segunda-feira, 21 de abril de 2014

Luar


Hoje, tu, não estavas,
provavelmente tinhas partido, sem uma carta de despedida, sem um desenho esquecido na parede do quarto,
percebi que os nossos lençóis não tinham o teu perfume,
olhei o espelho do guarda-fato... e apenas uma poeira de néon, nada mais...
o teu rosto das noites imaginárias tinha voado,
abri a janela... e pareceu-me ver o teu corpo naufragado, sem voz, sem pétalas azuis,
hoje, tu, hoje tu não estavas,
e o meu relógio de pulso não cessou de girar... girar, girar... como eu, em volta do Luar.


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Segunda-feira, 21 de Abril de 2014

domingo, 20 de abril de 2014

fui...


fui...
nos pedacinhos invisíveis da lanterna da solidão
fui percorrendo todos os corações de areia que habitam no teu peito
fui...
fui... fui o regresso adiado

fui...
marinheiro envenenado pela escuridão da insónia
saltei a janela que aprisionava os meus braços
fui...
fui sem saber que um dia deixaria de ter mãos

fui...
fui um dia de chuva miudinha
sentei-me sem saber que existiam esconderijos disfarçados de manhã
fui...
fui... fui um emaranhado de lágrimas esperando o amanhecer.


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 20 de Abril de 2014

olhos de naftaleno...


a espuma em pálpebras de cianeto
o relógio suspenso entre o sono e a madrugada construída de esferas metálicas
a chuva miudinha entranha-se no corpo da serpente de chapa
enrola-se na sinfonia do teu olhar...
e descansa
dorme
e sonha com as sandálias do amanhecer
eu procuro-te na imensidão da escuridão nocturna do perfume

tu disfarçada de árvore e apenas em ti poisam gaivotas ensonadas
a espuma embainha-se nos teus seios floridos
há palavras inaudíveis no teu sorriso
há cansaços desgovernados vestidos de barcos
prostitutas com coração de marinheiro
e candeeiros em braços de lentidão
o amor fuma cigarros com poemas de cartão
e tu pareces a ponte iluminada da paixão

o amor é uma parvoíce
como todos os poemas que escrevo
como todas as palavras que grito...
a espuma é o teu corpo em pedaços de retracto
imagens simples
tristes
o amor é a noite desconexa
com olhos de naftaleno...


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 20 de Abril de 2014