil desenhar-te um sorriso,

Meu amor,

Podíamos,

Podíamos brincar no Tejo com barquinhos em papel,

Papagaios coloridos…

Voando,

Voando,

Voando até se abraçarem no luar,

Podíamos sonhar,

E hoje,

E hoje não sonhos,

 

Nem Primavera,

E hoje

E hoje podíamos brincar no silêncio das arcadas em flor,

Apelidavam-nos de loucos,

Dois loucos que deixaram de poder,

Brincar,

Voar,

Sofrer

Ou deixar a planície entrar nas nossas mãos,

E podíamos,

Amanhã,

Ontem,

 

Mas hoje…

Não podemos falar da vida,

Não temos vida,

Palavras,

Sonhos

E migalhas,

 

Como se fossemos dois cadáveres putrefactos ao pôr-do-sol…

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Quinta-feira, 28 de Maio de 2015